Enfim, alguém trata o “rolezinho” como o que é: “curtição” jovem. O preconceito não é novidade

soul

A Folha publica hoje a melhor análise  sobre os “rolezinhos” que já li.

É a de Leandro Machado, que diz ter participado de vários deles, sete ou oito anos atrás, quando era um adolescente de periferia.

Não era no shopping porque, diz ele, “não havia shopping” na minha região.

“Agora tem, o de Itaquera”.

“O “rolezinho” era invisível e geralmente acontecia numa praça do bairro ou num posto de gasolina. No fundo, queríamos era “pegar alguém”. Acho que isso não mudou.”

Não, Leandro, o “problema” é que o que mudou é que a mídia – e a internet, sobretudo – tornou o rolezinho visível.

E provocou as reações que sempre provoca na nossa elitista abordagem do mundo, onde o que não é igual às elites é perigoso.

Não era diferente quando as senhoras da vila de subúrbio onde eu morava achavam perigosíssimo caminhar pelas ruas próximas do Vitória  quando tinha baile de soul music e aqueles  que o senador Aloísio Nunes Ferreira chama de “cavalões” saíam pelas ruas com seus sapatos “cavalo de aço” bicolores, vindo ou indo das favelas do Complexo do Lins ou da “Barreira” do conjunto do BNH .

Depois, no Rio, a onda que fizeram com os arrastões nas praias, na melhor tradução prática do ditado – nem sempre dito com ironia – de que “branco correndo

Leandro não deixa de ver o sentido discriminatório:

“Sempre houve, sim, certo preconceito de quem analisava de fora: que pobre não tem o direito de desejar esses produtos caros só porque é pobre. Que pobre deve se contentar com o Lojão do Brás e se preocupar com outras coisas.

Quem pensa assim, geralmente, diz: “Veja que absurdo, é pedreiro e tem um tênis de R$ 700. Deveria investir em livros”. E daí? O dinheiro não é da pessoa que o ganha?”.

Mas foge do que ele chama de “coitadismo”.

“Esses meninos são vítimas do império do consumo, etc…” Tá, e quem não é? Não estamos todos navegando nesta canoa furada?”

Ele tem razão, dizendo que mesmo que houvesse parques, praças e espaço de montão para todos, podia acontecer “rolezinho” por mera “zoação”

O “rolezinho”, os jovens que querem “zoar, pegar geral e dar beijo na boca” não tem nada de novo.

O que tem de novo é o foco político com que é visto, que revela o uso que a mídia e os poderes dominantes querem fazer da garotada.

Na falta de comunistas prontos a comerem criancinhas e já que os médicos cubanos não são uma brigada avançada para anexar o Brasil à ilha do Caribe, “salta” uma ameaça de iminente invasão das praças de alimentação.

É só isso, nada mais.

O resto é tão velho quanto o meu avô amarrar cobra morta num barbante e botar nas calçadas de Conservatória para dar susto nos passantes.

Esquecer que se foi jovem é um veneno.

PS. Em compensação, a Folha traz também artigo do  Andrea Matarazzo defendendo a repressão aos rolezinhos nos shoppings em nome do “direito de ir e vir”. Ir e vir sem ver pobre, “seu” Conde?

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

8 respostas

  1. “PS. Em compensação, a Folha traz também artigo do Andrea Matarazzo defendendo a repressão aos rolezinhos nos shoppings em nome do “direito de ir e vir”. Ir e vir sem ver pobre, “seu” Conde?”

    Isso é sério?? Ele se arvora em defensor do direito de ir e vir e quer repressão à ida da molecada ao shopping? Tá parecendo o Fittipaldi que, quando perguntado se vivia melhor a mulher brasileira ou a americana, disse que “a brasileira, porque tem empregada doméstica”.

    Para bo entend , mei palav bas .

  2. Sinceramente, eu só vejo é preconceito de TODOS os lados, nesta questão. Demonizar o rolezinho é preconceito, isto é claro. Mas afirmar que não há nada de anormal ocorrendo em alguns deles é falso. Dizer que um rolezinho no shopping Itaquera está incomodando os ricos é piada. Há ricos passeando por lá ? Imaginar que o comércio de um shopping de periferia repudia consumidores, apenas porque são pobres, é um absurdo. Vou parar por aqui, o festival de distorções é impressionante.

  3. Caro Fernando:
    O que precisa ser entendido é que a posição do Leandro Machado faz contraponto com a de Andrea Matarazzo em cima da mesma pauta musical ditada pela corporatocracia, interessada em criar uma crise neste ano eleitoral com vistas a facilitar o caminho para enfraquecer nosso sistema político. Isto é, nossa democracia, na qual ainda restam sinais de um sistema de representação autêntico como o voto proporcional, a possibilidade ainda que cada vez mais restrita de criação de novos partidos, o horário público para campanha partidária, ainda com certa dose de inclusão, e, acima de tudo, jamais deixar passar o financiamento público exclusivo das campanhas. A companhia age sempre da mesma forma quando o objetivo é desestabilizar. Com a mão esquerda ela insufla esses movimentos “desorganizados” da periferia (qualquer semelhança com a expressão “protestos pacíficos” usada ad nauseam pela Globo em junho passado, não é mera coincidência). Para isso ela conta com o “auxílio luxuoso” das milícias e crime organizado. Com a direita, ela instiga os proprietários e seus homens de preto para agir com máxima violência. Aí ela consegue a crise tão sonhada. Tem sido assim, não só no Brasil, em junho passado, mas em todo o mundo, durante mais de 6 décadas! Quem ainda acredita em primavera árabe, revolução laranja, verde, cedro, branca, etc., tem necessariamente que acreditar em Papai Noel também. Tudo, sem exceção, é obra da companhia e suas inúmeras agência e ONG’s e fundações afiliadas. Qual a maneira correta de agir diante dessa obviedade? Reconhecer o direito de cada um, claro, mas não deixar de alertar, principalmente aos mais jovens e inexperientes, para o que parece ser a reprodução de um padrão constante de ação da companhia. Afinal, o saco de truques é finito e acaba se repetindo inevitavelmente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *