Aécio, aos 17, nos “States”: “no Brasil todo mundo tem uma ou duas empregadas”

Sensacional a garimpagem  jornalística de Paulo Moreira Leite, que achou uma edição de 24 de fevereiro de 1977 do semanário The Franklin news-record, de New Jersey, onde o jovem Aécio Neves visitava amigos, num daqueles programas de intercâmbio.

Alem de rock, automóveis e programas de TV típicos da idade, o jovem Aécio já tinha conceitos muito esclarecedores sobre como viviam os brasileiros.

Segundo ele, como está no título da reportagem, não era muito diferente de como viviam os americanos.

As mulheres não trabalhavam porque não precisavam, estavam na praia ou batendo perna em shoppings.

’The women of Brazil have an easy life, according to Aecio. Most women do not work because financially they don’t have to, he said, so most of their time is spent on the beach or walking to the different shops.

E todo mundo tinha mucamas para cuidar dos “sinhozinhos”

“Everyone in Rio has one if not two maids, one for cooking and the other for cleaning.” He added that “I have never made my own bed.”

Não é à toa que ele é o que é hoje.

Poderia ter melhorado, é verdade, porque ser filhinho de papai não é condenação definitiva, sempre se pode evoluir.

Mas conservou o vício de enxergar o mundo real como o mundinho de quem vive e vivia àquela época – como em todas as épocas – “não muito diferente de lá” dos Estados Unidos.

Os outros, os milhões de pobres, remediados ou famintos são invisíveis ou, no máximo, sujam a paisagem.

Mas Aécio não teve como nem porque evoluir: afinal, neste mesmo ano já tinha um emprego para não aparecer, no Cade e, depois, no gabinete do pai, deputado da Arena.

Leia o texto, fantástico, de Paulo Moreira Leite:

Jovem Aécio: “eu nunca fiz minha própria cama”

Em fevereiro de 1977 o jovem Aécio da Cunha Neves talvez nem pensasse que um dia estaria na reta final para disputar a presidência da República mas viveu uma aventura curiosa fora do país.

Como tantos jovens brasileiros de sua condição social, naquele ano Aécio foi cumprir um programa de intercambio escolar nos Estados Unidos.

Certa vez, durante um momento de descanso,  Aécio visitava uma estação de esquí quando conheceu um rapaz de sua idade, Glenn, que o convidou a passar um fim de semana hospedado na casa de seus pais, o casal Pat e Roger Davis, em Middlebush, em Nova Jersey.

Ali, numa pequena comunidade que hoje possui 2000 habitantes, distribuidos em pouco mais de 800 casas, a presença de um jovem brasileiro logo se tornou motivo de atração. Com direito a foto e tudo, Aécio foi parar nas páginas do FranklinNews-Record, pequeno jornal da região, que na edição de 24 de feveiro de 1977 publicou uma pequena reportagem a seu respeito.

Descrevendo Aécio como um adolescente “igual a todos os outros”, o reporter Bob Bradis registrou seus conjuntos de rock prediletos: Led Zeppelin, The Who, Crosby, Stills, Nasch and Young e sublinhou que ele “realmente gosta de Bob Dylan.” O jornal fala dos programas de TV favoritos do rapaz: Kojak, série policial que fazia muito sucesso na época em torno de um detetive careca, e Waltons, sobre a vida de uma família da zona rural dos Estados Unidos, às voltas com os rigores da Grande Depressão da década de 30. Esportes favoritos? Futebol e volei. Demonstrando um interesse por automóveis bastante comum entre garotos de sua idade, ele contou ao Franklin News que a idade mínima para tirar carta de motorista no Brasil é 18 anos mas que não é incomum ver jovens dirigindo carros antes de chegar a essa idade.

Falou de automóveis americanos, como Ford e Chevrolet, mas também elogiou o Puma, um carro nacional, “muito confortável.”

Mas nem tudo era igual entre jovens norte-americanos e brasileiros — e isso não escapou a observação de Bob Bradis. No frescor dos 17 anos, Aécio expressou várias observações sobre a vida social brasileira.

