A notícia é paga; as ‘fake news’, grátis

A grande imprensa, orgulhosamente, gosta de chamar-se de “Quarto Poder”.

Poder público, decerto, pois que não apenas um negócio, como o de vender batatas ou parafusos para prender prateleiras, embora, ao menos aqui no Rio o que mais circule seja o “Jornal Pet”, um saco de folhas de jornais velhos reutilizáveis como sanitários para animais de estimação, apenas um pouco pior que o velho jargão dos jornalistas de que “o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã”.

Nada de errado, mas faz tempo que a venda em banca é nada perto das receitas de publicidade, que sustentam a imprensa, seja a que remanesce em papel, seja a que, eletronicamente, tomou conta do pedaço.

Toda esta arenga vem a propósito de um desafio que é preciso lançar a ela: o de que abram o acesso online a seu noticiário político durante o período eleitoral.

Não é a grande mídia que, com razão, adverte contra o perigo das “fake news”, da deturpação de supostas (e falsas) notícias que chegam pelas redes sociais, abanadas por robôs e agentes do autoritarismo, para deformar a consciência e a decisão dos eleitores?

Como combater a mentira fácil e grátis com a informação rara e paga, apenas para poucos?

Vá que batatas ou parafusos sejam apenas para que – e hoje poucos – que podem pagar por isto, mas quanto se pode pagar para dizer verdades, quando estão em jogo os destinos de 213 milhões de brasileiros e o de nós todos como nação democrática?

Já o fizeram, em momentos graves – recentemente na pandemia, aqui e lá fora, é um exemplo – quando estavam em jogo situações de vida ou morte.

Pois há uma questão de vida ou morte da democracia colocada, pois está evidente o funcionamento de uma máquina de ódio e de mistificação e ameaça do uso da força para colocar abaixo as instituições nacionais.

Vamos levar a informação de que querem derrubar o regime de liberdades “por apenas R$ 29,90 nos primeiros três meses”? Apenas poderão saber do que podem informar seus jornalistas os que podemos pagar por isso, quanto a maioria fica a garimpar o que pode ser lido nas suas “versões populares”, em geral ralas e supérfluas na política, preferindo as fofocas de celebridades ou as desgraças cotidiana dos crimes chocantes?

Sim, nós sabemos que, muitas vezes, os grandes jornais distorcem e mistificam, mas será que não é hora de fazer a autocrítica e dizer vão ajudar a matar o monstro que ajudaram a parir?

Qual será o grande jornal que, depois de uma temporada de mentiras e deturpações vai proclamar o seu compromisso com a verdade e liberar o acesso às suas notícias, ao menos no período eleitoral?

Durante dois ou três meses é um pingo em sua renda, mas um mar de informação acessível aos cidadãos.

Do contrário, como é que, destilando seu ódio, vão nos chamar – aos blogs, que como se diz nas Alagoas, vivemos a pão e laranja, veiculando propagandas do Google e pedindo o que os leitores nos puderem doar – de “blogs sujos”?

Que não façam permanentemente como nós fazemos, mas se têm algum compromisso com o papel social e civilizatório do jornalismo, abram seu noticiário para que a população vote informada e não ludibriada pela maré fétida de “fake news”

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