‘Me ajuda que te ajudo’ de pastores é ajuda em quê

O depoimento do presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Marcelo Ponte, à Controladoria Geral da União, divulgado agora há pouco, equivale a uma confissão de que o pastor Arílson Moura, que agia no MEC em parceria com o também pastor Gilmar Santos, segundo as palavras do ex-ministro Mílton Ribeiro por “um pedido especial” de Jair Bolsonaro é, literalmente, uma confissão de que havia mecanismos ilícitos na liberação – ou, pelo menos, na aprovação – de verbas da Educação.

Dizer que ouvia de Arílson pedidos do tipo ‘Me ajuda que te ajudo‘, para alguém que comanda um orçamento de R$ 54 bilhões não é uma situação aceitável, até porque a pergunta imediata que cada um poderia dar ao outro. Não dá para se fazer de desentendido, é claro.

Pior ainda, Ponte disse que ” relação [com os pastores] sempre foi burocrática e institucional”. Qual é a relação institucional que o FNDE tem ou poderia ter com pastores-empresários que não têm ligações com a educação pública? Muito menos uma relação burocrática, porque isso significaria terem expedientes administrativos no Fundo, o que não poderia existir, a menos que mantivessem contratos com o FNDE para implementação de projetos.

Ponte, ao falar à CGU, também deixou claro que eram os pastores que organizavam os encontros de prefeitos no MEC, quando declarou que eram os pastores que o avisavam sobre quantos chefes de prefeituras estariam presentes, para que ele levasse um número de técnicos suficiente para orientá-los.

O depoimento, ainda mais se cruzado com o que disse no Senado – “a função dos pastores era fazer orações” – complica ainda mais a situação de Ponte – ex-auxiliar de Ciro Nogueira – e, ao alegar que avisou Milton Ribeiro e Victor Godoy, que agora é o ministro interino, torna inexplicável o fato de que ambos continuaram a trazer Arilson e Gilmar para os eventos realizados dentro do MEC.

Está evidente a razão dos esforços para impedir a CPI do MEC, com pressões para que senadores não deem e até retirem assinaturas. Como está flagrante o ridículo de proporem um “contra-CPI”, para “investigar” obras inacabadas do governo Dilma. As obras não acabaram, é óbvio, porque o processo de impeachment paralisou o governo desde a sua aceitação por Eduardo Cunha em 2 de dezembro de 2015 e Dilma foi afastada do cargo em 12 de maio de 2016, um ano e quatro meses depois do início do seu segundo mandato.

Se alguém tem de explicar porque obras ficaram inacabadas é quem ocupou o governo nos seis anos que se passaram desde então.

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