De que não vai restar pedra sobre pedra, do Brasil?

pedra

Toda a mídia – e não excluo este e outros blogs – está dedicada a saber que políticos estão “na lista”  de Janot.

E o surgimento súbito do nome de Aécio Neves mostra que temos nós, os outsiders, de juntar trabalhosamente pedacinhos de informação que é, em geral, sonegada pela grande imprensa, com a devida ressalva do trabalho, ontem, do Estadão, que o revelou ontem.

Há mais, muito mais a ser apurado, inclusive como, ao que parece, toda a corrupção no Brasil se fizesse, há décadas, por um bandido desqualificado, condenado e libertado pelo Sr. Dr. Juiz Sérgio Moro, uma espécie de Personal Judge de Alberto Youssef , numa inacreditável violação do princípio do juiz natural.

Não se sabe quem roubou, quanto, como e quanto do que dizem as dúzias de “delatores premiados” banhados no Rio Jordão pelo Dr. Moro e pelo Ministério Público.

Sabe-se, porém, quem foi roubado: o Brasil.

Foi e está sendo, porque a espetaculosidade com que tudo está sendo conduzido e o movimento desesperado dos acusados para transitar para o campo da oposição histérica ao Governo, onde se garante o silêncio e a impunidade, está roubando o Brasil, ainda hoje e, com certeza, muito mais do que o fizeram Youssef, Costa e os que a eles se aquadrilharam.

O Brasil “de baixo” ainda segue sua vida, escaldado por arrochos, aumentos, cortes, mas segue, ainda que perplexo e descrente.

O radicalismo moralista da classe média, insuflado pela mídia, por parte do PSDB e pela histeria supérflua das redes sociais – com alguns grupos liderados por pessoas visivelmente acanalhadas – impede qualquer debate sério sobre como superar os impasses: os da economia, em geral, e os específicos do setor de petróleo, o naval e o da construção pesada, atingidos pelo escândalo.

Os alemães não fecharam a Siemens, os americanos não deixaram a GM quebrar.

Aqui, ao contrário, combate-se um acordo que não perdoa pessoas (ao contrário dos acordos do Dr. Moro), mas preserva empresas e empregos, colocando-as sob – na prática –  sob intervenção e obrigando-as a não apenas a devolver o desviado, mas a abandonarem as trevas onde sempre transitaram as empreiteiras, que não começaram a corromper a política ontem, não é?

E há um indisfarçável prazer ao se noticiar que tantos ou quantos milhares já perderam o emprego ou que o projeto tal está paralisado.

Tomara que não se torne um triste vaticínio a frase dita há muito tempo por Dilma de que a Lava-Jato não deixaria “pedra sobre pedra”.

Porque, com “delações premiadas” e “engavetamentos seletivos”, nenhum de nós é tolo de achar que gatos, ratos e sobretudo  tucanos gordos vão pagar pelo que tenham feito e, ainda que ocorresse isso, um país não se faz com cadeia, a não ser na cabeça dos moralistas hipócritas, o que chega a ser quase um pleonasmo.

A este quadro, o Governo reage com o silêncio.

Reflexo, talvez, de sua pouca confiança no bom senso do povo, que não é – e viu-se nas eleições – só uma massa manobrável pela mídia, mas um ser coletivo, que percebe, quase instintivamente, o que está resultando disso.

Cito a frase de Nilson Lage, que viu todos os filmes da história desta república desde os anos 50:

“Puseram o Brasil na roda, sujeito à invasão psicossocial dos cultos pós-modernos e à irresistível atração que os bezerros folheados a ouro exercem sobre 400 achacadores e as corporações de ofício que herdaram o poder dos donos das fazendas”

É preciso falar ao povo brasileiro e agir concretamente.

Não basta, embora algumas coisas sejam, de fato necessárias, fazer apenas cortes e adiamentos em despesas e projetos.

É preciso dizer o que está em jogo.

Parar de encarar a população como o fazem as elites e acreditar em sua capacidade de, apesar da mídia, pensar no que serve a si e ao seu país, o único que tem, pois Miami não é a sua praia.

Afinal, outubro não lhes mostrou isso?

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16 respostas

  1. Na minha opinião, precisamos parar de acreditar no suposto poder judiciário. Trata-se de uma elite cheia de privilégios que defende os ricos e persegue os fracos.
    No Brasil, usaram a mídia e os militares para derrubar o presidente eleito em 1964.
    Depois, apenas a mídia derrubou o Collor (mas ele era fraco e não tinha base política).
    Agora juntou tudo: mídia+judiciário+militares+MPF+TCU+PF+Bancos+etc. A situação está difícil, mas não é difícil superar e com estilo.
    Veja o caso da Cristina na Argentina.

  2. “Tem dias que gente se sente/Como quem partiu ou morreu…” Chico Buarque
    É assim que muitos brasileiros honrados se sentem hoje. O Brasil foge de nossas mãos. Sentir-se incômodo em sua própria Pátria é meio como se sentir exilado.

