Jair Bolsonaro, o homem que dispõe de uma rede de mansões em Brasília e que comia, orgulhosamente, churrasco de picanha de gado japonês de R$ 1,8 mil o quilo, estava ontem comendo frango assado de barraquinha e fazendo live num cenário tosco (e propositadamente tosco, como se vê pela caixa encostada na parede de fundo, que não custaria um centavo sequer ser retirada.
É o recurso desesperado de parecer “um homem do povo”, depois de anos de exibição como “o cara da moto e do jet sky”, símbolos do sucesso para a classe média.
Nada raro em candidatos – vide o pastel de feira de Rosângela Moro – a simulação de simplicidade é usada com evidente propósito eleitoral e, no caso do imóvel não identificado onde fez a live, a ideia de se colocar como um “perseguido” pela Justiça, apenas porque esta lhe proibiu o óbvio: realizar um comício eletrônico usando as facilidades palacianas.
Ninguém pode acreditar que a campanha de Bolsonaro não disponha de salas em Brasília ou até mesmo dos estúdios onde faz suas gravações eleitorais.
Tanto é assim que sua fala dedicou-se, essencialmente, a duas coisas. A primeira, como sempre, xingar Lula; a segunda, como quase sempre, mostrar-se vítima de uma “perseguição de Justiça Eleitoral:
— Será que o TSE sabe onde estou fazendo essa live? Ah, escondido, como se eu fosse um cara das trevas. Será que ele está no Alvorada, descumprindo ordem do TSE? Meu Deus, que preocupação do TSE!
Melodrama ridículo, que não resiste a um piparote, destinado a trocar de posição: do valentão bravateiro para o “tadinho”.