Nada faz mais bem a Lula que a candidatura Moro

Há gente – quase todos na direita – que acredita que a exposição dos casos da Lava Jato na campanha eleitoral será um sério problema para a candidatura do ex-presidente Lula.

Não penso assim, sobretudo depois da decisão de Sérgio Moro em candidatar-se a presidente.

Se alguém pudesse ainda duvidar que o juiz que condenou Lula tinha interesses políticos – era parcial, portanto – e não se convenceu disso com a ida para o governo Bolsonaro, dificilmente poderá responder ao fato de que, do dia para a noite, ele vire candidato a Presidente e ainda “de quebra” rebocando a candidatura do promotor do caso (Deltan Dallagnol) junto.

Moro candidato é a certidão em cartório de que o processo era político.

Anulados os processos ou absolvido – embora se vá fazer malabarismos para dizer que o ex-presidente não é inocente, como se houvesse outra categoria diferente desta ou de “culpado” – a questão passa a ser: quem deve pagar por manter alguém 580 dias preso por uma sentença, afinal, anulada?

Moro estaria disposto a cumprir 20% disso e passar 140 dias na cadeia pelo seu deliberado erro judicial? Não é assim o “fez, tem de pagar”?

O caso Lula é a trama que os roteiristas de cinema pediram aos céus e não aposto um Tostão que logo, logo, a biografia do ex-presidente, escrita por Fernando de Morais, vire filme.

Não creio que essa será a linha da campanha de Lula, até porque ele se firmará como o candidato que tem condições de enfrentar a crise e é este o eixo que adotará. Mas vai ficar pronta, na gaveta uma bateria possante para enfrentar a novaexploração dos casos de Curitiba.

Primeiro, haverá uma salva de “direitos de resposta”: afinal, Lula é um homem livre e que nada deve à Justiça. Qualquer coisa que, a pretexto de narrar fatos, atinja a sua honra tem, como a qualquer outro cidadão, o direito de ser reparada. E em propaganda eleitoral este direito é imediato e incide diretamente sobre o tempo de propaganda de quem o fizer.

Tenho poucas dúvidas que o TSE deixe correr frouxo este tipo de coisa, até porque se deixar perde totalmente o controle da campanha.

Segundo, a parcialidade decretada pelo STF é um fato e, quanto a isso, não haverá “excludente de ilicitude” para Moro, sempre que se invocar a expressão “juiz parcial”. É fato, não opinião.

Por último, vai dar a Lula o que ele nunca teve: mostrar, em cadeia nacional, que apesar do seu martírio de permanecer encarcerado, impedido até de velar o irmão e o neto, não quer uma campanha de ódio. Se alguém vai gritar, não será ele.

Traquejado de campanhas e embates, é brincar com fogo se, nos debates, se quiser invocar estas questões, ainda mais por dois adversários, Moro e Bolsonaro, reconhecidamente fracos na polêmica e, pior, escandalosamente interessados em tudo que o ex-presidente passou.

“Vocês fariam qualquer coisa para que eu não estivesse aqui, como em 2018. Mas eu estou, apesar de vocês e vou vencer os dois com o voto do povo”, com uma coia que nenhum dos dois pode ter: a consciência tranquila que vocês nunca terão mais”.

 

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