Americanos e ingleses se foram de Libra. Vamos perder a chance de que fiquem fora?

Desculpem os amigos se corro o risco de me repetir, mas é tanto, tanto dinheiro envolvido – e dinheiro tão importante para o Brasil – que acho importante esclarecer o quanto possa, e a quantos possa, sobre tudo o que está acontecendo nesta preparação do leilão de Libra.

Em primeiro lugar, um acréscimo que só confirma o que disse antes: a Chevron, outra gigante americana, juntou-se à Exxon, a British Petroleum e a British Gás na sua retirada. Americanos e ingleses agiram coordenadamente, numa atitude claramente política.

Governo americano e petroleiras vivem em tamanho mutualismo que é impensável que esta ação em bloco não tenha o beneplácito – senão a inspiração – dos dirigentes dos EUA.

Segundo, que todo mundo sabe que há um esqueleto de acordo firmado entre a Petrobras e os chineses para entrarem juntas no leilão como força virtualmente imbatível. Porque os chineses querem “remuneração” em vendas firmes de petróleo bruto ao seu país.

Então isso seria ruim para o Brasil? Não seria muito melhor refinar o petróleo e vender derivados refinados? Em alguns momentos – e essa é uma tendência mundial pela insuficiência global de parques de refino – sim.

Mas a questão é que, pelo investimento e prazo de implantação de refinarias, se tudo correr bem,chegaremos a 2020 com uma capacidade de refino de cerca de 3,6 milhoes de barris/dia, apenas o suficiente para suprir o mercado interno de derivados. Mas a produção de petróleo já terá chegado perto de 6 milhões de barris diários, o que produz um excedente de perto de 2 milhões diários de petróleo bruto, que terá de ser exportado em cru.

Mas não deveríamos, então, investir mais em refinarias? Sim, mas de volta o problema: é caro e demorado fisicamente e o retorno econômico do investimento é lentíssimo, de uma década ou mais. Justamente por isso, no mundo, há um déficit de refinarias e, não por acaso, fazer refinaria não está sequer nos planos das petroleiras estrangeiras para o Brasil.

Além disso, um refinaria não opera com qualquer tipo de petróleo, ela só pode utilizar óleo com determinada densidade. Antes do pré-sal, 85% do petróleo que hoje produzimos é pesado. O do pré-sal, que vai corresponder ao aumento de produção, é leve.

A inconveniência do leilão de Libra está no valor do bonus inicial – de R$ 15 bilhões – que vai obrigar a uma descapitalização lesiva à Petrobras, que só pelos seus 30% obrigatórios na nova lei, terá um desembolso de R$ 4,5 bilhões. Se, como tudo indica, a participação da brasileira for de 60% ou pouco mais que isso, o desembolso será em torno de R$ 9 a 11 bilhões. Dinheiro que sai da sua capacidade de investir  para formarmos o tal – e mau – superavit fiscal.

Mas, frente à conjunção política que se formou, isso acaba sendo aceitável, se nos garante o controle majoritário do maior campo de petróleo do mundo, hoje.

Escrevo no início da madrugada, ainda sem ver as manchetes desta sexta.

Mas já deu para ver com que espanto e indignação a nossa mídia trata a saída de americanos e ingleses do leilão, falando em “fracasso” e “esvaziamento”.

E pergunto aos setores nacionalistas que ainda advogam o adiamento do leilão: não era isso o que o país desejava, sobretudo depois da revelação da espionagem americana sobre a Petrobras?

Vamos perder, por puerilidade, a oportunidade histórica de controlar hegemonicamente o maior campo de petróleo deste país e, hoje, do mundo? Tudo dentro da lei, das regras por ela lixada, com tal solidez que balizará o desenvolvimento exploratório do enorme tesouro do pré-sal ainda por ser descoberto ou delimitado?

A resposta a isso só pode ser um não!

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41 respostas

  1. Peço desculpas pelo email mas prefiro permanecer anônimo. É assim que comento no blog do Nassif.
    …….
    Teoria da Conspiração:

    E se as agências espiãs americanas e inglesas alertaram estas petroleiras para cair fora de libra pois os documentos vazados pelo técnico da NSA tem provas de fornecimento de informações privilegiadas a elas? Vai que elas ganhem! Um embroglio gigantesco!

    1. Se voce estiver certo, então a CIA, perdeu tempo tentando desestabilizar o governo Dilma em prol do PSDB/DEMO(FHC-Aercio-Serra). Todo o dinheiro gasto na imprensa, o dinheiro gasto na internet, e o tempo perdido pra mobilizar os coxinhas foi em vão. Ao menos a Democracia brasileira vai estar segura, pelo menos até o mundo precisar da agua do Rio Amazonas.

  2. Agora é que veremos quem está com o Brasil e quais são os políticos realmente compromissados com os reais interesses do POVO BRASILEIRO.

