A notícia crime apresentada hoje pelos senadores Randolfe Rodrigues, Fabiano Contarato e Jorge Kajuru, embora mais que suficiente de elementos, representa um enfraquecimento da CPI da Covid e, infelizmente, vai ajudar pouco, acho eu, na responsabilização de Jair Bolsonaro.
E isso acontece porque abre um caminho para que o Procurador Geral de República sirva-se dela para capitalizar sua ambição de ser indicado para a Corte Suprema pelo atual presidente.
O caminho natural da ação provavelmente será o de que a ministra Rosa Weber, sorteada para relatora, peça informações ao Palácio do Planalto e, depois disso, que envie o caso a Aras para que ele decida se deve promover denúncia a fim de processar criminalmente Bolsonaro.
Alguém acredita que ele o fará, faltando 15 dias para a aposentadoria de Marco Aurélio Mello e, consequentemente, para que o presidente possa encaminhar a nomeação de quem irá ocupar sua vaga?
Francamente, acreditar nisso é como crer em Papai Noel.
Politicamente, seria mais vantajoso que esta notícia crime amadurecesse e fosse, afinal, encaminhada pela própria CPI, por deliberação da maioria de seus membros, mesmo antes, se necessário, do relatório final.
Se a CPI será, como tudo indica, prorrogada por 90 dias, o procurador geral da República, então, ou será outro ou será o próprio Aras, mas sem depender ou aspirar de uma indicação ao Supremo.
E, ainda assim, será preciso submeter o pedido de abertura de investigação – com o afastamento do presidente, à Câmara dos Deputados e obter, lá, 342 votos para a abertura de um processo judicial.
Nada disso parece, hoje, ao alcance da oposição a Bolsonaro, embora, claro, possa estar, dentro de algumas semanas.
O grande mérito da oposição no processo em curso na CPI vinha sendo o de construir maioria.
É pouco compreensível que, mesmo com boas razões para agir, opte por fazer isso de forma fragmentada.