É destaque na mídia a primeira inserção de propaganda de Jair Bolsonaro, supostamente “falando aos jovens”, para combater o que seria a influência pró-Lula de “artistas” sobre esta faixa do eleitorado, dizendo basicamente que sigam os conselhos dos pais.
Seria quase uma sessão do saudoso (para os sessentões) palhaço Carequinha, com a música de Altamiro Carrilho, que ensinava que “o bom menino não faz pipi na cama/o bom menino não faz malcriação” se não tivesse um erro fundamental do que chamam de target em publicidade.
O discurso de Jair Bolsonaro não é para os jovens, mas para os pais que, ele imagina, dariam como “conselho” aos filhos: votar nele.
Qualquer um que tenha criado filhos sabe que lhes dizer, como ordem, o que fazer, em geral, não é exatamente um bom método para convencê-los. Aliás, é quase o pior, ao lado do outro que a peça insinua, o de pretender sabedoria.
Faz só alguns séculos que se conhece a insubmissão típica da juventude.
Há outro traço fundamental no “comercial”, que se detecta com uma simples pergunta: quantas vezes, depois de anos de exposição pública, você viu Bolsonaro sentado em um banco, conversando calmamente com jovens, sem posar de machão, sem fazer caretas de mau, sem falar grosseiramente, sem fazer gestos espalhafatosos e sem soltar risadas imbecis?
Pois é, o Bolsonaro de verdade não estava ali, mas uma versão fake, calma e professoral, num “diálogo” simulado no qual só ele fala e a única interação verdadeira é a “selfie” simulada.
Muitos podem achar que o Bolsonaro “fake” é mais agradável que o “real”, mas é preciso lembrar que é o realmente tosco e bruto Bolsonaro que tem mais de um quarto do eleitorado e que algumas poucas aparições edulcoradas na TV substituirão a imagem que ele construiu por anos e anos.
Os cortes sucessivos facilitam compensar a dificuldade de Bolsonaro em falar com naturalidade, mas isso acaba se perdendo com o final, com seu slogan recitado como se fosse uma criança lendo uns versinhos “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, seremos uma grande nação.”… ão, ão, ão
Acho que o marqueteiro que Valdemar Costa Neto empurrou para o lugar de Carluxo não dura muito.