Mello: a promiscuidade da(s) rede(s) Itaú-Marina

Meu camarada Antonio Mello, em seu blog, é outro que chama a atenção para essa vergonhosa promiscuidade promovida com a Rede (de cartões de crédito) e a finada rede (assim mesmo, em minúsculas) de Marina Silva.

Incrível, mesmo sendo sabido que a braço-direito de Marina é uma das donas do Itaú, nossa imprensa tenha deixado de ao menos um “ôpa!” de estranheza.

Mello traz, sobre as ideias da Maria Alice Setúbal, integrante agora do círculo íntimo de Marina, trechos de um afiadérrimo artigo do escritor Marcelo Mirisola, no Congresso em Foco, mordaz como nunca sobre as “transversalidades” de Setúbal.

Agora, em Rede com a rede da disruptura de Marina.

A Rede da Marina, a Rede do Itaú, Marina na Rede do Itaú, e Marcelo Mirisola. Ou ‘Caiu na Rede é…trouxa’

Teria sido apenas uma incrível coincidência? Teria sido feito de caso pensado? Quem nasceu primeiro, o ovo (Rede) da Marina ou a galinha (Rede) do Itaú?

Logo após a ex-senadora Marina Silva tentar e não conseguir registrar seu Rede no TSE, o banco Itaú, que tem uma das herdeiras da família Setúbal, Maria Alice Setúbal, como uma das principais apoiadoras da Rede, o banco Itaú, eu dizia, resolveu que seu Redecard passaria a se chamar apenas Rede.

Num notável sincronismo, uma Rede balança a outra, tentando pegar os peixes-otários, os trouxas que somos nós – pelo jeito é o que pensam que somos.

Não vejo chiadeira contra essa tramoia canalha do partido sem registro com o banco sem vergonha, que quanto mais fatura e lucra, mais demite. Ou alguém aí leu alguma declaração de Marina sobre este excesso de Redes?

Para comentar essa miscelânea política, ou melhor, essa promiscuidade safada que nos tenta impingir gato (Rede de Marina) por lebre (Rede do Itaú), fui buscar trechos de um artigo do escritor Marcelo Mirisola, na época comentando outra miscelânea, esta cultural, envolvendo o mesmo banco e a mesma Maria Alice Setúbal.

A nova senzala (transversalidades)

(…) Pois bem, não é de hoje que me chama a atenção a presença constante de dona Maria Alice Setúbal na seção Tendências/Debates, o filé mignon da Folha de S. Paulo. Dona Maria Alice, como indica o nome, é herdeira de Olavo Setúbal, e provavelmente deve ser acionista do banco Itaú. Nos créditos de seus artigos, consta que é doutora em Psicologia e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária da Fundação Tide Setúbal. Seus artigos são redundantes. Ela gosta de usar a palavra “transversalidade”.

(…) sou correntista do banco Itaú, pago altos juros pra dona Maria Alice Setúbal e também sou leitor de suas intervenções na seção Tendências/ Debates da Folha de S. Paulo. Gostaria de acreditar que o jornal ainda não foi absorvido pelo acervo do Instituto Moreira Salles.
Voltando à dona Maria Alice Setúbal.

O que madame teria de tão importante para acrescentar, tirante suas “transversalidades”, ao debate de ideias, ou, mais especificamente, por que as idéias dela são tão relevantes para desfilar na seção Tendências/ Debates da Folha?

Vou arriscar um diagnóstico.

Os textos de madame costumam ter a marca indelével que conduz do óbvio ao ululante, são como folders, propagandas de condomínio que indicam, ou melhor, cobram o caminho da felicidade, apesar de a felicidade, pobre e acuada felicidade, não ter sido consultada a respeito de tão nobre encaminhamento. Mas uma coisa dona Maria Alice sabe fazer, algo que circula em seu sangue de agiota, ela sabe cobrar.

No seu último artigo, “Novas formas de aprender e ensinar”, publicado no dia 27 de março, dona Maria Alice Setúbal aposta na “inteligência coletiva” que – segundo sua bola de cristal high-tech – está na iminência de ser consumada pela força da revolução tecnológica. Madame não costuma deixar lacunas porque cumpre sua função, repito, que é levar o nada a lugar nenhum com a marca da excelência, como se o mundo fosse uma agência bancária cor-de-laranja protegido por portas giratórias e slogans de publicidade.

Não obstante, dessa vez, madame deu uma vacilada.