    1. A sensação de um certo exílio foi muito bem captada pelo comentador.

      Nestes inverossímeis dias de hoje quem esgrima teses embasadas em história (essa disciplina detestada pela direita) e razoabilidade encontra a histeria anômica de pré-zumbis, cevados pela diuturna desconstrução midiática.

      Há um desconforto digno de exílio, de fato.

  3. A melhor tirada que eu já vi em toda esta crise: Personal Juiz. Neste caso não é :Follow the Money, é: Folow The Judge! Fernando você matou a cobra e mostrou o pau, se a República Federativa do Brasil tivesse um Ministro da Justiça poderia representar…

  4. Ulula a insensatez e a irresponsabilidade dos anti-democráticos. Governos democráticos devem ser retirados do poder pelo voto, da mesma forma como foi eleito. Qualquer meio diferenciado é deposição de governo, é abertura de porta para se chegar, até, a uma guerra civil. A irresponsabilidade cega?

  5. Tudo isso decorre,da sociedade de classes,coisa que pessoas com cérebros,sabem mai do que eu.Não devemos ter a ilusão,de que eliminar esta sociedade,sera uma tarefa fácil,contudo temos que nos ater também,na tendência que o povão tem,por séculos de LAVÁGEM CEREBRAL à que submetidos,nos faz lembrar de uma antiga sentença,de autoria de ENGELS,que afirmava na Inglaterra de então,que enquanto o povo,às l7 badaladas do Big-Bem,sentavam´se para tomar chá com a rainha,nada se poderia fazer.O povo é e continua sendo DESPOLITIZADO,embora não seja atávico,reage no mais das vezes,como MANADAS.O que cabe,ao meu juizo,e saber como alcança-lo!Os blogs estão perto,claro que alguns deles.

  6. GOSTEI DO PERSONAL JUDGE. DEPOIS DE TRÊS DELAÇÕES PREMIADAS COM OS MESMOS PERSONAGENS, ESTÃO PARECENDO CUMPLICES.

  7. Há sim, “um indisfarçável prazer ao se noticiar que tantos ou quantos milhares já perderam o emprego ou que o projeto tal está paralisado”. É uma coisa monstrusa, que aos poucos transforma em monstros os simplórios apresentadores de televisão. Há pouco tempo, apresentadores estavam a fazer sarcástica gozação com um analista bissexto de economia da Globo News, porque o mesmo estaria sendo “muito otimista”.

  8. Não defendo GOVERNO.defendo Estado de Direito.A Presidenta num silêncio sepucral
    vai definhando,a ponto de colocar em risco a Democracia.Este é o meu,e acho que o nosso temor.

  9. UMA AULA DE HISTORIA – Qual o legado do suicidio de Getulio Vargas? O que sobrou dos jornais O GLOBO, O do Carlos Lacerda, e da HORA DO POVO. Quantos dias Roberto Marinho, ficou ausente do Rio de Janeiro? Quem eram os corvos? Sou historiador e asseguro que, Isto não consta em nenhum livro didadico e desconheço um livro que fale sobre isto.

  10. Maurílio Gadelha – Outra aula de HISTÓRIA – realmente, a verdadeira História do Brasil (desde Getulio quando eleito pelo povo até o final dos governos dos ditadores-militares) deveria ser reescrita. Foi devidamente manipulada pelos “historiadores”das fatíticas épocas e devidamente publicada (e distorcidas) pelos jornais das “famiglias” da mídia golpista a que referiste em teu comeentário. O resto os de mais de 60 anos acompanharam “pari passu” e SABEM QUE A VERDADE não é o que tentam ensinar a nossos netos e bisnetos. Que tal dar o pontapé inicial dentro da classe que representas e colocar um pouco de luz nesse túnel? Chega de tentar empurrar com a barriga FATOS que, como diria o Mino Carta (sabes quem é ele, não?) é sabido até pelo reino mineral… Podes começar a tarefa pedindo ajuda ao Antonio Lassance, Boaventura Santos, Mino Carta, Altamiro Borges, José Dirceu, José Genoino, Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, José Sarney (é preciso ouvir todas as partes…) e muitos, mas muitos outros que fizeram (e estão fazendo) parte dessa VERDADEIRA HISTÓRIA. Espero estar vivo para ver o resultado.Boa sorte! O Brasil agradece.

  11. Respondendo ao sr. Nilson Silva, além do que os colegas disseram, é preciso reconhecer que o PMDB faz as vezes da direita dentro do governo, como se, a cada dia, empurrasse o governo de coalizão para o precipício. Então, não coloque na conta do PT o que esse partido fisiologista pratica. Comprova-se isso o fato de nenhum de seus membros nunca terem votado em chapas do PT, mesmo tendo o vice nestas chapas. Exemplo, o flagra do voto de Sarney na última eleição.

  12. Além do que os colegas disseram, é preciso reconhecer, sr. Nilson Silva, que o PMDB faz as vezes da direita dentro do governo, como se, a cada dia, empurrasse o governo de coalizão para o precipício. Então, não coloque na conta do PT o que esse partido fisiologista pratica. Comprova-se isso o fato de nenhum de seus membros nunca terem votado em chapas do PT, mesmo tendo o vice nestas chapas. Exemplo, o flagra do voto de Sarney na última eleição.

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