FHC: “O Brasil precisa do que eu não fiz; o povo exige o que eu não dei”

O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje, no Estadão, bem merecia o título aí de cima.

Aliás, em apenas 40 linhas, o ex-presidente consegue transitar de Carlos Lacerta a Marina Silva, num espetacular exemplo de ecletismo que tem como fio condutor o mau-humor com que encara a teimosa atitude dos eleitores – daqui e de fora – de escolherem seus governos fora da camada de “iluminados”, que sabem o que o povo quer melhor do que o próprio povo.

Protesta contra a legitimação dada pela Corte Suprema da Argentina à Ley de Medios, contra a reação do governo venezuelano à sabotagem econômica que campeia no país – é notória a ligação da elite empresarial de lá com a direita e os EUA, ao ponto de o presidente da Fedecamaras, a Fiesp deles, ter sido colocado na “presidência” no golpe frustrado de 2002. Por eles, chega ao ponto de fazer o que nem em seu governo fez: questionar a decisão popular expressa em eleições livres.

E não apenas lá, mas em outros governos que reconhecem a autodeterminação e a soberania do voto que erigiu aqueles governos:

“O lamentável é que os governos democráticos da região assistem a tudo isso como se fosse normal e como se as eleições majoritárias, ainda que com acusações de fraudes, fossem suficientes para dar o passaporte democrático a regimes que são coveiros das liberdades.” 

No mundo das escutas telefônicas dos Estados Unidos sobre a humanidade inteira – que não lhe merece uma palavra – é curioso que o ex-presidente chame de “coveiros da liberdade” governantes não apenas eleitos mas cujos governos se submetem ao controle das instituições judiciais.

Deste surto “Juraci Magalhães” de americanismo, FH salta à apologia da repressão.

“Temos assistido ao encolhimento do Estado diante da furia de vândalos, aos quais aderem agora facções do crime organizado. Por isso é de lamentar que o secretário-geral da Presidência se lamurie pedindo mais “diálogo” com os black blocs, como se eles ecoassem as reivindicações populares. Não: eles expressam explosões de violência anárquica desconectada de valores democráticos, uma espécie de magma de direita, ao estilo dos movimentos que existiram no passado no Japão e na Alemanha pós-nazista.”

Bem, ver o conteúdo fascista destes grupos violentos é, hoje, possível até mesmo a um cego. Mas veja que em contradição primária o nosso príncipe da sociologia incorre, no seu furor antigoverno:

“Esses atos vandálicos dão vazão de modo irracional ao mal-estar que se encontra disseminado, principalmente nas grandes , cidades, como produto da insensatez da ocupação do espaço urbano com pouca ou nenhuma infraestrutura e baixa qualidade de vida para uma aglomeração de pessoas em rápido crescimento.”

Ora, professor, “insensatez da ocupação do espaço urbano com pouca ou nenhuma infraestrutura e baixa qualidade de vida para uma aglomeração de pessoas em rápido crescimento.” serve para designar qualquer momento do crescimento das metrópoles brasileiras nos últimos 60 ou 70 anos, não é?

E, talvez mais do que em qualquer outra época – e certamente muito mais que em seu governo – esteja se investindo tanto em infraestrutura e fatores de qualidade de vida no país, especialmente em dois fatores-chave para isso: habitação e mobilidade urbana. Desnecessária, aí, qualquer comparação com dados, basta nossa memória.

A causa do caos urbanos? Os pobres, é claro:

“Os governos petistas puseram em marcha uma estratégia de alto rendimento econômico e político imediato, mas com pernas curtas e efeitos colaterais negativos em prazo mais longo. O futuro chegou, na esteira da falta de investimento em infraestrutura, do estímulo à compra de carros, do incentivo ao consumo de gasolina, em detrimento do etanol, e do gasto das famílias via crédito fácil, empurrado pela Caixa Econômica Federal. Os reflexos aparecem nas grandes cidades pelo País afora: congestionamentos, transporte público deficiente, aumento do nível de poluição atmosférica, etc.”.

Ter um automóvel ou comprar a crédito, ficamos sabendo, é “ uma estratégia de alto rendimento econômico e político imediato, mas com pernas curtas e efeitos colaterais negativos em prazo mais longo” , a não ser, claro, para a classe média alta. Para os demais, arrocho, porque arrocho ajuda a fazer mais superavit e superavit permite juros mais altos ao mercado.

E Fernando Henrique, aí, para não ter de ir além nesta desastrosa confissão de que “o problema” é que o povão tenha passado a fazer parte do mundo do consumo, parte para o “marinismo” de um mundo ideal, onde se atingiria o ótimo sem passar pelas vicissitudes do bom.

“Não basta melhorar a infraestrutura, se o crime organizado continua a campear, nem mais hospitais e escolas, se a qualidade da saúde e da educação não melhora. As soluções terão de ser iluminadas por uma visão nova do que queremos para o Brasil. Precisamos propor um futuro não apenas materialmente mais rico, mas mais decente e de melhor qualidade humana.” 

Então, enquanto a “visão nova” não ilumina o mundo “sonhático”, fica-se na paralisia do desenvolvimento. Continua a faltar infraestrutura, escolas, hospitais porque sua qualidade é baixa. Naturalmente, a classe média e aos ricos não faltarão, porque há infraestrutura onde moram e podem pagar por escolas e planos de saúde.

Sacode-se o mundo ideal diante da opinião pública para que esta nãos veja – ou aceite – que o mundo real não pode ser para todos, pois isso torna tudo ruim, precário, desastroso.

Lembro de um amigo que brincava, dizendo que os gringos “sambam” com os dedinhos levantados para que nãos lhes vejam os pés desajeitados.