Dona Maria Alice Setúbal esquece que o lado de fora não tem ar condicionado. Revolucionária, decreta o fim do ensino linear. Para madame, o ensino da maioria das escolas – que ainda trabalham com aulas expositivas e livros didáticos – não faz mais sentido diante do conhecimento que é “transversal e produzido nas conexões entre várias informações”. Bem, esses conhecimentos ou essas conexões, que eu saiba, só existem e funcionam em sua plenitude nos sistemas de cobrança do banco de madame e na bolsa de valores. No mínimo, dona Maria Alice Setúbal, que se imagina mensageira do futuro, é uma debochada. Convenhamos que a “realidade transversal” que os nossos professores experimentam nas salas de aula têm outros nomes que nem o eufemismo mais engenhoso poderia disfarçar, tais como humilhação, porradaria, salário de merda. Para coroar seu pensamento revolucionário, dona Maria Alice, sentencia: “Essa transversalidade se expressa nas demandas das empresas e nas expectativas dos jovens”.

Que jovens são esses? Aqueles que madame adestra em seus canis cor-de-laranja? Qual a expectativa deles? Telefonar pras nossas casas às sete horas da manhã para nos lembrar que somos devedores do Itaú? Ou a expectativa desses jovens é subir na vida, e virar gerente de banco?

Dona Maria Alice vai além e se entrega, ela acredita que a tecnologia vai produzir “pessoas que saibam resolver problemas, comunicar-se claramente, trabalhar em equipe e de forma colaborativa. Que usem as tecnologias com desenvoltura para selecionar, sistematizar e criticar informações. E que sejam inovadoras e criativas”.

Ora, madame quer empregados que não a incomodem, e encerra seu raciocínio ou exige, de forma impositiva e castradora: “E que sejam inovadoras e criativas”. Não querendo fazer leitura subliminar, nem ser Lacaniano de buteco, mas esse “E que sejam inovadoras e criativas” é de amargar, hein, madame?

O artigo de dona Maria Alice é uma ordem de comando. A voz da dona, a mulher que visivelmente não pode ser contrariada. Difícil ler e não sentir-se um empregadinho dela. Ao mesmo tempo em que ordena “inovação e criatividade”, elimina a possibilidade de reação: “para fazer da tecnologia uma aliada da educação, é preciso vencer o medo do novo e superar a cultura da queixa”. Como se madame dissesse: “Publiquem meu artigo genial, obedeçam, e calem a boca. O futuro é meu, e se eu disser que é coletivo e cor-de-laranja, dá na mesma”.
(…)
Eu falava de madame (versão 2013) que diz que samba é coisa de gente elegante. Dessa vez a visita periódica que madame faz à sua cozinha, também conhecida como “Tendências/Debates”, ultrapassou o terror costumeiro, e, no lugar de marcar presença e autoridade, madame só fez azedar o cuscuz. Ela devia ser mais discreta, como Olavão, o patriarca, o banqueiro. Não se deve confiar demais na vassalagem (leia-se correntistas e leitores).

No mesmo dia que madame publicou seu artigo, aconteceu uma coincidência reveladora, logo acima do texto de sinhá, no “Painel do leitor”, uma dona de casa, Mara Chagas, reclamava enfurecida da nova lei das empregadas domésticas, e fazia coro – às avessas, mas coro – à mme. Setúbal: “As empregadas domésticas não trabalham aos sábados, não cumprem as oito horas diárias, o serviço tem que ser ensinado (não são mão de obra especializada), almoçam e lancham na casa dos patrões sem cobrança alguma e faltam sem avisar. Como ficará o empregador diante disso?”

Eis a questão.

Pelo menos dona Mara Chagas, a leitora, foi honesta e direta, e não precisou de “transversalidades” para exprimir suas ideias revolucionárias. E o melhor: ela não vai concorrer ao Oscar, e jamais vai se manifestar no “Tendências/ Debates”. Nem ela, nem eu. [Leia a íntegra aqui]

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14 respostas

  1. O Itaú passa a idéia de ser a versão da revista Veja no universo financeiro. Tem o mesmo ódio do PT , Lula e Dilma. Paga ao FHC para fazer palestra contra o Brasil no exterior. Certamente é um dos que possuem a chave da porta principal de nossa imensa casa-grande .

    1. O núcleo duro da direita brasileira é composto pelo “tripé”: Bradesco, Itaú e grupo Abril, que publica a revista Veja.

      Se quiser, poder acrescentar o Estadão.

      A Globo e a Folha, apesar de serem de direita, não fazem parte do “núcleo duro”.

  2. Uma grande empresa assume um “partido” (partido mesmo, já que não é inteiro). Tem um produto, REDE, que comercializa com o mesmo nome do “partido”. Ora, se a empresa é um grande banco que, providencialmente, comercializa dinheiro e vai dar suporte a um, digamos assim, suposto partido político, ela vai ser a arrecadadora, financiadora ou o caixa de Da. Marina e seu laranja (o Campos)? Convenhamos que é uma estranha simbiose política, estranha porque foge ao sentido ecológico da palavra (não é Da. Marina?). E, aí, então, como é que fica, ou vai ficar a Justiça Eleitoral… esperemos que seja uma atenta observadora das mutações ecológicas da plantação de laranja de Da. Marina.
    Vamos ficar na expectativa de uma análise mais especializada do TIJOLAÇO em relação ao assunto…

  3. O Itaú que fique com sua rede, que eu ficarei com meus investimentos. Vou fechar minha conta e ir para um banco que não não tente me fazer de massa de manobra.

