Lendo a matéria sobre a “cartilha” de Aécio – veja o post abaixo – estava tentando encontrar uma maneira simples de fazer os leitores entenderem o que quer dizer um trecho onde se fala das críticas do tucano à diplomacia brasileira:
“Uma das críticas que deverão ser feitas à atuação do governo Dilma Rousseff, no campo das relações exteriores, diz respeito ao viés ideológico na tomada de decisões. ”
Viés ideológico, como se sabe, é tudo o que se confronta com a lógica fria do exercício do poder mundial pela via comercial, que encontra nos “embargos econômicos” impostos pelos Estados Unidos a um punhado de países, sob a genérica justificativa de violação aos direitos humanos.
Não é só a Cuba, que sofre com embargos há meio século. Mas países como o Irã, ou o Iraque antes da guerra, também foram e são agredidos. Como antes na história, embargos foram impostos à China e ao Vietnã pelos Estados Unidos.
Embora o embargo comercial seja, desde 1909, considerado um ato de guerra pelos tratados internacionais, ele sempre foi e é praticado por quem dispõe de meios para fazê-lo.
Então, enquanto pensava em como traduzir isso, surgiu-me, providencialmente, uma matéria sobre um “quase desastre aéreo” de grandes proporções.
Está na Folha o depoimento de Hooshang Shahbazi, um ex-comandante de um Boeing 727 da Iran Air, que não arriou o trem de pouso dianteiro, com 113 pessoas a bordo.
Numa mistura incrível de milagre com habilidade do comandante, a imensa aeronave conseguiu correr por quase toda a pista, só baixando a parte da frente quando o avião já ia bem devagar.
Shahbazi foi aposentado compulsoriamente, pelo medo de que o que ele dizia espalhar o medo entre os passageiros da empresa aérea estatal.
Porque ele falava contra o governo “fanático” de Teerã?
Não, porque ele dizia o mesmo que o seu Governo vinha dizendo em todos os fóruns internacionais: que o embargo comercial dos Estados Unidos estava colocando vidas em perigo grave.
A frota de aviões do Irã não pode ser renovada e os que voam há duas ou três décadas são mantidos com peças “fajutas” ou usadas, como o trem de pouso que não funcionou com Shahbazi.
O comandante recusa o tratamento de herói e atribui a manobra aos seus 35 anos de aviação e ao treinamento que recebeu: “Eu não rezava porque orações não adiantariam. Nessas horas temos que usar o treinamento e agir como robôs”.
Mas se ele não aceita ser tratado como herói, há os que não podem evitar o papel de vilões.
Os que impedem a venda de aviões e peças de reposição, mas querem o petróleo do povo iraniano.
Os que impedem a venda de remédios e equipamentos médicos a Cuba.
Os que impedem que outros países o façam, sob pena de perderem o acesso ao mercado americano.
Combater estes embargos não é “viés ideológico”: é respeito à humanidade.
O Brasil deixou de abaixar a cabeça a isso, deixou de tirar os sapatos ao negociar com a diplomacia – e o comércio é grande parte da diplomacia – quando vai falar com os donos do mundo.
Como o avião de Shahbazi, não abaixamos logo o nariz.
PS. Veja o pouso incrível do avião no vídeo abaixo. Quem andou centenas de vezes nestes insustentáveis objetos, não pode deixar de bater palmas ao piloto.
10 respostas
Esse primor de comentário, eu pesquei numa matéria no Diário do Centro do Mundo, e peço licença para reproduzi-lo no seu blog:
João Mezzomo Angela Sampaio • 4 meses atrás ?
Prezada Angela,
Penso que no Brasil existe uma cernça generalizada de que arrecadamos muitro simpotsos, e tudo ou quase tudo é desviado pelça ineficiência e corrupção, mas a verade está longe disso. Vou lhe dizer, para impactar, que a carga tributária brasileira é MUITO BAIXA, e os poucos recursos arrecadados são na sua quase totalidade MUITO BEM ENMPREGADOS.
Acredito que minha afirmação lhe pareça inusitada, surpreendente, e mesmo colida com a esmagadora maioria da opinião dos brasileiros. Entre os que comungam com esse ponto de vista da maioria estão alguns dos mandatários maiores de nosso pais, como a Presidenta Dilma, que afirmou ser excessiva a carga tributária no Brasil. Não esqueça, no entanto, que há pouco mais de 500 anos a ampla maioria das pessoas no mundo tinham certeza que a terra era plana, e estava estacionada no centro do universo. “Porém, ela se move”. Ou seja, se a verdade estivesse sempre com a maioria, seria muito simples, mas não é assim, infelizmente.
