Por uma coalizão contra a estupidez

É preciso que esta semana seja marcada por um momento de sensatez e responsabilidade das forças políticas de centro e até de direita, correspondendo aos gestos de abertura e participação que Lula, pessoalmente, lhes fará.

Porque o Brasil precisa como nunca de uma ampla coalizão fundada em um único ponto: o fim da estupidez a que fomos atirados não só pelo governo que se encerra mas, sobretudo, pelo epílogo enlouquecido que ele faz o país viver.

Temos de tudo, desde inócuas chamadas de celular dirigidas a alienígenas até as situações mais graves, como a de militares “passando pano” a bloqueadores de estradas, ministro do Tribunal de Contas descrevendo “movimento na caserna”, selvagens dizendo que um garoto perder a visão por conta de seu piquete em rodovia ou, na mais macabra cópia do american way of death do adolescente capixaba que invade e mata professores e alunos em duas pacatas escolas.

Temos, não deveríamos ter mais, mas teremos, talvez piores no mês que falta para a posse do novo governo do que neste que transcorreu após as eleições.

Nos jornais deste domingo, não faltam advertências de gente série e ponderada. O professor João Cezar de Castro Rocha, na Folha, avisa:

O bolsonarismo manipula a ilusão da militância para defender ditadura “com Bolsonaro no poder”. Esse é o mais grave atentado contra a democracia brasileira. As eleições foram vencidas pela frente ampla: o parque temático do golpismo bolsonarista converteu-se em organização criminosa e, se não for coibido imediatamente, o circo permanecerá em atividade com a intenção tão clara quanto delinquente de tumultuar a transição do poder e a posse de Lula e Geraldo Alckmin.

Mas não se pense que serão a esquerda e seus aliados os atingidos por esta facção que se formou à sombra de Bolsonaro. A ousada e inepta ação procurando anular 60% dos votos dos brasileiros, arrastando para as ordens golpistas os que integraram sua base eleitoral é a demonstração cabal que o bolsonarismo não pode ter companhia na sua objeção a que um novo governo possa dirigir o Brasil com um mínimo de crédito e liberdade de ação.

Aceitar a autonomia política do Legislativo, com a provável recondução de Arthur Lira à presidência da Câmara e a de Rodrigo Pacheco à do Senado foi um gesto inequívoco desta disposição e, espera-se, virá a ser correspondido com o voto de confiança que merece o governo que dá esta demonstração de diálogo.

O limite, porém, é a defesa da legitimidade do resultado eleitoral, cuja consequência óbvia é garantir que o governo que saiu das urnas possa implantar-se em meio a uma situação de absoluto descalabro orçamentário que, se não fosse revertido, inviabilizaria em dois ou três meses a gestão pública.

Não se pede uma aliança política, programática ou mesmo de longo prazo, mas a solidariedade numa travessia das águas sombrias de um caos absoluto que mostra seus perigos a quem os quiser ver.

Ou então, que assumam o risco de bater palmas para malucos dançarem.

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