  4. O que ocorre com Dna Marina é muito simples e a explicação remonta aos tempos da escravatura.

    Muitos senhores de escravos, alforriavam alguns que eram designados como capatazes ou feitores daqueles que continuavam cativos.

    Faziam o trabalho sujo dos senhores em troca de algum benefício.

    Infelizmente!

  5. Os americanos tem um ditado que diz: “put your money where your mouth is”, que quer dizer “ponha o seu dinheiro onde está a sua boca, o seu discurso”.

    Não se concebe que brasileiros nacionalistas e progressistas ainda tenham conta em bancos como Itaú e Bradesco.

    Meu “money” está onde está a minha boca: no Banco do Brasil, controlado pelo governo. Que além de tudo, tem os melhores terminais de auto-atendimento, bem melhores que os do Bradesco e Itaú.

  6. Há certamente várias formas de ser cúmplices de ditaduras. De todas as formas de ditaduras. Na Venezuela, entre 1958 e 1998, mais de 10 000 (dez mil) pessoas foram torturadas e assassinadas pelos governos aparentemente democráticos do regime dito de Punto Fijo. Um longo acúmulo de forças nos movimentos populares permitiu a eleição de Hugo Rafael Chávez Frías à presidência daquele país. E foi graças a este Hugo Chávez que o Estado venezuelano renunciou a torturar e assassinar cidadãs e cidadãos. Foi também ele que acabou com a censura implacável à imprensa, com os bombardeios de aldeias indígenas e campesinas e outros horrores. Pode-se fazer muitas críticas a este senhor, ao seu governo, aos seus correligionários, como de resto podemos criticar qualquer governo ou associação de seres humanos. Mas não se pode em hipótese alguma, sob pena de estar cometendo uma aberração, uma barbárie, dizer que o “chavismo”, “bolivarismo” ou como queiramos chamar esse processo, tem sido inimigo das liberdades e da democracia. O bloqueio cerrado de nossa mídia conseguiu enfiar na cabeça de muita gente de bem que aquele país vive sob autoritarismo. É compreensível que cidadãos comuns sem acesso à informação tenham caído na acusação falaciosa de autoritarismo feito a uma democracia avançada como a Venezuela. O que é absolutamente inadmissível, intolerável e absurdo é que a ex-militante do Partico Comunista Revolucionário Marina Silva ignore ou finja ignorar essas verdades insofismáveis. Esta senhora atacou a democracia venezuela durante sua campanha presidencial para conquistar votos de incautos e continua a fazer a mesma pregação odiosa. Isso é ser cúmplice de barbáries, de horrores que enrubesceriam muitos de nossos direitistas ferrenhos. Considero lamentável que continuemos a tolerar a cumplicidade desta senhora com os verdadeiros violadores de direitos humanos que enlutam a cada dia nossa afroindoamérica latina. Considero absurdo que pessoas de bem que a apoiaram ou que continuam a apoiá-la, mesmo com as melhores das intenções, não se manifestem em relação ao estupro da verdade recorrente cometido por esta senhora. Marina Silva não apenas repete mentiras absurdas sobre a Venezuela, mas ela se faz cúmplice de torturadores e assassinos que superam e muito seus colegas brasileiros. Alguém de peso, não eu que sou um pé rapado desconhecido, tem de cobrar isso dela e das pessoas generosas e bem intencionadas que a apoiam.

  7. Parabéns, Brito, mais uma excelente análise sobre a questão do leilão. Complemento, adotando o mesmo estilo ultra didático, com uma analogia para os que são contra o modelo partilha e acham que a Petrobrás poderia explorar sozinha o campo de Libra. Tirante as questões de risco e investimento, que são por si só fundamentais, importa aqui apenas enfatizar a questão geopolítica, estratégica e militar. Suponhamos que você mora numa comunidade dominada por milícias e que essa comunidade esteja sofrendo uma terrível escassez de alimentos que indica que muito em breve não haverá alimento suficiente para que os moradores da comunidade possam ter acesso a uma porção diária mínima de alimentos. Suponhamos que você descobriu que no seu quintal há uma espécie de feijão super nutritivo que brota com extrema facilidade e dá para alimentar sua família fartamente e ainda sobra. O que você imagina que aconteceria quando, diante da crise de alimentos na comunidade, as milícias soubessem que seu quintal está repleto de feijão? O que é mais sensato: encarar as milícias e defender o seu feijão, ou entrar num bom acordo com algumas delas?

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