O rato que ruge e as instituições que miam

Quase 24 horas depois de o presidente da República tem mandado o presidente da Suprema Corte “enquadrar o seu” ministro e já 16 horas após , na Paulista, ter ameaçado virar a mesa do que a Câmara decidiu sobre a contagem manual dos votos, Justiça e Parlamento permanecem quietos.

Dizem, segundo o que fazem cochichar à mídia , que querem evitar o “clima de briga de bar”.

A única consequência real que tem-se, até agora, é a suspensão das sessões do Senado de hoje e amanhã. Vale dizer que os senadores ficam, institucionalmente, mudos até a semana que vem. Na prática, a reação ante quem quer fechar o Senado é este fechar-se espontaneamente.

Se a alegação de “razões de segurança” procedessem, muito mais razões haveria para não haver reunião do STF.

E lá no Supremo, depois de uma longa tertúlia em videoconferência, deixou para hoje, numa nova fala de Luiz Fux – já o havia feito mo início de agosto e na semana passada – onde se dirá que o Supremo Tribunal Federal, depois de ameaças e, agora, de um sonoro tapa na cara.

Arthur Lira, pessoalmente afrontado por um Presidente que a ele tinha prometido não voltar ao questionamento da lisura das eleições, passa o dia buscando formas de não cumprir seu deve de deixar prosseguir um processo de impedimento do presidente da República.

Sejam ou não duras as manifestações que venham (ou não) ser feitas, a falta de velocidade enche-as de covardia e esvazia-lhes a eficácia.

Infelizmente, o único a reagir incontinente, como não poderia deixar de ser diante da inacreditável afronta presidencial, foi um aposentado, Celso de Mello, que não tinha dever institucional, mas o tinha cívico e jurídico.

Razão completa tem Vinícius Torres Freire, na Folha de hoje, ao dizer que a elite ainda é conivente com Bolsonaro :

Bolsonaro continua a tocar o seu projeto sem que seja impedido de maneira decisiva, um sucesso relativo. Normalizou a discussão de golpe. Sujeitou o país à tutela militar: gente da política e dos Poderes vai até os quarteis perguntar se vai haver golpe.
Na prática, conseguiu fazer com que a maior parte da elite política e econômica aceitasse seu programa de destruição do “sistema”, elite que apenas se moveu diante da ameaça explícita e reiterada do golpe de Estado. Até agora, a degradação selvagem do país havia sido tolerada: saúde, educação, desumanidade, preconceito, cafajestagem, “rachadinha”, administração comezinha do governo, desprezo internacional, em parte e por alguns justificada pelos 30 dinheiros de meia dúzia de “reformas”, muitas delas porcas.

Não é possível, como aponta Freire, normalizar o golpismo, como se ele fosse tema a ser tranquilamente discutidos e objeto de ponderação.

Como em todo estupro, também os constitucionais têm de ser tratados com o “não é não.

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