Ao ler a reportagem de Marcelo Godoy, no Estadão, sobre o tal Projeto de Nação, O Brasil em 2035, desenvolvido por militares ligados ao ex-comandante Eduardo Villas-Bôas, e a outras entidades que agregam o autoritarismo militarista, lembrei da história de um falecido amigo, cujo pai, ao pronunciar pausadamente o sobrenome para um escrevente de cartório, escandiu as sílabas: Bo-te-lho…
Ao que o amanuense respondeu: “Ni mim, não, né, doutor?
Pois os ex-milicos querem que, até lá, todos os que ganharem mais de 3 salários mínimos (R$ 3.700) tenham de pagar por atendimentos médicos no SUS. Mas, certamente, não eles, que continuarão a contar com seus qualificadíssimos hospitais militares.
Vão pagar, também, os alunos de universidades públicas, uns privilegiados, mas certamente não os alunos de escolas militares, porque não tem graça terem de custear a formação de seus oficiais.
Os currículos “serão desideologizados”, menos de suas ideologias fascistóides de que o comunismo – agora chamado de globalismo – nos espera a cada esquina, sempre pronto a comer criancinhas, agora não mais em sentido alimentar.
Aliás, diz que o “globalismo, movimento internacionalista cujo objetivo é determinar, dirigir e controlar as relações entre as nações e entre os próprios cidadãos, por meio de posições, atitudes, intervenções e imposições de caráter autoritário, porém disfarçados como socialmente corretos e necessários” tem no seu cerne “megainvestidores, bancos, conglomerados transnacionais e outros representantes do ultracapitalismo, com extraordinários recursos financeiros e econômicos” .
Elon Musk não entra na lista, certo?
Godoy diz que o tal projeto de Nação, com 93 páginas, foi entregue ao general Hamílton Mourão, ao som da marchinha que embalava o regime militar, nos anos 70, muito conveniente para quem quer apontar rumos para o Brasil de quase um século depois.
Talvez, àquela altura, os generais só tenham como serviço a dar ao Brasil repovoar o setor de múmias queimado no incêndio do Museu Nacional.