As manilhas, o brioche e o freeshop

O país deve agradecer à oposição, à mídia e ao “núcleo mole” do Governo – Michel Temer, José Eduardo Cardoso, Aloísio Mercadante e outros da turma do “recua mas não avança” – a monumental obra de salvação da Pátria realizada ontem.

Os deputados – saudados com um “é a independência desta Casa” pelo presidente da Câmara, Henrique Alves – aprovaram o Orçamento impositivo, ou seja, a obrigação do Governo em gastar R$ 7 bilhões com as emendas de Suas Excelências que, salvo exceções, se destinam a arranjos eleitorais em suas bases ou de suas “dobradinhas” com deputados estaduais, prefeitos do interior e vereadores. Nem aceitar a proposta do Governo de, pelo menos, vincular parcialmente este valor à Saúde, qual nada…

Do outro lado do prédio, Suas Santidades, os senadores, se dedicavam a uma causa igualmente nobre: aumentar para US$ 1.200 a cota de isenção nos freeshops dos aeroportos.

É que o uísque e perfume francês, com essa inflação galopante, estão pela hora da morte, certamente…

É nisso que deu a aliança para evitar o plebiscito da reforma política.

Era inconstitucional o povo decidir, isso seria um atropelo populista, etc, etc…

Mas para garantir umas verbinhas fisiológicas é possível emendar a Constituição, não é?

Ah, sim! Não havia tempo para as discussões aprofundadas que isso exigiria. Claro, os senadores estavam ocupados analisando profundamente qual seria o impacto para os cofres públicos do reajuste de caixas do “puro malte” liberadas para o carrinho do aeroporto…

A política e a imprensa no Brasil são de embrulhar o estômago, neste país.

O partido das elites – que é a grande frente política deste país – sabe que tá dominado, tá tudo dominado…

As meninas bonitinhas e os coxinhas do “padrão Fifa” não vão entender o que seus cartazes pueris e isso tem a ver entre si e a mídia não vai “desenhar” para que entendam.

Até aí, vai. Mas a dita inteligência brasileira, os partidos de esquerda, os “intelectuais” soi disant e os constitucionalistas de caderninho de telefone de repórter entendem.

Entendem e torceram o nariz à proposta de reforma política com plebiscito lançada – ao vácuo, como se viu – pela Presidenta Dilma Rousseff.

Mas está certo, um país se constrói com manilhas e uísque.

Na falta de brioches, é claro.

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