Argumentos de Barroso são prova de sua ingenuidade

É correto o conteúdo da declarações dadas hoje por Luís Roberto Barroso, ministro do STF, nua palestra a universitários brasileiros na Alemanha, dizendo que há um “esforço de politização das Forças Armadas” por parte de Jair Bolsonaro” e que – embora reconhecendo que não havia, até agora, razões para achar que elas “vão de deixar seduzir” por quem quer “jogá-las nesse universo indesejável para as instituições de Estado, que é o universo da fogueira das paixões políticas” – manifestou sua preocupação de que sejam usadas para atacar o processo eleitoral:

—Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral. Desde 1996 não tem nenhum episódio de fraude. Eleições totalmente limpas, seguras. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar. Gentilmente convidadas para participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo, disse Barroso.

Só que o ministro, então na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral, depois de meses de investidas brutais de Jair Bolsonaro contra o processo eleitoral e de repetidas afirmações presidenciais de que as Forças Armadas só iriam aceitar o que, no seu conceito, seriam “eleições limpas” não podia ser ingênuo ao ponto de achar que, chamado a participar da tal Comissão de Transparência Eleitoral, seria deixado livre para agir meramente com sua expertise cibernética.

O fato é que a “gentileza” de Barroso cria a legitimidade para que, não se sabe com que grau de intensidade, a participação militar se dê como ponta de lança dos interesses bolsonaristas.

Até porque impossível deixar-se de ver que o comando das Forças Armadas, de fato, era (e é ainda) exercido pelo general Walter Braga Neto, virtual companheiro de chapa de Jair Bolsonaro.

Não dá para acreditar que Luís Roberto Barroso tenha tido uma epifania que subitamente lhe revelou os perigos que se levantam contra as eleições e visto que seu “convite gentil” a fazer com que militares tivessem funções de zelar pela “transparência” do processo eleitoral não seriam levados a, ao contrário, lançar sobre eles a sombra de interesses daquele que não cansa de usá-las como ameaça.

Basta que os gentis convidados digam que as eleições não são confiáveis para que se crie uma crise que todos sabem a quem interessa e todos temem no que vá desembocar.

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