Muita gente que aderiu ao golpismo de 2016 o fez, certamente, por ilusão ou conveniência. Afinal, o clima convidava à histeria ou ao oportunismo.
Mas alguns grupos nada tinham de purismo ingênuo e embarcaram no morismo e no bolsonarismo como forma de enquistarem-se na política.
Dissolvidos seus “mitos”, buscam desesperadamente um espaço de sobrevivência, que se tornou difícil, inviável, até.
Há três anos sua base política vem sendo cooptada para o bolsonarismo.
Não falo apenas dos MBL, Vem pra Rua e outros grupos da nova direita, mas também dos da direita “convencional”: DEM, PSDB e de parcelas do MDB e de outros partidos, além do PSL que rompeu com o atual presidente.
João Dória, inclusive, encalacrado numa situação em que não consegue sequer impor sua liderança nem entre tucanos, nem entre paulistas.
Em lugar de assumir os erros que fizeram se lançando à aventura golpista e bolsonarista, faltando-lhes a autocrítica que tanto cobravam ao PT, querem avocar a vanguarda de uma oposição “não personalista” ,que, há três anos, personalizava-se em “Bolsodorias” e outras simbioses com o “Mito”.
Hoje, dois personagens do MBL, Kim Kataguiri (DEM) e Rubinho Nunves (PSL) procuram, em artigo na Folha, com muitas voltas, assumir a liderança de uma manifestação que reuniria, segundo eles, “políticos e lideranças de partidos, a exemplo de MDB, PSDB, Cidadania, PC do B, PSOL e outros”. Os partidos a que eles pertencem nem mesmo estão na lista…
Claro que isso não os impede de serem, hoje, antibolsonaristas, mas impõe, no mínimo, humildade e um diálogo franco com os que resistiram a estes tempos de fanatismo. Não devem ser condenados a serem, como andam sendo, de zumbis perdidos em não ser nem uma coisa nem outra, mas precisam deixar esta condição, para serem algo.
A política não é uma “geleia geral”. Há identidades, há princípios e, sobretudo, há a necessidade de que o ombro a ombro dos integrantes de alianças possa ser erguido na base da confiança.
Não deve haver nenhum obstáculo para entendimentos entre forças de esquerda e centro-esquerda e forças conservadores, mas isso deve se fazer pelo diálogo e pelos compromissos, não com golpes de esperteza nem tentando ilaquear a boa-fé da população de que não há diferenças entre elas, nem que todos ali querem tanto o fim do bolsonarismo que seriam capazes de superá-las em nome deste sentimento.
Mas não são.