Ninguém sabe ainda – embora pareça ter todo o sentido – se é verdadeira ou não a intenção do governador paulista João Dória de deixar a disputa presidencial e ir embaralhar o jogo da sucessão em São Paulo.
Dória, de fato, baixou a índices que tornam proibitiva sua candidatura ao Planalto – 2%, a seis meses da eleição. Sua situação apenas no estado que governa não é muito melhor, marcando 5%.
Os altos índices de rejeição – que podem não ser exatamente os mesmos se a candidatura for estadual – também parecem trabalhar contra isso, embora a maquina estadual, com ele à frente, possa fazer muita diferença, também.
Hoje à tarde as dúvidas devem ser dissipadas, na entrevista que o governador promete para explicar sua situação, embora o jogo de hipocrisias, intrigas, golpes e oportunismo entre o que restou do PSDB nada fique a dever às novelas mexicanas e suas “reviravoltas”.
É o que ocorre quando uma candidatura não reflete – à esquerda ou à direita – uma necessidade social e política. Lembra o que repetia Leonel Brizola, no seu inabalável gauchismo: “Eleição não é corrida de cavalos, onde o patrão diz que põe seu cavalo na penca, ou que tira seu cavalo da penca”, usando o nome das tradicionais carreiras de “cancha reta” no Rio Grande.
Candidatura, assim, seriam simples disputas por posições e vantagens e não a definição coletiva dos rumos da sociedade.
É cedo para analisar as consequências disso, exceto que o critério “antiDoria” passa a marcar o cenário eleitoral e aumenta, com isso, a responsabilidade de Geraldo Alckmin na disputa, que passa a jogar um peso mais importante na conquista dos votos no imenso interior paulista.
Ao mesmo tempo, o candidato assumido por Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, passa a ter um contendor forte no meio empresarial e na elite do Estado e isso traz certos bloqueios para que ele seja o antagonista aberto de João Doria, caso ele se candidate mesmo à reeleição, pois há quem fale de uma candidatura ai Senado, bem menos espinhosa.
Na campanha presidencial, o grupo de Moro se assanha com a ideia de que Doria passe a apoia-lo à Presidência, o que não parece ser a tendência do governador, que já teve relações melhores com o ex-juiz. Para Moro, seria uma maravilha passar a ter uma candidatura “de verdade” ao governo paulista, no lugar da brincadeira de mau gosto que foi o tal “Mamãe Falei”. Para Doria, na razão inversa, ser o “substituto” de Arthur do Val é uma óbvia vergonha política.
E Eduardo Leite? Volto ao gauchismo das corridas de cavalo: este é “petiço”, que na criação se refere a cavalos pequenos e curtos e que virou sinônimo de baixa estatura. Deu um espetáculo de deslealdade e se o PSDB o tiver candidato a presidente, no lugar que seria de Doria, veremos um espetáculo insuperável de vingança do traído.
Não sei se leite conhece o sábio conselho dos gaudérios do Sul: não põe teu petiço na penca, pra não passar fiasco.