Atrasado, por causa de uns problemas de saúde já superados, não posso deixar de me juntar aos muitos que prestam as homenagens devidas, embora nenhuma vá superar a que, sem ser, o foi: a fala de Raduan Nassar e a reação de Roberto Freire, que mostra seguir a luta entre inteligência e estupidez em nosso país.
Em lugar de falar sobre Darcy, conto um história das que tive oportunidade de viver, por conta da política. Pequena, simples, mas que me ficou como uma lição a ser seguida diante das dificuldades.
Era 1986 e Darcy o candidato à sucessão de Brizola, no Brasil massacrado pela histeria do Plano Cruzado, cuja denúncia nos fazia malditos. Acreditem os mais jovens ou não, naqueles tempos, não idolatrar José Sarney era pior do que hoje é criticar Sérgio Moro.
Darcy não era apressado só ao pronunciar as palavras, uma cachoeira verbal que alguns tinham dificuldade de entender e quase todos de acompanhar. Não gostava de política, fazia apenas porque era o meio de realizar suas utopias e os compromissos de campanha lhe eram um suplício.
Eu fiz parte de um deles: a produção do programa de TV, sob o comando de uma de sua auxiliar de sempre, a workaholic Tatiana Memória, coordenadora do programa dos Cieps.
E, certo dia, atém do risco de sempre de conter a impaciência de Darcy e fazê-lo gravar o programa de TV no “estúdio” mambembe que montáramos num edifício do centro do Rio – a tecnologia de vídeo era “a vapor”, perto da de hoje, e a nossa era mais atrasada ainda, quase a manivela – me vi diante da aventura mortal de mantê-lo quieto durante uma hora, enquanto consertávamos um dos nada raros problemas técnicos.
A certa altura, caí na besteira de tentar acalmá-lo com uma explicação mais detalhada do problema que estávamos enfrentando e ele olhou para mim, com olhos muito brilhantes, e simplesmente me perguntou:
-Brito, você conhece o Egito?
Foi a minha vez de ficar impaciente, na impaciência dos meus 28 anos: eu explicando a decomposição do sinal de vídeo em vários cabos e ele vem me perguntar de Egito? Como nunca fui de respeito reverencial, fiz uma cara de “Pô, professor, qual é?”.
Ele insistiu:
-Sabe as pirâmides?
Aí eu perdi a paciência. O que é que tem a ver uma coisa com a outra?
– Lá não tinha guindaste, não tinha corrente, não tinha caminhão. Só tinha crioulo, que eles traziam do Sudão.
Eu estava a um passo de perder as estribeiras e a voz dele adquiriu uma súbita tranquilidade paciente.
-Elas estão lá até hoje, não é? Então, meu filho, lembre de uma coisa: os problemas passam, as soluções ficam. Vai lá e me traz uma, é mais fácil que no Egito.
Guardo com carinho a lembrança bíblica do ateu Darcy, de que não só é vã a fé sem obras, mas que a obra da fé é remover montanhas.
E não esmorecer se, para isso, seja preciso carregar pedras infindas.
20 anos depois de sua morte física, as pirâmides de Darcy, em ideias, prédios e amores as nossas gentes estão aí, de pé, monumentais.
5 respostas
Gloria do nosso pais Darcy Ribeiro, assim como Raduan Nassar são pessoas que amam esse país, quanta diferenças desses trogloditas da direita que hoje propagam ódio , intolerância e corrupção pela mídia e pala web.
Cláudio Humberto, aquele que era porta voz do Collor? Sei… e a turma do Temer que foi ao velório? Pagaram as passagens do próprio bolso ou você NÃO SABE?
A redação da ‘Folha dos Frias da puta’ é uma usina de monstrinhos(as)!
Mais uma prova cabal
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(…)
Entre as funções que Luís Cláudio [filho caçula do presidente Lula] exercia estava colocar nos gramados que balizam os exercícios dos jogadores. Foi ajudante do técnico Wandeley Luxemburgo.
(…)
em
‘Odebrecht bancou treinamento empresarial para filho caçula de Lula’
Por
Wálter Nunes
Fábio Zanini
Bela Megale
19/02/2017, 02h00 [deste ‘domingão’]
CACHOEIRA – perdão, ato falho -, FONTE [IMUNDA!]:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/02/1860035-odebrecht-bancou-treinamento-empresarial-para-filho-cacula-de-lula.shtml
FALA, MATUTO!
Os impropérios covardes perpetrados pelos três pilantras que escreveram a matéria [pseudo]jornalística podem ser comparados com a seguinte acusação torpe:
‘a função principal daquele cirurgião é a de cortar o fio da sutura!’
Ou seja, na ‘reporcagem’, ainda que fosse a função a ser destacada no bojo das atribuições, “colocar nos gramados cones que balizam os exercícios dos jogadores” deve ser considerado um labor digno. Muito mais digno, inclusive, do que na calada da madrugada [02h00 deste ‘domingão’] publicar abjetos assaques preconceituosos contra os inimigos ideológicos.
Portanto, seus “repórteres dos Frias da puta da Folha”, vocês não passam de reles sabujos dos patrões barões do PiMG (Partido da imprensa Mafiosa &$ Golpista)!
Vocês se submetem à função precípua de exercer o canalha e infame jornalismo de guerra!
Ou seja, a principal função de funções é o de assassinato [seletivo, por óbvio] de reputações!
Essa, sim, atitude laboral reprovável e tragicamente desonrosa!
Messias Franca de Macedo – um simples matuto proletário do Sertão/Agreste baiano
ótimo texto.
A política brasileira vive de acumular absurdos; aparece um novo praticamente a cada dia que passa. E um dos maiores que já vivenciamos foi, sem dúvidas, a derrota do grande, do genial Darcy Ribeiro na eleição para o governo do Rio de Janeiro citada pelo Brito.
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O vencedor daquela eleição foi um sujeito desprezível, uma coisa espúria cujo apelido é Angorá. Graças, já naquela época, à grande campanha de manipulação e mentiras propalada pela mídia hegemônica.