Falando sobre a condição feminina no Brasil, Aécio disse, conforme o Franklin-News, que a vida das mulheres é fácil no Brasil. Segundo as palavras de Bob Bradis,  Aécio lhe disse que as mulheres brasileiras  não tem necessidade financeira de trabalhar, e podem passar a maior parte de seu tempo na praia ou fazendo compras. Era uma diferença importante em relação à sociedade norte-americana, onde, desde a Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres saiam de casa para trabalhar e dividir despesas com o marido.

Falando da vida doméstica, Aécio disse: “todo mundo tem uma empregada ou duas; uma para cozinhar, outra para limpar.” Falando de sua rotina dentro de casa, no Brasil, assinalou outra novidade: “Eu nunca fiz minha própria cama.” Outra diferença, como se sabe.

Bob Bradis conta que Aécio lamentava, naquele fevereiro de 1977, que estivesse fora do Brasil por causa do carnaval. Há uma grande festa antes do início da Quaresma, disse Aécio. O jovem brasileiro contou como todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e então vão para casa dar um mergulho, para aí retornar para mais festas. “É a melhor época do ano.” Segundo o Franklin-News, Aécio disse ainda: “Essa é a única época em que a classe baixa e a classe alta se reunem.”

Perguntado sobre seu próprio futuro, Aécio disse que pretendia estudar engenharia mas falou que provavelmente acabaria entrando na vida política, como seu pai, que era deputado pela Arena, o partido de sustentação do regime militar, e seu avô, que era um dos principais líderes do MDB, partido da oposição civil.

Dois anos depois do fim de semana em Middlebush, Aécio Neves obteve um emprego na Câmara de Deputados. Foi contratado como assessor do próprio pai. A Câmara funcionava em Brasília, mas Aécio continuou morando no Rio de Janeiro. Cuidava da agenda do pai à distância, embora não houvesse internet naquele tempo. Mas não era um trabalho ilegal. A Câmara só passou a obrigar assessores parlamentares a atuar em Brasília a partir de 2010.

Mas, se pudesse refletir ao longo dos anos, o repórter Bob Bradis poderia avaliar o duradouro significado de uma frase em seu caderno de notas: “Eu nunca fiz minha própria cama.”

 

 

 

Fernando Brito:

View Comments (55)

  • Aécio é um saco vazio mantido em pé inflado pelo PiG. Dilma 13.

      • E sacramentado em camisetas tipo aquela do "Ronaldo Fenômeno de Bestialidades" que ainda não é
        ( nem nunca será ) um "arrependido apagador de fotos" como o são outros coxinhas ditos ingênuos.

  • Campanha da Fraternidade:"Conclamamos todos os Brasileiros de bom senso que não explorem a falta d'água em São Paulo para fins políticos demagógicos.Solicitamos sim,que enviem garrafas de água mineral,desodorantes,roupas usadas,baldes,para nossa Central de recolhimento emergencial da SABESP/Rua Conselheiro Saraiva, 519 - Santana-São Paulo, SP | CEP: 02037-021."

    • Valeu... Seria louvável que essa Campanha da Fraternidade também pregasse o fim da descriminação aos nordestinos já que voltamos em nossa maioria em Dilma. Agora é muito cômodo falar em não usar esse tema como arma política quando São Paulo prega essa descriminação. Quem sabe não nos como vemos com essa campanha, já que vivemos nossa vida toda com a realidade da seca e mostramos como sobreviver à isso. Mas cobrem principalmente do governo que vocês elegeram, já que eles insistem em dizer que não sabiam que esse caos poderia acontecer.

      • A incompetência e a falta de investimentos em 20 anos de governança do PSDB em São Paulo, esta deixando Hoteis de Luxo, HOSPITAIS, milhares de residências sem água. Tudo isso acontecendo no estado mais rico da federação São Paulo. Relaxamento, descaso, desrespeito com a população e com o dinheiro público,
        A PRIVATARIA TUCANA deu nisso!!!!

