O governo sabe da necessidade de cortar significativamente o consumo de energia para evitar o cenário de quedas e apagões que está inevitavelmente se formando no país. mas teima em se fiar do “tudo vai dar pé”, protelando as decisões que tem de tomar para reduzir o consumo de eletricidade e preservar os estoques hídricos para que durem, ao menos, até o fim de novembro, isso se a temporada chuvosa se iniciar, como prevê o Instituto de Pesquisas Espaciais, no finalzinho de outubro, início de novembro.
Agora, anuncia cortes de 10% no consumo de órgãos públicos federais, o que, se não fosse o cenário desértico no qual estamos, seria uma gota d’água no oceano. Já seria pouco e se torna menor ainda porque este corte é difícil de ocorrer em instituições que já estão com baixa ocupação física (universidades e repartições que ainda funcionam em regime semipresencial) e em hospitais, quartéis, unidades policiais federais, que têm de permanecer normalmente iluminados 24 horas por dia.
Portanto, uma mera “abobrinha” energética.
Para a semana que vem, prepara um mecanismo de “bonificação” por redução de consumo, que ainda não se sabe bem como será, embora faltem tão poucos dias para entrar em vigor. Não se sabe exatamente, mas tudo indica que será voltado para beneficiar empresas que possam remanejar horários de produção. Pode ajudar, se é que será viável, no manejo dos picos de consumo, mas não alivia os custos de produção, pois quase não mexerá no consumo total.
Ontem, numa mesa redonda sobre “Racionamento sem maquiagem: o enfrentamento claro da crise”, integrantes do Instituto de Defesa do Consumidor e do Instituto Clima e Sociedade estimaram entre 5% e 25% a necessidade de redução do consumo de eletricidade em relação ao registrado em 2002 para alcançar algum equilíbrio nas reservas hidráulicas. E que o uso de térmicas com a intensidade que em hoje levará a um aumento 13% e 16% nas tarifas, “podendo ser maior caso nada seja feito agora para preservar o nível dos reservatórios de água”, alertaram.
A previsão é tétrica sobre o custo disso para os consumidores residenciais, diz uma nota do ICS:
“A redução do consumo total de energia já é obrigatória, dado que a ampliação da oferta atingiu um custo inviável. O Operador Nacional do Sistema Elétrico relata que o Custo Marginal de Operação (CMO), que é o custo previsto para adicionar 1 MWh à oferta por meio do parque gerador existente, alcançou R$ 3.044,45/MWh em agosto, quando em agosto do ano passado estava em cerca de R$ 100/MWh. Esse aumento vai resultar em pressões nas tarifas de todos os consumidores cativos. Além disso, a tendência é piorar, tendo em vista que a crise hídrica continua se aprofundando, com o nível dos reservatórios caindo rapidamente e o consumo de energia subindo.
Como você vê no quadro acima, 55,3 milhões de lares brasileiros de baixa e média-baixa renda consomem 47% da energia destinada a residências, enquanto 19,6 milhões (cerca de um terço do total) gastam 53% da carga elétrica.
Bonificações, se forem custeadas com aumentos futuros de tarifa vão, portanto, penalizar mais quem gasta menos, porque castigarão quem não tem economia a faazer. Aliás, muitos daqueles dois lares mal vai além de um lâmpada, uma TV e da geladeira, quando vai.