Jair Bolsonaro levará, se tanto, um ou dois minutos para soltar sua agressividade e seus xingamentos no debate de Lula.
Explica-se, este é o tempo em que Lula, pelo sorteio, fará a ele a primeira pergunta.
É o que manda o script mental do atual mandatário, agora em estado de excitação furiosa, depois da “rata” que deu, sozinho, ao falar que “pintou um clima” para descrever o interesse que teve ao ver “umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade”, o que o fez voltar e pedir para entrar na casa delas.
O presidente deveria estar furioso consigo mesmo, com o seu sincericídio e com sua forma de proceder, mas está é soltando fogo contra Lula e o PT que, a rigor, no máximo estão “de carona” nesta história.
Todos os sinais são de que a história bateu com força na até agora quase invulnerável carapaça que o fanatismo construir para proteger seu Fürher: o investimento às pressas na campanha de anúncios pagos na Internet para dizer “Bolsonaro não é pedófilo” (uma regrinha básica de comunicação é não repetir informação para negá-la) e articulando uma visita de Damares Alves e Michelle Bolsonaro à casa das meninas.
Se andam assim, Bolsonaro , atrás nas pesquisas, vai com tudo.
E com o desenho de palco do debate, onde os candidatos podem circular livremente, poucos duvidam que essa pressão será, literalmente, física, aproximando-se do ex-presidente como se fosse partir para cima dele e, assim, perturbando sua concentração durante as respostas.
E se for Lula quem aproximar-se dele, é bem capaz de apelar para a falsa valentia do “me segurem senão eu dou nele”.
Lula deve saber, a esta altura, que tudo é teatro em Bolsonaro e conservar sempre a serenidade. Dois ou três “chega pra lá” verbais e o resto que corra por conta do destempero bolsonarista.
Mas, sobretudo, agindo como um toureiro experiente trata um touro. Quanto maior a sua fúria, mais fácil evitar seus golpes.