Nunca um candidato teve tanto para vencer eleições quanto Jair Bolsonaro.
Tem um núcleo ativo e aguerrido de apoiadores, tem uma enorme quantidade de parlamentares alinhados à sua candidatura – ao menos formalmente – e a capilaridade que precisa para atingir os “rincões e grotões” que tanto despreza, tem a proteção de um Ministério Público e um Judiciário que engavetam ou freiam a apuração de todas as situações de abuso ou desvio que praticou, tem dinheiro a rodo do Fundo Partidário, tempo de televisão e, além do mais, tem acolhida numa “elite” que, sem qualquer dificuldade, aceita ter um energúmeno tosco como presidente do país.
Sobretudo, tem o candidato que pode dispor, em favor de sua candidatura, de dezenas de bilhões de reais do dinheiro público para influir no voto popular, numa escandalosa tentativa de trocar o voto por pratos de comida para um povo acicatado pela fome.
Apesar disso, porém, é o povão quem, na sua lucidez instintiva, quem está fazendo Jair Bolsonaro para uma derrota inapelável, que as pesquisas desenham.
Os 47% de Lula não contam toda a história.
Porque ele tem 58% entre quem possui apenas o ensino fundamental, 55% dos que recebem o auxílio-emergencial pago pelo governo Bolsonaro, 58% dos que ganham até 1 salário mínimo, 52% entre os pretos e pardos, 63% entre os sofridos nordestinos.
Em todos estes grupos, Bolsonaro tem menos de 30%, em geral bem menos que isso.
Todos são dados da pesquisa Ipec de ontem, e podem ser conferidos aqui.
Que vergonha e que denúncia da pequenez da elite brasileira e para os que, mesmo sem pertencer a ela, a seguem, cegamente.
Até mesmo para muitos de nós, jornalistas, que achamos eleições algo que se resolve com quinquilharias e marquetagens e ficamos numa crítica – justa, mas insuficiente – que não enxerga que o mal de Bolsonaro não é o de pretender um Brasil sem seu povão, justamente aquilo que Lula, com todos os erros e limitações – em muitos anos lhe deu.
Sim, isso é o que o Brasil precisa: a esperança e a fome de direitos para seu povo, primeiro passo para qualquer projeto nacional de desenvolvimento, que não é um livrinho que irá suprir.
É isto o que está tendo o poder capaz de reverter todas as vantagens “convencionais” de Bolsonaro.
Poucos entendem que não temos de conduzir o povão, mas deixar que ele nos aponte o caminho.