O favoritismo de Lula precisa ser visto nas redes e na rua

Às vezes me espanta que haja gente que não se apercebeu do quanto está em jogo na derrota de Jair Bolsonaro e suas pretensões – que nem são continuístas, mas radicalizantes – não apenas para o Brasil, mas para todo o continente e para o planeta e acham que isso é pouco mais de uma “treta” para saber quem, no dia da eleição, terá um lacrador, digo, um vencedor.

As duas pesquisas mais importantes desde então – a do Ipec e da Quaest, ambas presenciais – mostra que a população se move (ou não se move) por razões e impressões muito mais profundas. E a cristalização das posições de Lula e de Bolsonaro nas intenções de voto sugerem que, nas águas profundas da vontade popular, a turbulência da mídia nada mudou significativamente.

E, provavelmente, nada mudará nestes 30 próximos dias, porque nem mesmo o pagamento de auxílio para gente de fato extremamente dele necessitada foi capaz de foi capaz de alterar o quadro. O alívio chegou tão tarde que, como mostrou ontem a pesquisa Quaest, a grande maioria cuida que seja um truque eleitoral.

Não significa, porém, que numa eleição que está a ponto de poder ser decidida no primeiro turno – a “uma vírgula” disso, segundo o ex-diretor do Datafolha, Marcos Paulino – estas marolas não tenham papel importante.

O papel decisivo da comunicação se está para a eleição, neste mês restante de campanha, como o vento está para as ondas, empurrando a favor ou contra as correntes profundas da esperança e do ressentimento que Lula e Bolsonaro representam.

Bolsonaro está atento a isso e aposta muito no Sete de Setembro, agora já sem forças para ser o dia do golpismo, mas ainda com um potencial de demonstração de força que terá de explorar pelas três semanas que o separam da eleição.

O desafio da comunicação do ex-presidente é traduzir o favoritismo que as pesquisas lhe dão em algo inevitavelmente visível nas rua e nas redes sociais. É este o verdadeiro “discurso” do voto útil, muito mais que argumentos ou “carinhos” aos adversários não-bolsonaristas.

Há boas notícias neste sentido, como a pesquisa da FGV publicada hoje pela Folha, apontando que Lula avança na ‘eleição do vídeo’ e quebra hegemonia de Bolsonaro no TikTok e no YouTube, mas ainda insuficiente, principalmente para uma aliança de partidos com tradição de militância de rua e com milhares de candidatos capilarizados por todo o país.

Fora do virtual, é preciso dar atenção à campanha de rua, porque uma das heranças malditas que a ascensão da extrema-direita deixou foi o medo das pessoas em exibirem seu apoio a Lula e ao PT, que a mídia passou anos a tornar “maldita”.

E isso pode ser revertido, ao menos em parte, porque há verdade no favoritismo que a maior parte da população só tem contato com as pesquisas. O número revelado pela pesquisa Quaest de ontem, mostra que a convicção de vitória de Lula supera em 19 pontos (53 a 34) a de Bolsonaro, bem maior do que diferença da intenção de voto, que é de 12 pontos (44 a 32).

Este é o melhor “argumento” em favor do voto útil que possa dar a “vírgula” necessária à vitória no primeiro turno, porque a maioria atrai até os distraídos ou os mais vacilantes.

A polêmica, as denúncias, as mentiras de Bolsonaro preparam as condições e estão aí, em grande quantidade, mas a “onda” política é como a “ola” dos estádios de futebol: só acontece quando você vê muitos fazendo em volta de você.

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