Começou a ofensiva de Eduardo Cunha sobre seu beneficiário ingrato Michel Temer.
E começa pela via indireta. Ou nem tão indireta, porque vai a uma peça essencial do que se poderia chamar de “pequeno núcleo próprio” de Temer, Moreira Franco.
Veja o que ele diz ao Estadão:
Ele é muito mais do que eminência parda. Moreira Franco, que se diz sociólogo, é o cérebro do governo. Foi ele que articulou a candidatura do genro, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para ser presidente da Câmara, atropelando a base aliada.
Dilma dizia que o sr. era quem mandava no governo interino.
Fica claro hoje que não era. O Moreira Franco era vice-presidente (de Fundos e Loterias) da Caixa, antes do Fábio Cleto, que fez a delação falando de mim. Quem criou o FI-FGTS na Caixa foi o Moreira Franco. Toda a operação no Porto Maravilha foi montada por ele. No programa de privatização, dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vêm de onde? Do Fundo de Investimento da Caixa. Ele sabe de onde tirar dinheiro. Esse programa de privatização começa com risco de escândalo. Nasce sob suspeição.
Delatores dizem que o sr. recebeu propina na obra do Porto Maravilha. E Fábio Cleto era ligado ao sr., seu braço-direito na Caixa.
Fábio Cleto era ligado à bancada do PMDB e eu desminto qualquer recebimento de vantagem indevida. Acho engraçado quando você pega e fala de delação, citando Porto Maravilha, quando quem conduziu toda a negociação e abertura de financiamento, em conjunto com o prefeito do Rio (Eduardo Paes), foi o Moreira. E agora aparece uma denúncia e é contra mim? Isso é surreal. Quem comandava e ainda comanda o FI (Fundo de Investimento) chama-se Moreira Franco. E lá tem muitos financiamentos concedidos que foram perdas da Caixa. Na hora em que as investigações avançarem, vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo.
De que perdas o sr. fala?
Uma de que me lembro foi da Rede Energia. Outra foi da Nova Cibe. O uso de energia, na época, teve escândalo grande.
O sr. tem provas em relação a Moreira Franco?
Estou levantando suspeição, em minha defesa, por uma razão muito simples. Há um inquérito instaurado com uma delação do Fábio Cleto em cima de uma operação que foi feita quando Moreira era vice-presidente da Caixa.
Como se vê, Eduardo Cunha começa a mostrar os trunfos que guardou e que o Governo Temer não pode deixar que permanecessem guardados quando não protegeu seu parceiro instituidor.
E escolheu para isso uma figura que não tem credibilidade nem mais para ser candidato a vereador em sua cidade, Niterói, de onde foi escorraçado politicamente.
Cunha não escolheu mandar sinais, desta vez. Mandou um petardo. E no ponto que sabe mais ser vulnerável, porque todas as posições de governo que Moreira Franco ocupou nos governos Dilma e Lula o fez indicado por Michel Temer, assim como ocorreu como Eliseu Padilha.
Perdido o mandato e lançado às feras, Cunha parece ter se decidido a “entregar sem entregar”. Como ele diz sobre o seu “livro” (caixa?) vai expor fatos e que cada um tire suas conclusões.
Há, neste momento, um gato angorá de pelos arrepiados.