Centro-direita, cega pelo ódio, caminha para o suicídio

Há anos este blog chama a atenção para o fato de que a política de Jair Bolsonaro, desde antes de sua posse, sempre foi a de ser o “imperador da direita”, usando de todo e qualquer artifício para isso: armas, invocações a Deus e manipulação da fé, corrupção orgânica das bancadas parlamentares, demolição das instituições e o seu oferecimento às adormecidas, mas não extintas, ambições militares dobre o controle do país. Não menos importante: o mercado viu do ambicioso candidato e presidente, não sem razão, o caminho para os ganhos imediatos à custa do retrocesso social.

Não que todas estas áreas não o tenham percebido o risco de desastre, mas, escancaradamente, buscavam surfar a onda bolsonarista acreditando, cada um, que iria sair lucrando disso também politicamente, tornando-se mais poderosas.

O resultado está aí e dispensa descrições. o Brasil milicianizado, o Congresso prostituído, o Judiciário metido em brigas de rua, os militares excitados (perdão pela ironia) e o país – que Paulo Giedes diz, de novo, estar “decolando” – cheio de armadilhas fiscais e inflacionárias cuja única dúvida é se vão disparar antes ou depois das eleições.

Fixo-me, porém, nas estruturas políticas. Mal ou bem – e com os incríveis sacrifícios pessoais de Lula – a esquerda sobreviveu, mas a direita que não fosse a do fanatismo bolsonarista, não.

É incrivelmente verdadeiro o que diz hoje a historiadora Carla Teixeira, no UOL:

Sem Sergio Moro, João Doria ou qualquer outro nome com condições de fazer a disputa, a terceira via está declaradamente morta. O bolsonarismo, ao contrário, segue mais vivo do que nunca, alimentando-se como um verme dos restos apodrecidos de qualquer projeto político pretendido pela direita brasileira. A ânsia por implantar a agenda econômica neoliberal — que paralisa os investimentos públicos e entrega as riquezas do Brasil para o capital privado — levou ao golpe de 2016. A necessidade de sua manutenção fez toda a burguesia, incluindo PSDB, MDB, DEM et caterva, a apoiar Bolsonaro em 2018. Na prática, os partidos da direita liberal abriram as portas da República para o bolsonarismo, perdendo força eleitoral e política no país. Cavaram a própria cova.

De fato, é difícil não ver outra situação, com os partidos de (vá lá) centro-direita arruinados e escolhendo de candidatos apenas para que sirvam de biombo a sua adesão a Bolsonaro e se prestem as disputas pelo controle cartorial das siglas.

Curiosamente, está nas mãos de Lula salvá-la do seu algoz – que não entendem ser seu destruidor – e oferecer, por razões mais políticas que eleitorais, um lugar para que Geraldo Alckmin figure, num novo governo, como facilitador de uma reorganização destas forças, num inevitável reagrupamento de partidos pós-eleitoral.

É o preço a pagar pela normalização da vida brasileira. Não só estabelecer um novo governo, mas também uma nova oposição.

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