Encaminho para você. analisar um resumo de um estudo, que posso enviar na integra para quem quiser, mas aqui só encaminho uma tabela e um gráfico:
RANKING PAIS Tributos per capita/mês
1° Luxemburgo 5.180,82
2° Noruega 3.802,07
3° Suécia 2.982,75
4° Dinamarca 2.952,02
5° Áustria 2.919,00
6° Bélgica 2.744,80
7° Finlândia 2.687,38
8° França 2.517,08
9° Alemanha 2.318,22
10° Islândia 2.299,00
11° Itália 2.157,17
12° Suíça 2.155,53
13° Reino Unido 2.154,00
14° Canadá 2.082,17
15° Estados Unidos 1.988,13
16° Irlanda 1.843,33
17° Eslovênia 1.828,45
18° Austrália 1.761,20
19° Israel 1.674,00
20° Espanha 1.616,70
21° Japão 1.537,78
22° República Tcheca 1.506,52
23° Nova Zelândia 1.455,45
24° Grécia 1.380,00
25° Coréia do Sul 1.326,12
26° Hungria 1.249,50
27° Eslováquia 1.107,60
28° Argentina 841,00
29° Uruguai 697,62
30° Brasil 657,00
Ou seja, de 30 dos países que mais arrecadam impostos em percentual do PIB, o Brasil fica em último em arrecadação per capita, arrecadando R$ 657,00 mensais, atrás do Uruguai e da Argentina.
E O QUE FAZEMOS COM OS R$ 657,00 POR MÊS?
TAPS (R$ devolvidos ao cidadão) – R$ 280,00
SAÚDE – R$ 80,00
EDUCAÇÃO – R$ 95,00
JUROS LÍQUIDOS – R$ 100,00
SEGURANÇA – R$ 20,00
OUTROS – R$ 82,00
Como você. pode ver o Brasil gasta quase metade do valor total arrecadado nas chamadas TAPS, que são valores que são devolvidos em dinheiro para o cidadão, tais como salários de aposentados, pensões e bolsas. Isso significa que de cada R$ 657,00 arrecadados de cada cidadão, R$ 280,00 são imediatamente devolvidos todos os meses. Existem pouquíssimas famílias hoje que não possuem aposentados, e isso ajuda muito no equilíbrio das famílias, pois antigamente os velhinhos tinham de viver de favor dos filhos, e muitos não tinham dinheiro para ir ao hospital ou pagar os remédios.
Por falar nisso, como você pode ver acima, o Brasil gasta em torno de R$ 80,00 por mês por pessoa em saúde (enquanto a Noruega gasta R$ 1.000,00 por pessoa). Gastamos outros R$ 95,00 por mês por pessoa na educação e isso garante 43 milhões de brasileiros matriculados em escola pública, e ainda tem verbas que vão para instituições particulares. Tem mais R$ 100,00 que são juros da dívida, e aí estão também incluídos os rendimentos dos poupadores. Então, qualquer um que tenha poupança deve saber que os rendimento de aproximadamente 5% ao ano vem de impostos. Tirando tudo isso, sobra pouquíssimo dos R$ 657,00 para aplicar em investimentos, estradas, segurança, presídios, etc.
Sobre a fantasia a respeito da enormidade dos recursos públicos, e dos desvios, a Transparência Internacional coloca o Brasil em 69 entre 180 países no quesito transparência e honestidade do setor público. Ou seja, estamos dentro da normalidade, não temos muitos desvios como as pessoas pensam. Todos gostariam que a corrupçãoo fosse zerada, mas isso não ocorre em nenhum país do mundo, nem no Vaticano. A esfera pública brasileira é muito fiscalizada, as perdas são mínimas. Mas parece que as pessoas se sentem bem pensando que não são culpadas pelas desigualdades. Na verdade somos sim, pois os serviços públicos brasileiros são ruins por falta de recursos.
Acho que o Brasil tem de cair na real. Não se constrói um pais com fantasias. Se um candidato fala que não tem recursos, o eleitor não vota nele. O eleitor quer ser enganado, quer que o cara diga que vai fazer tudo, reduzindo impostos. Depois não consegue e a culpa é dos desvios e corrupção. É evidente que eles existem no Brasil, assim como nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha, na Noruega, no Vaticano. Devem ser combatidos, claro. Mas eles já são, e as estruturas que os combatem são tocadas por impostos. O cidadão do primeiro mundo, como o americano, sabe que eles existem, pois sabe que todos gostam de dinheiro. Racionalmente, deve-se investir em controle, previsão e penalização. Mas lhe garanto que não é esse o problema do Brasil.
O problema de raciocinar com médias é a tal questão da média. Sou um classe média que a vida inteira pagou aposentadoria complementar. Agora moro sozinho e os filhos já se foram. Das poucas deduções que posso fazer, (in) felizmente não fico doente frequentemente. Resultado: minha poupança da vida toda é usada para pagar 20 vezes esta “média” que coloca só em imposto de renda.
