Lê-se muito sobre a pregação dos marqueteiros de Jair Bolsonaro por um discurso light, focado em realizações de governo, sem declarações de ódio político e de suspeição das urnas e ameaças de golpe.
O “discurso positivo” é o conselho de 11 entre cada 10 marqueteiros de campanha, e nada haveria a estranhar em que tanto se insista nisso, ainda mais com dois golpes de esperteza à beira de eleições, como a queda no preço da gasolina, extraída a fórceps dos impostos alheios, os estaduais, e o aumento do “Auxílio Brasil”, previsto para durar até que se amealhe os votos das pessoas de boa-fé.
Ainda assim, serão difíceis e falsos os breves momentos em que não se verá o presidente babujando furioso ou escorregando pelo deboche grosseiro nesta campanha.
E sabe – ou sente, mais que saber – que ele é um produto do ódio e da insensatez e foi por isso que, ao longo de três anos e meio de governo não afundou até se tornar um nanico eleitoral, ostentando a preferência de voto que construiu com este comportamento.
Os “acenos de paz” são de uma falsidade de doer.
Bolsonaro é misógino e tem pouca acolhida no eleitorado feminino? Encha-se o palco de mulheres e ponha-se Michele a fazer uma oração pelo marido. Despreza os negros, de quem disse terem “sete arrobas”? Ponha-se de papagaio Hélio Bolsonaro, que deve andar neste peso, para ampliar a escala cromática de brancos e ricos que por lá estará.
Quem não estará no palco e que será varrido para as áreas de penumbra do espetáculo são seus “sincerões”, os das faixas de “Fechem o STF” e do “Intervenção Militar”.
Mas só na convenção, porque na campanha eles será a linha de frente e é bom que a oposição se prepare para evitar, tanto quanto possa, a onde de hostilidades e agressões, que nem tão veladamente o presidente estimula, repetindo, até para embaixadores estrangeiros, que “o outro não pode sair à rua”.
Isso não quer dizer passividade ou covardia. O papel de “pombinhos da paz contra a polarização” que se deixe para Ciro Gomes e Simone Tebet, que continuam no seu mundinho onírico do “mais vale minha candidatura do que o que vai acontecer com o país”. Vá lá, há gente que acha que a realidade são os seus desejos pueris.
A campanha de Lula terá que se espalhar como fogo na relva, sem labaredas mas inexoravelmente.
