Lula sabe que não bastam votos: vitória exige política

Como disse no post anterior, acho irrelevante colocar lupa sobre detalhes da pesquisa Datafolha porque, no essencial, não se registra, há meses, nenhum movimento expressivo de ascensão ou queda de Lula e Bolsonaro, os candidatos que, somados, reúnem três quartos das intenções de voto dos eleitores brasileiros e, portanto, definem o panorama da eleição.

Dois ou três pontos percentuais não significam, em pesquisas, diferenças significativas quando registradas em segmentos menores do universo, em que as margens de erro – traduzindo, as variações estatísticas – são maiores que em conjuntos maiores.

Daí tais diferenças serem insignificantes para diagnosticar tendências ou nuances eleitorais de grupos da sociedade.

Importam, assim, menos que a percepção política da situação eleitoral e, nisso, perceber o saldo de ganhos e perdas de apoio político que os candidatos obtém, porque este traduz o que os agentes políticos reais captam no contato com o eleitor.

E, neste aspecto, a candidatura Lula é um pote de mel, enquanto a de Jair Bolsonaro cada vez mais se assemelha a um espantalho.

Haja ou não acordo dos caciques de partidos que estão oficialmente fora da coligação lulista, o ex-presidente será apresentado nas bases como “cabo eleitoral” de candidatos, enquanto os que estão na coligação de Bolsonaro, na maioria, o esconderão.

E não apenas no Nordeste, onde só os candidatos do autointitulado “nicho ideológico” que pretendem se eleger com os votos dos quistos bolsonaristas, se apresentarão como suportes do ex-capitão, mas também no Sudeste, onde em Minas, no Rio e em São Paulo, os candidatos da direita querem distância da imagem de Bolsonaro, ainda que só existam por sua proximidade ao “Mito”.

Lula sabe que precisa ampliar sua vantagem eleitoral numérica, mas que é igualmente importante aumentar a sua vitória política, deixando o bolsonarismo isolado.

Ninguém se espante, portanto, venham-lhe novos e surpreendentes apoios nas duas próximas semanas.

Até porque, com honrosas exceções, às esquerda e à direita, como Guilherme Boulos e Geraldo Alckmin, boa parte dos “aliados de primeira hora” passaram boa parte do tempo em que deveriam estar gastando sola de sapato em suas próprias campanhas brigando por espaços e exclusividades, como se fossem eles – e não o próprio Lula – os fatores decisivos desta eleição.

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