Embora tenha reunido gente – alucinados e fanáticos – a festa bolsonarista de hoje já dá sinais de ter gerado uma ressaca que, amanhã, vai ser maior.
A crise política e econômica, que já vem em escalada, vão dar um passo grande ladeira abaixo.
Na política, como se disse antes, renasceu com força a questão do impeachment presidencial: a violação da independência e harmonia entre os poderes foi flagrante, expressa e documentada em áudio e vídeo.
Mesmo para Arthur Lira, será complicado contornar tamanha explicitude, cobrada agora não só pelos partidos de esquerda.
Parece ter surgido, até, o personagem que possivelmente venha a ser o autor do pedido: Celso de Mello, com a autoridade de ex-decano do Supremo e homem sabidamente conservador na política, em nada suspeito de esquerdismos e ainda voz reitora sobre o STF.
Sua manifestação, agora à noite, à revista Veja, foi tão dura quanto precisa:
“Bolsonaro é um político que não está, como jamais esteve, à altura do cargo que exerce, pois lhe faltam estatura presidencial e senso de estadista! Com esses discursos ofensivos e transgressores da autonomia institucional do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, incompatíveis com os padrões mais elevados da Constituição democrática que nos rege, Bolsonaro degradou-se, ainda mais, em sua condição política de Presidente da República e despojou-se de toda respeitabilidade que imaginava possuir”.
Na economia, mesmo com ela mais descolada da política, porque somos, agora, um mercado “N” vezes maior na especulação que na produção e comércio, também não sairá grátis a festinha de hoje e seus excessos.
Bolsa para baixo e dólar para cima – par de manual que não tem funcionado sempre neste país abilolado – são previsíveis e, em razão da insegurança, as tendências se forem fortes podem espichar muito, pela insegurança.
Quinta, tem IPCA de agosto e inflação anualizada na casa dos 9,5%. INPC, o custo de vida dos mais pobres (e o que reajusta, em tese, o salário mínimo) acima de 10% em 12 meses.
As reformas (a do Imposto de Renda e a administrativa) subiram no telhado e a “pedalada” dos precatórios ficou muito mais difícil. Bolsonaro precisa do “pacote de bondades” 2022, mas terá de encontra formas de romper o teto de gastos – tabu do mercado – para fazer isso.
Vai se construindo, econômica e politicamente, um cordão sanitário em torno de Bolsonaro.
Ou uma forca.