“Espionagem” na Folha. O ridículo devidamente enquadrado

Embora seja um bom trabalho de reportagem – e um sinal de que a Abin é mais furada que uma peneira, como já se tornou cansativo falar – o caso da “espionagem” brasileira é de uma estupidez sem par.

A começar pelo termo espionagem  em lugar de contra-espionagem, porque nosso país não está “indo espiar” ninguém, mas apenas cuidando do que, às escondidas, estrangeiros vêm fazendo aqui. Ou será que deveríamos celebrar também algo como a “liberdade de espiar”, para americanos montarem salas de rádio dissimuladas, franceses fuçaram nossa base espacial em Alcântara, Irã ou Iraque tratarem se seus enfrentamentos com o EUA ali em pleno Setor de Embaixadas da Asa Sul de Brasília?

Aliás, o fato de ter sido identificado um espião francês em Alcântara, muito anterior à explosão de um protótipo de nosso Veículo Lançador de Satélites ( a foto, lá em cima, segue sendo impressionante) tornava uma obrigação monitorar suas ações, ainda mais sabendo que nosso programa de satélites poderia vir a ser concorrente comercial do francês, localizado em Kourou, na Guiana Francesa.

Melhor ainda que na Folha, agora “reforçada” na sua mediocridade por Reinaldo Azevedo, resta um Jânio de Freitas para enquadrar devidamente o caso. Sai da visão primária com que a edição do jornal tratou o tema, transformando num caso de “espionagem brasileira”.

Muito além da bobagem de querer traçar qualquer paralelo entre a invasão eletrônica dos EUA sobre nossas comunicações, em nosso território, Jânio vai ao ponto central: o jogo de poder é bruto e um país precisa se defender dele.

Coisas deles

Janio de Freitas

Gentileza não gera gentileza, não. Se há pelo menos dez anos são conhecidas da contraespionagem brasileira as salas sem presença humana e com equipamentos de transmissão, alugadas em Brasília pela Embaixada dos Estados Unidos, temos aí outro caso exemplar de gentileza não correspondida. A qual permite supor que, entre suas consequências, estejam a intercepção e a retransmissão, à Agência de Segurança Nacional dos EUA, das comunicações de Dilma Rousseff e de outras autoridades brasileiras.

O subterfúgio de instalações veladas está na essência da espionagem e das ações de sabotagem, mas tem mais de uma resposta eficaz. Não aplicar nem uma delas parece ser um vício brasileiro.

Bem antes do golpe de 1964, militares do Exército constataram que uma agência de turismo na rua Santa Luzia, na Cinelândia, pertinho da embaixada americana ainda instalada no Rio, na verdade era cobertura para um posto da CIA. No mesmo quarteirão, mas na rua México, em frente ao lado da embaixada, descobriram que um curso para sargentos desejosos de fazer vestibular, ou galgar uma promoção, funcionava para cooptar e infiltrar novos agentes da CIA nos quartéis.

A confiança em que o governo Jango nunca seria derrubado e o receio de um caso problemático com o governo americano sustaram qualquer reação. Houve, se houve mesmo, algum monitoramento, que se distingue das outras ações subterrâneas por se limitar à vigilância cautelosa.

Aqueles e vários outros postos identificados estavam sujeitos, porém, a dois tipos de ação defensiva. Uma, política, de exigir que o governo americano desmontasse os postos e recambiasse os estrangeiros em ação neles (o chefe da agência de turismo era um estrangeiro de língua espanhola). Um aborrecimento diplomático, por certo.

A outra ação possível, mais simples e terminante, seria estourar os postos a pretexto de indícios ou denúncias de contrabando, lavagem de dinheiro, funcionamento irregular, essas atividades que a polícia estoura dia a dia. “Ah, era coisa de vocês? Não sabíamos, agora não há mais nada a fazer.”

Salas em Brasília com equipamentos ativos dia e noite, e presença humana muito esporádica, só servem para “guardar equipamento como rádio walkie-talkie” no cinismo conveniente à espionagem -como foi na resposta dada ao excelente repórter que é Lucas Ferraz, revelador de documentos da Abin, a Agência Brasileira de Informação, sobre alguns monitoramentos seus.

A soma das muitas e diferentes gentilezas do governo Jango foram retribuídas do modo que se sabe. As dos governos Lula e Dilma, e provavelmente Fernando Henrique e José Sarney, sabe-se apenas que também tiveram retribuição à americana. Sabe-se graças a Edward Snowden.

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17 respostas

  1. nada mais que a oia tentando desqualificar o Brasil em seu pleito contra espionagem na ONU, este é o serviço do PiG

