É difícil acreditar na possibilidade – que virou a treta política do final da semana antecipado pelo jogo Brasil x Croácia – de que Arthur Lura “mele” o acordo para a aprovação da PEC da Transição na Câmara, como retaliação a um possível veto do STF ao Orçamento Secreto, na quarta-feira.
Claro que a ameaça é um jogo duplo de pressão, sobre Lula e sobre o STF, mas dificilmente se concretizará por uma simples razão: nem o presidente da Câmara nem os deputados do Centrão, caso venham a ser despojados da “bolada” de recursos das chamadas “emendas de relator”, tem o menor interesse em comprar uma briga de morte com o governo que vai se iniciar.
Briga que, aliás, Lula já deixou claro que não quer ter. As lembranças do período Eduardo Cunha estão bem vivas, mas não nos esqueçamos também de que Cunha, depois de detonar a crise de governabilidade, também foi tragado por ela.
O julgamento da legalidade do Orçamento Secreto, sobre o qual a única dúvida é sobre o quanto serão limitadas as franquias que o comando das Casas legislativas terão na distribuição daqueles valores milionários será tanto mais duro com os parlamentares quanto se evidenciar para o país que até disso fazem explícito instrumento de chantagem com o Executivo, até mesmo quando ele está recém-eleito e o tema é socialmente tão sensível.
Portanto, nada recomenda que Lira e o Centrão avancem além da criação de tensões e ameaças, ao mesmo tempo em que será inevitável que, ao STF, se torne politicamente necessário mitigar os efeitos de uma decisão restritiva.
Basta-lhes, no momento, sinalizar que sem o seu apoio o novo governo não terá condições de governar e não, desde já, tirar-lhe tal capacidade. Quem tem o governismo no DNA não pensa em matar a galinha dos ovos de ouro.
Essa parte da força cega, Lira vai deixar para os bolsonaristas.