  • Abaixo uma incisiva matéria do Nassif, que sugiro como post para o Tijolaço.
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    A TRAGÉDIA PAULISTA DA FALTA DE GOVERNO
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    por Luis Nassif, em QUA, 22/10/2014 - 06:00, em http://www.jornalggn.com.br/noticia/a-tragedia-paulista-da-falta-de-governo
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    São Paulo tornou-se um buraco negro institucional. Praticamente todos os vícios que os grupos de mídia apontam no governo federal vicejam em São Paulo com muito maior intensidade, devido à falta de vigilância tanto da mídia quanto dos demais poderes.
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    Por aqui consolidaram-se vícios de estados atrasados.
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    Por exemplo, no Ministério Público Estadual, o cargo de Procurador Geral do Estado é um trampolim para uma futura secretaria de governo. Apesar da existência de procuradores aguerridos, há uma evidente subordinação do PGE ao grupo político que controla o Estado.
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    No caso dos grupos de mídia, a ideia fixa em se apresentar como condutora da oposição bloqueou a fiscalização de todos os atos de governo.
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    É por isso que se chegou à iminência do maior crime já cometido contra a população de São Paulo, que será o racionamento desorganizado de água que se prenuncia.
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    A falta de água, especialmente em regiões menos assistidas, exporá a população a epidemias, aumento da mortalidade infantil. Se se chegar a esse ponto e as estatísticas apontarem essa letalidade, Alckmin, Mauro Arce, a Secretária Dilma Penna, o presidente da Sabesp estarão expostos a processos criminais, sim.
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    Quando foi depor na CPI da Assembleia Legislativa, Dilma Penna mostrou o desconforto com a situação, deixou claro que a irresponsabilidade vinha do governo do Estado, não dela. No dia seguinte, notas em jornais davam-na como demissionária por ter “perdido o comando”, sabe-se lá sobre o quê.
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    Incúria ocorreu nos últimos anos, com o descaso da Sabesp em relação a um problema anunciado desde 2004. Mas nos últimos dois anos, a crise estava posta e a falta de ação enquadra-se em crime muito mais grave.
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    Por conta do período eleitoral, o médico Alckmin não cuidou de planejar um rodízio preventivo, responsável. Pensasse um pouco maior, aproveitaria o momento para ser o verdadeiro líder, que não foge do problema e comanda a reação contra o adversário: a falta de água. Em vez disso, fugiu da questão e de suas responsabilidades por mero oportunismo eleitoral.
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    Nos últimos anos, São Paulo viveu a maior enchente da sua história. A razão foi a imprevidência do então governador José Serra, cortando verbas destinadas ao desassoreamento do Tietê. Essa razão básica foi sonegada dos paulistanos pela mídia.
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    Em nome da luta política maior, todos os demais problemas paulistanos foram varridos para baixo do tapete, o desmonte das universidades estaduais, dos institutos de pesquisa – Agronômico, Butantã -, das instituições de planejamento – Fundação Seade, Cepam, Emplasa -, do Museu do Ipiranga, do Instituto Butantã, da Fundação Padre Anchieta, o aparelhamento da estrutura cultural.
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    Além disso, o discurso viciado, preconceituoso e agressivo da mídia modelou o personagem médio mais execrável do cenário político brasileiro: o cidadão que tirou o preconceito do armário e invadiu as ruas armado da agressividade mais inaudita.
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    São Paulo não é isso.
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    Esse exército de zumbis floresce em uma sociedade organizada, com movimentos sociais de vulto, vida cultural dinâmica, uma parte da elite moderna, de ONGs que fazem trabalhos exemplares, algumas cabeças empresariais arejadas.
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    Esse circo de horrores foi modelado por uma mídia que perdeu qualquer noção de responsabilidade.

