Cães ladram e os camelos passam na caravana da Cop

Na sua incrível capacidade de propagar a insignificância, mesmo nos momentos mais grandiosos, a imprensa brasileira, no dia do retorno do Brasil ao cenário das relações planetárias – depois de anos como pária maldito – não conseguiu, até agora, dar-se conta da importância deste “o Brasil voltou” que o mundo saúda e consegue, sem nada além de intrigas, focar sua atenção no fato de que Lula viajou ao Egito de carona no avião de um empresário.

Ou a “dar um gás” a duas dúzias – se tanto – de fanáticos que promovem “escrachos” contra os ministros do Supremo Tribunal Federal que participam de um evento – nada “esquerdista”, aliás – em Nova York.

Quem estava acostumado ao “velho jornalismo” esperava, no mínimo, que se fizesse um balanço dos últimos anos de nossa (não) participação nos fóruns mundiais sobre a questão ambiental, as oportunidades perdidas e a devastação permitida, neste tempo, de nossos biomas.

Nada sobre mineração ilegal, exploração madeireira, degradação de áreas transformadas em pastagens, mudança nos padrões de enchentes e secas, na vida dos ribeirinhos, na evolução dos eventos extremos no últimos anos.

Lula está, agora, para reunir-se com John Kerry, principal autoridade ambiental e membro do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e não há uma reportagem sobre o que pode ser a pauta, inclusive numa cooperação inédita sobre a conservação da Amazônia. Nem ao encontro, logo depois, com o alto representante da China para Mudanças Climáticas, Xie Zhenhua.

É bem um retrato do que o jornalismo de superficialidades que temos hoje é capaz de transmitir à população. Uma chance de mudar os rumos desastrosos do planeta e, nela, o lugar de protagonista que precisa ter.

Os camelos, porém, passam – no Egito e fora dele – embora todos só escutem o ladrar dos cães.

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