A provocação como estratégia bolsonarista

No final de seu discurso, ontem, fora do texto escrito previamente, Lula lançou um comando que pouca gente se atentou para a importância, ao dizer que iria para a rua e que queria “muita gente na rua”.

Ninguém pode ter medo de provocação! É proibido ter medo de provocação! É proibido ter medo de fake news, é proibido ter medo de provocações via Zap, via Instagram. Nos vamos vencer esta disputa distribuindo sorrisos, distribuindo carinho, distribuindo amor, distribuindo paz e criando harmonia.

Não ter medo, porém, não significa não cuidar e se deixar expor ao que já está evidente como estratégia do bolsonarismo para criar uma falsa percepção de que é majoritário e, por este caminho, “legitimar” o golpismo a que já se entrega abertamente, ao arrastar as Forças Armadas para dentro do processo eleitoral.

O analista de redes sociais Pedro Barciela, em seu Twitter, expõe com uma clareza solar como isso se processa:

Essa ofensiva dialoga com uma série de objetivos bolsonaristas no decorrer do processo eleitoral. O primeiro deles é questionar e colocar em xeque as pesquisas eleitorais. Argumentos como “as pesquisas são fraudadas” são recorrentes e atingem institutos de pesquisa.
A fim de corroborar essa narrativa, o bolsonarismo aposta na hostilização pública de candidatos e a veiculação dessas hostilidades para municiar de elementos sua base. Assim, se outros candidatos são hostilizados e Bolsonaro não é, a pesquisa “não condiz com a realidade”.
Esse processo, que já é observado ao longo dos últimos anos e visa desacreditar as pesquisas, serve em última instância como mais um elemento para a narrativa bolsonarista contra as urnas eletrônicas e o TSE.
De maneira geral, após anos consolidando a “fraude das pesquisas”, o bolsonarismo busca uma “janela de oportunidade” para alegar que qualquer resultado eleitoral que se assemelhe às pesquisas será, invariavelmente, também uma fraude eleitoral.

Há uma estrutura atrás das “manifestações espontâneas” do bolsonarismo. Nem a velhinha de Taubaté acredita que há sempre um plantel de fanáticos no “cercadinho” do Alvorada, a produzir diariamente um palco para invocações pseudoreligiosas e para que Bolsonaro, quando deseja, produzir mais algum de seus “coices institucionais”.

Ou que a tática de fazer motociatas por quase todos os lugares onde vai se destine a “esticar” visualmente o que, muitas vezes, não passa de uma marcha de 200 pessoas.

Da mesma forma nada há de espontâneo em que pequenos comandos, de meia ou uma dúzia de fanáticos vá fazer provocações que permitam, amplificados nas redes sociais, “provar” que Lula é hostilizado onde quer que vá.

Com um ou outro pobre ou negro como “decoração” não há praticamente nenhuma mobilização do bolsonarismo fora dos grupos de classe média.

A fala de Lula é um apelo a que se comece a perder o medo de exibir-se, também nas ruas, a força que se revela nas pesquisas em relação a Lula.

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