  • Aécio está dizendo que está sofrendo ataques, Será? O que esta sendo apresentado são revelações. Ninguem sabia que ele tinha construido aeroporto na fazenda do tio e que a chave ficava em seu poder. Ninguem sabia do aeroporto na cidade de Montezuma, Norte de Minas, onde ele herdou uma fazenda, cidade esta de 6.000 habitantes que não tem acesso por estrada asfaltada. Niguem sabia que tinha, cargo de assessor no gabinete de seu Pai, deputado feferal em Brasilia, aos 19 anos de idade e morava no Rio de Janeiro. Ninguem sabia que foi nomeado diretor da Caixa Economica Federal, aos 25 anos, quando seu primo era ministro da fazenda.Ninguem sabia do termo de ajustamento do Tribunal de Contas de Minas quanto aos gastos de saúde e educação do seu governo. Ninguem sabia que um conselheiro daquele Tribunal tinha escrito: é duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como gasto com a saude. E assim por diante. Não se trata de ataques. São revelações que antes não vinham à tona porque suas disputas eleitorais ficavam restritas ao espaço paroquial controlado de Minas.Agora em nivel nacional os brasileiros tem o direto de saber sobre quem vão escolher para dirigir o País. O candidato da praia do Leblon é bom de lábia, mas o povo sabe que a escolha é muito importante e não pode vacilar. Dilma 13.

  • As pessoas não sabem por que estão votando no Aérciooooo ? eu sei. Porque a mídia pertence aos tucas. Excetos estes blogs sujos, maravilhosos.

    • Eu admiro tanto esse cara...
      Eu estudava Sociologia na FESPSP e em algumas aulas ele frequentava como aluno, sentava sempre ao meu lado. Lembro-me de ter emprestado uma caneta a ele.
      Eu não o conhecia e hoje em dia eu penso que se o conhecesse eu o importunaria tanto... Leio os textos dele e penso: Não acredito que esse cara sentava ao meu lado na faculdade.

      Acontece... rsrs

  • Meu Deus que coisa linda! É o nordeste pernambucano cantando e pulando por um Projeto de Brasil, que a maioria de sua gente, quer ver RE-AFIRMADO. É 1, é 3, Dilma outra vez. Abri meu peito, chorei de alegria e lavei a alma. Aécio entende não o povão, por fala nos ESTADOS DES—UNIDOS, entre outras coisas, “...que mulher no Brasil não trabalha... o povo só se mistura no carnaval... nunca fiz uma cama...” Aécio Pernambuco e o Brasil está dizendo, como sua terra natal,Minas Gerais, que lhe deu BASTA DE VOTOS que não lhe querem como PRESIDENTE. AÉCIO você é desocupado, um vagabundo, não nos conhece, mas vive e é rico com a grana que vem do suor do nosso trabalho. `Como dizia o poeta Thiago de Mello e a cantora Nara Leão, “ Faz escuro, mas eu canto por que amanhã/vai chegar./Vem ver comigo companheiro, vai ser lindo, a cor do/mundo mudar./Vale a pena não dormir para esperar,/porque amanhã vai chegar./Já é madrugada vem o sol quero alegria./Que é para esquecer o que eu sofria./Quem sofre fica acordado defendendo o/coração./ vem comigo multidão, trabalhar pela/alegria./Que amanhã é outro dia, que amanhã é outro dia”.

  • Coisa "normal" de moleque rico, oras. "Todo mundo" dele quer dizer "nós". O resto nao está incluído no mundo, é resto mesmo. Todo mundo tem duas empregadas, com exceção das empregadas. O problema não apenas que o moleque pense assim. O problema é que pensam assim aqueles que um certo ex-socióloo chama de "informados". No fundo... ele também pensa assim.

  • Aécio mostra os canais de transposição das águas do São Francisco que ainda estão em construção para criticar o governo Dilma, sem falar que os moradores da região estão amparados pelos programas de governo como o bolsa família, as cisternas, a luz para todos, o minha casa minha vida, as farmácias populares e os mais médicos e esconde o que está acontecendo nos governos do PSDB de MG e SP, onde todas as cidades alimentadas pela Copasa e pela Sabesp, estão em plena falta dágua. Falta água em todo o Estado de São Paulo e na maior parte do Estado de Minas, como Montes Claros, Lavras, Juiz de Fora, Extrema, etc., é só conferir. Outra mentira do Aécio é com relação aos obras de ferrovia, cujo trecho até Goias já está concluído e ele, demagogicamente, apresenta um novo trecho que está em construção, para criticar a obra. Aliás, ele só faz críticas, sem apresentar nenhum projeto concreto. Ele que construiu um novo palácio de governo em Belo Horizonte, e seus engenheiros se esqueceram de projetar as redes de esgoto. É este o fanfarrão que pretende ser presidente do Brasil.

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