  3. Excelente artigo!!! De uma clareza como a luz!!!! É de jornalismo assim que precisamos, que nos esclarece, informa e nos faz refletir e ter consciencia do nosso patrimonio publico que é de todos os filhos desse país. Parabens Fernando Brito!!!!

  4. Ainda não tenho conhrcimento suficiente pars opinar. Mas desejo que a Petrobras tenha o contole de nossa riqueza.

  5. Prezado Fernando Brito, pela sua interpretação e pelo seu incontestável senso de nacionalismo brasileiro e embora permaneça o nó na minha garganta, estou digerindo um pouco melhor a realização deste leilão. A sua interpretação para os fatos está recheada com razões importantes e, nesse sentido, espero que este seja o momento dos BRICS.
    Hoje, não temos cacife para apagar os estragos feitos pelos governos do psdb, odioso fhc, ao Brasil.
    Toda essa rapinagem ao patrimonio brasileiro teve o psdb, dem, pp, pps e pig como protagonistas.

    1. Não fosse a privatização de vários setores, tanto o senhor, eu e o dono deste blog, estaríamos pagando R$10.000,00 para ter uma simples linha telefônica.

      1. Pra poder privatizar a telefonia, as estatais telefonicas eram obrigado a repassar seus lucros, ao invez de investir na infra-estrutura. Sem investimentos, o serviço prestado era prejudicado, e taxadas de ineficientes. O jeito LIBERAL de fazer o Estado funcionar mal, e poder privatizar.

      2. AH, você diz isso mas APOSTO que não faz ideia do porquê daquela situação. Só dou uma pista: era de propósito, mas não por vontade das empresas estatais.

  6. “Vamos perder, por puerilidade, a oportunidade histórica de controlar hegemonicamente o maior campo de petróleo deste país e, hoje, do mundo? ”
    Não! Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

  7. Fernando,
    Por que não tornar a Petrobras única operadora de Libra e de todo Pré-sal? Para isso, os bancos brasileiros e os fundos de previdência (os mesmos que bancaram a privataria tucana) deverão capitalizá-la, assim formariam uma empresa 100% Nacional (tecnologia + dinheiro). E quanto ao refino poderia se formar uma Join-Venture com as refinarias estatais dos países sulamericamos.

    1. Caro Robynson,

      Talvez a sua ideia seja de fato a ideal e a que mais nos orgulharia, mas na prática, seria assumir um enorme risco.
      O Fernando já falou dos elevados custos que essa exclusividade exigiria, então não vou sequer comentar (até porque vc mencionou a possibilidade – que até acho viável – de que o BNDES e outros Fundos e bancos nacionais entrassem nessa empreitada). O perigo, para mim, consiste em um situação que a maioria não enxergou ainda.
      Para conferir exclçusividade à Petrobrás, seria necessária a edição de lei. Lei essa que, na prática, Dilma conseguiria emplacar, tenho certeza.
      Mas digamos que, por uma trágica hipótese, Aécio Neves ou Eduardo Campos (em 2014 ou 2018) vençam as eleições.
      Nesse caso, há chnaces reais de que essa lei fosse derrubada sem maiores dificuldades, sendo substituida por outra, que determinasse a relização de licitação, mas agora sob regras neoliberiais e sem qualquer esforço de manter o controle do petróleo com a Petrobrás.

      Ao licitar o campo de Libra neste momento, sob regras rígidas e que buscam ao máximo (e dentro da lei) privilegiar e estimular o controle do petróleoo pela Petrobrás, o Governo Dilma garante, POR CONTRATO, que o Petróleo (e seus frutos) seja do Brasil.

      Insisto: nesse momento, a celebração de um contrato (que garanta o controle do óleo pela Petrobrás) representa uma garantia infinitamente superior a de uma simples lei que asseguraria uma vitória efêmera e temporária ao Brasil, mas que poderia ser facilmente derrubada por um governo neolibera tucano, entreguista por natureza.

  8. Belo exemplar do nacionalismo entreguista. outros: politica de mineração e privatização da infraestrutura de transporte (estradas e portos).

  9. Acredito: viram que é roubada, e caíram fora. Cadê a autossuficiência que o nove dedos ficou propagando? Qual a garantia REAL de que ali existe petróleo em abundância?
    BRASIL: UM PAÍS DE TOLOS…graças a Deus, ao meu esforço e da minha mulher, estamos nos capitalizando para deixar este bananal em alguns anos. Estou cansado de pagar tanto imposto e não ter nada em troca. Os partidos são um antro de ladrões e os políticos sérios, são raras exceções. PMDB, DEM, PT e PSDB, são todos iguais em sua essência: querem o poder para passar a perna e enriquecer às custas da população. É muita decepção.

