Biden prega derrubada de Putin e escala a guerra na Europa

Na sua escalada verbal contra a Rússia, o presidente dos Estados Unidos passou de qualquer limite a que um chefe de Estado deve se impor e, além de chamar Vladimir Putin de “carniceiro” disse que ele “não pode permanecer no poder”.

Por mais condenável que seja a ação russa, não há possibilidade de que, hoje, o presidente da mais poderosa nação do planeta peça abertamente a derrubada do presidente de outro país, ainda mais outra potência nuclear.

Foi tão desastrada a fala de Biden que, logo depois, segundo o NYTimes, a Casa Branca saiu a dar explicações de que o presidente dos EUA não havia sugerido “uma mudança de regime” na Rússia, mas que o sentido era o de que “Putin não pode exercer poder sobre seus vizinhos ou a região”.

O fato objetivo é o de que não deve haver no mundo pessoa mais feliz com Vladimir Putin que Joe Biden.

Fraco, inexpressivo, enfrentando uma fortíssima queda de popularidade, devastado por uma inflação altíssima (8%) para os padrões de seu país, e uma figura nula perante o mundo – todo o seu suposto empuxo ambientalista do início do mandato tinha se esvaído -, Biden agarrou-se à crise ucraniana e a oportunidade de ir além da retórica belicista da Guerra Fria.

Ajudam-no uma Europa fraca, sem líderes – Boris Johnson metido em escândalos, Olof Scholtz, frágil e inexperiente, e Emmanuel Macron, à beira de uma eleição difícil – e a China mais cautelosa do que sempre é, às voltas com uma nova onda da Covid, fechando cidades e preocupada com a perda do vigor da economia.

Até para as pessoas menos acostumadas aos jogos de palavras da diplomacia está ficando evidente que Biden não tem o menor interesse em uma saída negociada, que pare a guerra e a morte, mas que cinicamente se vale das cenas de morte e horror da Ucrânia para, ainda que com sinais evidentes de decrepitude, surgir como “campeão do mundo livre”.

Ainda que isso o faça forçar os limites de um conflito que pode, com um mero apertar de botão, evoluir para uma guerra mundial, de proporções devastadoras.

A mídia, quase que unanimemente, repete que os russos estão militarmente atolados e que os cidadãos do país estão quase que sublevados contra Putin, que estaria, portanto, à beira de cair. Isso justifica, claro, forçar a barra por uma “vitória final” sobre o regime russo que desconsidera todo o poder que ele tem e que, por mais que nos choquem as cenas de destruição na Ucrânia, não chega nem perto do cenário que o uso de armas nucleares deixaria. Quem duvidar, olhe as fotos de Hiroshima e Nagazaki.

A propósito, ninguém chamou o então presidente dos EUA, Harry Truman, de “carniceiro”.

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