  2. É impressionante a capacidade da velha mídia (o vulgo PIG) em fazer uma “chacrina” (vem pra confundir, e não pra explicar) com os fatos. Em cima de uma situação constrangedora para o Tio Sam – no mundo – vem gerar factoide para constranger o Brasil. Noticia fatos de 2003 – documentos secretos. Ou seja, o Brasil vigia pessoas de outros países, inclusive “diplomatas” (muitas das vezes só na aparência), em solo do Brasil. O Governo do Brasil não invadiu e-mail de Presidente ou de autoridades estrangeiras, nem de empresas de outros países, ou fez escutas em comunicações deles.
    Membros da ABIN – Agência Brasileira de Inteligência – fizeram “campana” quando se viu que era necessário fazer. E se não fizessem nada? Estariam errados, ou não. Qual a finalidade da ABIN? É essa, fazer esses “levantamentos”, espionar, ou não. Se respeitou a lei, não houve abuso de autoridade.
    Eis o art. 1º da Lei nº 9.883/1999:
    Art. 1º Fica instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência, que integra as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.
    § 1º O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária.
    § 2º Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.
    § 3º Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa.
    Idêntico é o comportamento no caso da propina paga pelas construtoras em Sumpaulo a agentes da fiscalização e consequente não pagamento de impostos. Eles atuavam pelo menos desde 2009. Já “pinçaram” um trecho de escuta em que é citado a “doação” de R$ 200 mil para a campanha eleitoral em 2008 (não é de agora, e de antes de 2009) de um vereador que se tornou Secretário do Prefeito Haddad. O PIG mistura tudo num saco a fim de proteger os políticos, os “protegidos” do PIG. Mas cobram a idoneidade do PT, só do PT. E olha que já tinha um escândalo de meados de 2012 de um tal de Aref Saab – o homem do APROV – há anos nesse ramo imobiliário (nomeado na gestão Serra) na máquina da Prefeitura. Pra quem não quer entender, essa é a diferença entre o PT e os DEMo-Tucanos (e suas crias como o PSD). Um ouviu fora do Governo, na campanha que tinha “treta” e montou estrutura para investigar, colher provas e coibir o problema – no caso, o do PT -, o outro estava parado, se fingindo de morto, compactuando com a mamata – os dos governos antecessores. E isso incomoda muito aos corruptores. Força Haddad.

  3. Essa matéria da Folha não surpreende. Foi a maneira que encontrou para deslegitimar o pleito que Brasil e Alemanha apresentaram na ONU. Assim como há contra espionagem , também há o contra ataque , especialidade dos serviçais do império decadente , especialidade do Pig…

  4. Trata-se de OBRIGAÇÃO FUNCIONAL da ABIN fazer um trabalho sério de CONTRA-ESPIONAGEM no território brasileiro.

    É inclusive lamentável o fato desse trabalho ser feito de forma frouxa e ineficiente. É graças à tolerância do governo brasileiro com a presença de agentes da CIA, MI-6 e Mossad em território brasileiro que quase fomos vítimas de um golpe de Estado no dia 20 de junho de 2013, com a operação de manipulação de massas batizada de “O Gigante Acordou”, ativada pela “senha” dada em um comercial do uísque Johnnie Walker, com o lema “Está na hora do próximo passo”.

    Se a tolerância e frouxidão continuarem, podem esperar um repeteco da operação “O Gigante Acordou” em junho de 2014, durante a Copa do Mundo.

    A presidente Dilma precisa ter mão firme com a ABIN, inclusive tentando identificar agentes de carreira da mesma que tenham inclinações políticas de esquerda, e simpatias pelo PT, e galgar esses agentes aos postos de comando da agência, a qual não pode mais continuar tendo em seu comando pessoas que consideram o Bolsa Família como “Bolsa Esmola”, e que acreditam que o “mensalão” foi “o maior escândalo da história desse país”. Se esse tipo de gente, com esse tipo de visão política, continuar no comando da ABIN, a CIA vai continuar fazendo a festa no Brasil, e o golpe de Estado pode vir em 2014.

    A ABIN precisa ser comandada por gente que vota no PT, que apóia o Bolsa Família, que sabe que o mensalão foi um golpe midiático-jurídico da Globo junto com Gilmar Mendes, e que o “trensalão” tucano é um escândalo muito maior. A ABIN precisa ser comandada por gente que acredita na opção estratégica da aproximação com os BRICS, e que repudia as intromissões norte-americanas em nosso país.

    Inteligência é uma questão política, e não meramente técnica.

  5. O que esperar dessa cloaca a céu aberto que é a Folha, que tem como valorosos jornalistas, Reinado Azevedo e Demétrio Magnoli, “maitres-à-penser” do Instituto Millenium.

  6. Tive a impressão de que a Folha ficou ofendida pelo fato de o Brasil ter denunciado os Estados Unidos na ONU, e agora está fazendo a defesa daquele país.

  7. Senhoras e senhores imaginem o grau da patranha anunciada e revelada. Depois de mais de dois meses, não foi os Estados Unidos quem acusou o Brasil de fazer espionagem. Foi o jornal da “ditabranda”, a Folha, que resolveu tomar as dores do big brother americano. Fica muito claro que se os Estados Unidos tivessem algo relevante no quesito espionagem, para apresentar contra o Brasil, logicamente teriam tomado uma atitude imediata, revidando com uma resposta pronta contra o Brasil, logo depois do primeiro posicionamento da presidenta Dilma Rousseff, ou pelo menos, antes do pronunciamento público feito na tribuna da ONU, na terça-feira (24-09-2013, para uma platéia lotada com 193 países. Entretanto, nada disto foi feito. E nada foi feito porque o presidente Barack Obama nada tinha de relevante para oferecer como sua defesa. Agora, depois de quase dois meses, o jornal Folha, oferece essa bola furada, uma idiotice completa. A patranha anunciada foi algo escandaloso, mesmo para quem tem tradição de vassalagem, que remonta ao tempo da 1ª República, a chamada “República Velha”. [Chico Barauna, 05-11-2013].

  8. SNOWDEN é o verdadeiro DAVID, só pode ter sido ungido pelo Senhor, e estar na Russia é uma benção, pois lá o Tio San não se atreveria a nenhuma atitude, a não ser através dos filmes que eles produzirem em Holliwood, onde eles são sempre os caras (de pau), ou nas espetaculares reportagens furadas da Veja ou da Globo, esse pessoalzinho que sofre do complexo de vira-lata, se acham deuses diante os lambe´botas que os cercam, ou os profissionais inacabados, frustrados, despersonalizados, que se sujeitam a escrever o que agrada a quem lhes paga.

  9. Mais um grande feito jornalístico de Leandro Fortes! Uma aulinha básica de Jornalismo para a Folha do Otavinho “Soft-Dictatorship”, o mais novo voluntário das tropas norte-americanas em território brasileiro.

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