  10. Não vai falar nada do Ministério do Trabalho?
    KKKKKKKKKKKKK Pimenta nos olhos dos outros é refresco!!!

    A bandidagem querem competir! Estou vendo qual partido é o mais corruPTo…

  11. Bom dia,

    A ideia de conferir exclusividade à Petrobrás é, de fato, arrebatadora, e talvez fosse a ideal e a que mais nos orgulharia. Na prática, porém, a medida representa enorme risco.
    O Fernando já falou dos elevados custos que essa exclusividade exigiria, então não vou sequer comentar (até porque já se mencionou a possibilidade – que até acho viável – de que o BNDES e outros Fundos e bancos nacionais entrassem nessa empreitada). O perigo, para mim, consiste em um cenário que a maioria não enxergou ainda.
    Para conferir exclusividade à Petrobrás, seria necessária a edição de lei. Lei essa que, na prática, Dilma conseguiria emplacar, tenho certeza.
    Mas digamos que, por uma trágica hipótese, Aécio Neves ou Eduardo Campos (em 2014 ou 2018) vençam as eleições.
    Nesse caso, há chances reais de que essa lei fosse derrubada sem maiores dificuldades, sendo substituida por outra, que determinasse a relização de licitação, mas agora sob regras neoliberiais e sem qualquer esforço de manter o controle do petróleo com a Petrobrás.

    Ao licitar o campo de Libra neste momento, sob regras rígidas e que buscam ao máximo (e dentro da lei) privilegiar e estimular o controle do petróleoo pela Petrobrás, o Governo Dilma garante, POR CONTRATO, que o Petróleo (e seus frutos) seja do Brasil.

    Insisto: nesse momento, a celebração de um contrato (que garanta o controle do óleo pela Petrobrás) representa uma garantia infinitamente superior a de uma simples lei que asseguraria uma vitória efêmera e temporária ao Brasil, mas que poderia ser facilmente derrubada por um governo neolibera tucano, entreguista por natureza

    Os que defendem, ainda que bem intencionados, o adiamento do leilão, estão, sem saber, fazendo o jogo de nosso piores e mais temidos adversários.

  12. Fernando vc me convenceu da oportunidade do leilão, pelo menos diminuiu minhas dúvidas. Gostaria de ler uma análise de sua autoria, se possível, do porque aumentar a taxa selic. Obrigado.

  13. Confesso que tenho evitado olhar para as matérias sobre o petróleo. Acho que não entendo nada disso, mas algumas coisas me chamam atenção: Será que é bom termos refinarias aqui? Quanto poluem? Acho que algumas para segurança de domínio de tecnologia e para segurança do abastecimento sim, mas só o mínimo necessário. Outra coisa, um amigo meu fez uma reflexão de que destinar o pré-sal para a educação era um erro. Seria ligar a educação ao atraso, pois o petróleo é uma fonte energética altamente poluidora e não renovável que temos que evitar o máximo o consumo…

    Como disse, não entendo nada de petróleo, mas um país tão bonito e com tanta cultura regional como o Brasil deveria viver de turismo e serviços, além da agricultura sustentável que somos pioneiros.

  14. Hi, seu Fernando Brito… Sua posição nesse assunto está estraaanha… Prefiro não entendê-la, vai que eu consigo. Defendo a suspensão do leilão, e digo porque: o bom e velho ‘na dúvida, pare, pense’. O petróleo de Libra, NO MOMENTO, já é nosso; pode ficar por lá até precisarmos dele. Pra quê colocar fatores externos – e bota externos nisso – nessa equação? Em último caso, Libre nem precisa ir a leilão, basta a Petrobras querer. Temos a faca, o queijo e a mesa, não precisamos chamar os vizinhos para cortar essa iguaria…

  15. Tijolaço, a desistência das empresas americanas Chevron e Exxonmobil, e as britânicas BP e BG, é pura malandragem desses gringos , tudo pra nos enganar e a petrobrás que vai cair como patinho. O esquema é o seguinte: As empesas americanas saem da disputa jogo de cena, uma empresa provavelmente a Shell (Anglo-Holandesa) compra alguns lotes de ações e mais tarde coloca a venda no mercado possivelmente com um preço alto( aqui acontece toda a tramóia). As empresas americanas Chevron e Exxonmobil, e as britânicas BP e BG de maneira simulada compram as ações superfaturadas. Depois tentaram revende-las para a Petrobrás que achando que será um bom negócio cairá no” conto do vigário”.

  16. Fernando,
    Por que não tornar a Petrobras única operadora de Libra e de todo Pré-sal? Para isso, os bancos brasileiros e os fundos de previdência (os mesmos que bancaram a privataria tucana) deverão capitalizá-la, assim formariam uma empresa 100% Nacional (tecnologia + dinheiro). E quanto ao refino poderia se formar uma Join-Venture com as refinarias estatais dos países sulamericanos.

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