A ameaça explícita – e feita perante o mundo – de que Jair Bolsonaro, com o apoio das Forças Armadas, que que está disposto a “melar” as eleições deveria levar quem acha que esta é uma eleição de múltiplas escolhas a entender que não, ela não é, mesmo tendo um segundo turno, no qual se exerceria uma opção final.
Deixar de levar o presidente golpista a uma derrota acachapante já no primeiro turno é dar a ele a oportunidade para desfechar este golpe e nos levar a uma situação que sequer podemos imaginar, senão que será desastrosa sob todos os aspectos e que representará a criminalização das liberdades democráticas.
Não há direito à diversidade que, numa situação tão aguda, se sobreponha à necessidade de impedir-lhe tais planos.
Nem há para subestimar as possibilidades de que ele vá tentar uma insanidade, nem o perigo que significa o ministro da Defesa estar abertamente ao lado da subversão que Bolsonaro prega.
É incompreensível a “passação de pano” que o editorial de O Globo ainda faz a esta questão, dizendo que isso é irreal:
Bolsonaro, ao contrário do que pretendia, não conseguiu nenhum tipo de apoio no exterior e enfrenta resistências fortes no setor produtivo. As Forças Armadas são a instituição em que o bolsonarismo deposita suas esperanças, diante da adesão aparente do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, às teses estapafúrdias sobre as urnas eletrônicas. Mas há uma diferença entre a decisão política — absurda, é verdade — de apoiar o discurso mentiroso do presidente e uma quartelada. A perspectiva de que a cúpula militar se mobilize para evitar a votação ou para impedir a posse de outro presidente que não Bolsonaro hoje não passa de especulação sem lastro na realidade.
Sem lastro na realidade, quando um ministro da Defesa assume o front do questionamento do sistema eleitoral. E quando o presidente da República diz, repetidamente, que ele próprio encarna as Forças Armadas?
Buscar conversas, entendimentos, compromissos com todos quantos queiram enfrentar a continuidade de Bolsonaro é necessário e merece todos os esforços que se possa fazer. Mas é necessário que todos sejam colocados diante desta escolha inicial: democracia ou ditadura.
É isso o que tem de ser dito a quem acha que é o momento de vaidades ou teimosias eleitorais.