Celso de Mello e o dever de descortinar a pocilga

Nada pior que a sensação de impotência diante de um assassinato coletivo.

Pois é o que está acontecendo e está além de nossas possibilidade alcançar qualquer possibilidade de mobilização para evitar isso.

Ninguém poderia prever, é verdade, a pandemia do Covid-19, mas era possível prever-se o que nos restaria se a política fosse destruída como mediadora das relações de poder.

Como era possível imaginar que polícia e sistema judicial a substituísse e passasse a ter poder de vida e de morte sobre as escolhas da população.

Sim, era possível imaginar em que daria a ascensão do fascismo ao poder, impulsionado pelo ódio, pelas razões absolutas, pela invocação de Deus para legitimar os apetites dos homens e da moral como alfanje para cortar cabeças humanas.

O vírus veio, apenas, ser o catalisador deste processo – e catalisador, como se sabe, é o que acelera um fenômeno que já ocorreria lentamente.

Em dois meses, 16 mil brasileiros morreram, algo como caírem 100 aviões com 160 pessoas cada a bordo, sem sobreviventes.

Isso se multiplicará por cinco, seis, dez vezes ou mais, porque não serão apenas os mortos do Covid, mas os que virão do empobrecimento e de todas as consequências perversas que traz e que, é evidente, não serão evitadas com a lojinha que reabre nem com a academia de ginástica que volta a funcionar.

Sexta-feira, dois generais que enlameam o Exército Brasileiro, ao se prestarem ao papel de servirem de seguranças de um psicopata miliciano, disseram que isso não é tão grave, porque morrem tantos ou mais de acidentes de trânsito, infartos, etc, etc. E, sabendo que estamos apenas no começo, “comemorar” que seja ainda (e nem tanto) baixa a taxa de mortalidade por cem mil habitantes que logo estará entre as maiores do mundo.

É preciso que hoje também possamos ter outra catálise, para que o país tome conhecimento, sem rebuços, da quadrilha que está instalado no Planalto. Tomara que o ministro Celso de Mello compreenda que, para amnistrar Justiça, seja necessário ao povo saber como falam e se portam, numa reunião de Ministério, em plena catástrofe sanitária, agindo como porcos guinchantes, sem o mínimo espírito público.

Manter a imundície protegida pelo sigilo daqueles que, em tese, são os verdadeiros donos do poder, os cidadãos e cidadãs deste país é deixar de fazer o que nós, como disse ao início, não podemos fazer: reagir.

O decoro, a decência, o respeito às instituições não são atitudes que governantes devam ter apenas em públicos. Se os violam, chafurdando dentro do próprio Palácio do Governo, não é Justiça aquilo que vendar os olhos da população.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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