 

É sempre isso, nas mais variadas formas: o problema do mundo são os pobres pretenderem ter uma vida como tem as camadas médias e altas e  como a que o mundo das elites lhes vende, glamurosamente, mas não lhe entrega nunca.

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35 respostas

  1. Se desemprego, miséria, venda do patrimônio brasileiro para iniciativa privada e ausência do estado na solução das angustias dos brasileiros desse certo, seus oito anos de governo por certo, teria sido um sucesso.

  2. Estranho. O caquético Ferreira Gullar escreveu a mesma coisa!
    Não entendo então por que é que o Aécio Neves, o bebum das minas, aparece sempre na propaganda partidária dos tucanos dizendo que tudo que o atual governo faz tem um modelo: FHC.
    Paradoxal, não?

  3. Não perco o meu tempo lendo este defunto político. Marionete do PIG e das oligarquias nacional e internacional. Que moral tem este senhor para querer dar lições a quem quer que seja. Fez um desgoverno quando esteve lá. Entregou um Brasil quebrado ao Lula. Só mesmo no PIG para ter espaço para falara as suas imbecilidades.

  4. MEU DEUS ,SERÁ QUE OS DELINQUENTES DA PRIVATaria não serão jamais punidos,podendo continuar a falar de regras decentes que jamais seguiram ?

  5. Juro que não entendo nada do que esse cara (FHC) fala. Não diz nada com nada, se repete em seu ódio primário pelo PT, que chega a beirar a insanidade! Vai fazer terapia, criatura!!!

  6. NADA DE COMENTÁRIOS! APENAS PERGUNTO…….QUANDO É QUE ESSE PESSOAL VAI SER JULGADO E PUNIDO POR TODOS OS MALES QUE FIZERAM E CONTINUAM FAZENDO AO POVO BRASILEITO? ONDE FOI PARAR A CPI DA PRIVATARIA??

  7. O que este CABEÇA DE BAGRE quer,é ser citado também,pelos blogs!Não vale a pena!È melhor deixa-lo falar no Globo,Estadão,Veja e adjacências,afinal poucos os leem!Deixem-no no anonimato que merece!

  8. Esse mequetrefe entreguista tem coragem de vociferar mesmo de pois de toda a sacanagem em seus governos. Somente nesse país um indiviuo desses continua a solta. No Chile e na Argentina já estaria no xilindró.

  9. FHC é o maior exemplo da pobreza da direita. Nos anos da Ditadura, quando não se distinguia quem era quem, todos na oposição passavam por progressistas. FHC era assim considerado, mas foi um enganador como ninguém, e penso que tenha sido o último de tal porte, a ponto de ter chegado à Presidência da República. Hoje, pode até ter candidato da direita que seja meia boca, mas não ganha mais. Depois que tanta água rolou debaixo da ponte, vê-se o quanto o chamado príncipe dos sociólogos é medíocre. Mas, fica a dúvida, será que ele acha que engana alguém ou é apenas um sem noção.

  10. Este texto não é do FHC.

    Ele não elabora frases com mais de 7 palavras.

    Talvez nem as idéias sejam dele (igual o filho bastardo). Ele está de barriga de aluguel.

  11. Insisto em uma tese: toda e qualquer atitude tomada por este senhor, seja através de textos escritos ou de entrevistas aos diversos meios de comunicação, tem uma única origem, qual seja, o dolorido e angustiante DESPEITO, proveniente da consciência de que seu tempo e oportunidade passaram, e de que seu legado foi sobrepujado em muito pelos governos que o sucederam. Para uma pessoa que, como ele, ostenta um ego e uma vaidade imensuráveis, torna-se muito difícil conviver com o esquecimento e, pior, com o conhecimento de que a maior parte da população o reconhece como um governante medíocre.

  12. Esse senhor, que no passado afirmou ter “um pé na cozinha”, demonstra que tem também a cabeça ali por perto, mais especificamente na caixa de gordura! Isso explica boa parte das declarações esclerosadas deste aveztruz tucânico…

  13. E depois a historia nos diz que Calabar foi o grande traidor da Patria, tudo bem porque ate ali nao se tinha noticias das desgracas que estavam a caminho, como este deslumbrado, que certamente odeia o cheiro do povo, o clamor das ruas, que representa uma camarilha de lordes, que hoje se sentem encurralados em seus castelos e palacios, mas que certamente , ja sentem o rufar dos tambores e o ruido raivoso da turba que se encaminha para a Bastilha, onde justica sera executada , nais cedo ou um pouco mais tarde. Povo Brasileiro, tomemos o nosso destino em nossas maos, e , viva la revolucion!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  14. Desculpem-me pela expressão a seguir. Quando menino, os adultos só a usavam longe das crianças: =”Mas, isso é uma sarna galega!”- E pergunto, neste caso, “isso” seria o quê? Antes, porém, recorro a Millor Fernandes, em irrefutável crítica aos escritos do futuro Príncipe da Pirataria. Afirma direto que tudo ali é uma barafunda sem limites. Portanto o “isso” é exatamente isto: as vaidosas batatadas do phd, mr. FHC, em suas supremas barafundas sócio-político-neoliberais e quatrocentonas, por adoção, uma vez que reside no elitizadíssimo chão da Higienópolis paulistana, quando na está espairecendo em seu paraíso, no coração da Cidade Luz…

  15. Layla, como professora de História, a estória que deves professar é baseada nas redações GLOBO! Continues, esse é o caminho para o sucesso… fácil, inescrupuloso e conservador. Vá para a Globo!
    Mas, por caridade, não te aproximes das escolas. Lá precisamos de seres pensantes!

    1. Apoiada Vera. Além de tudo, a mulher que se diz professora, escritora e o escambau, escreve errado. