No jogo de gato e rato que virou o relacionamento entre as instituições brasileiras, a presidente do Supremo Tribunal Federal fez, há pouco, o seu movimento, encerrando a sessão inicial do julgamento da constitucionalidade do Orçamento Secreto sem ler o seu voto sobre o tema, como relatora das ações que pedem o cancelamento do maná que representam as chamadas “emendas de relator”, com as quais se distribui algo como R$ 20 bilhões para que os parlamentares “amigos” invistam em suas bases eleitorais ou, pior, destinem a ações suspeitíssimas como as noticiadas pela imprensa.
Com isso, aborta a anunciada chantagem que se faria com uma eventual rejeição da PEC da Transição como represália à declaração de inconstitucionalidade do Orçamento Secreto, da qual dificilmente escapará. Só na quarta-feira o assunto volta à pauta e com a posição de Rosa Weber, mais dura contra o Orçamento Secreto do que aquela que, provavelmente, prevalecerá ao final.
Lula, é claro, não vai meter a mão nesta cumbuca, agora. É melhor, para encontrar as melhores condições de compor sua base de apoio – no que parece ir bem, até agora – que exista um nível de tensão sobre o tema e, experiente como é, sabe que deputados e senadores, por algum meio, não vão abrir mão de toda a indicação de verbas, devolvendo o seu controle ao governo.
Sabe, porém, que pode fazer com que os recursos se destinem a ações que fazem parte do que já são programas e obras que pretende implantar ou restaurar.
Arthur Lira não é um kamikaze que vá queimar seus navios de entendimento com o novo governo tão precocemente, pondo em risco o apoio à sua reeleição estando enfraquecido pela perda do controle do naco do Orçamento que as emendas do relator lhe traziam.