Concordo que se todos pagassem seria aceitável, mas da maneira desigual que está posta, a cobrança de impostos no Brasil é extremamente injusta.
Muito legal o levantamento, são numeros e podem ser analisados por diversos angulos, servindo até de base para atuações que é o objetivo da estatistica….Parabens…
Fiquei fâ.
Você tem toda a razão. O ex-Ministro Adib Jatene, pessoa acima de qualquer suspeita, afirmou peremtoriamente que faltam recursos para a saúde pública. O mito da carga tributária brasileira se sustenta no fato de que nosso sistema tributário, extremamente injusto, regressivo, sobrecarrega as classes menos favorecidas, os assalariados e pequenos empreendedores, e ainda deixa a porta aberta para a elisão, a sonegação e a evasão de divisas pelos ricos. Com certeza, os prejuízos causados por esses crimes tributários são muito mais danosos à economia nacional do que a propalada corrupção de agentes públicos. Mas, estamos acostumados a tomar como verdade tudo o que os bilionários marinhos dizem através da Rede Goebbels. // Estudos antigos estimavam em mais de UM TRILHÃO E DUZENTOS MILHÕES DE REAIS o volume de recursos de brasileiros em paraísos fiscais. Os Procuradores da Fazenda Nacional, responsáveis pela Dívida Ativa da União, estimam em 400 bilhões anuais as perdas com a sonegação fiscal. Confira aqui http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-12-11/sonegacao-no-brasil-e-20-vezes-maior-que-gasto-com-bolsa-familia-diz-sinprofaz.
Já no início do Governo Lula, tentou-se mudar a tributação no Brasil, passando a descontar IR sobre bens e fortunas e deixando de tributar salários, mas congressistas abastados impediram sua aprovação., e isso em várias outras ocasiões. Então, em lugar de chorar pelos descontos, exijam os nomes dos que votam contra essa mudança e deixem de votar nos ditos cujos.
Tenho certeza de que Aécio não pensa como está escrito. Trata-se de um rapaz com tirocínio razoável, nada pode indicar que ele pense tanta estupidez que só é detectada em arraigados reacionários. Mas quando deixa tais coisas aparecerem como sendo suas convicções, Aécio se manifesta como sendo nada mais e nada menos do que um fraco.
Belissimo comentario sobre nossa pequena carga tributaria.
Por isto nossos produtos sao tao baratos se comparados a todos os paises que voce relacionou no comparativo. por favor, verifique bem se o que postou tem algum fundamento. muitos especialistas afirmam que e praticamente impossvel calcular quanto do salario de um trabalhador assalariado e tomado por impostos neste pais. Quando falar sobre impostos nao se esqueca dos que estao imbutidos em todos os precos, principalmente nos basicos (eletricas, combustivel, telefonia…), vera que temos sim uma das maiores cargas do mundo e praticamente nada de retorno. Matemos nossos governantes com exelentes mordomias e nenhuma obrigacao em relacao ao cargo que ocupa. A parcela do imposto que e devolvida a populacao (servicos e investimento) sao sempre de pessima qualidade (seguranca, transportes, educacao, saude, justica…) parte desta deficiencia devida a robalheira existente em toda a parte do poder publico.
Muito obrigado pelo teu tempo.
Waldemiro Pereira, 50 anos, 2 filhos, [email protected]
Ps. O teclado e noruegues e nao tem …
Meu caro Waldemiro, acho que você não leu direito ou interpretou mal o comentário sobre carga tributaria no pais, de uma relação de 30 países rics ou em desenvolvimento o Brasil ocupa, em cobrança de impostos a 30@ posição. Esta muito longe de cobrar o que cobram países ricos, que não precisam construir mais escolas nem estradas, nem ferrovias, nem moradias pois sua população esta decrescente. Não acredite nas mentiras que escrevem colunistas de grandes jornalao
, pesquise e você estará, além de ganhar sabedoria, estará próximo a verdade
Esse é o velho mantra falacioso dos marinhos & cia. Você acredita que os maiores ladrões do Erário são os agentes públicos? Então responda quem detém as maiores fortunas em paraísos fiscais? Quem sonega BILHÕES em transações fraudulentas e na CORRUPÇÃO ATIVA? São os mesmos que fazem você acreditar no velho mantra.
Os próprios congressistas deveriam ser a favor de tributar mais os mais afortunados, afinal a maior parte dos parlamentares começaram com 1 e não morrem sem milhões e bilhões arrecadados via roubalheira, ou jeitinho político. Acho um verdadeiro assalto à classe média o cobrado pelo IR. Para os ricos o IR é uma mãezona.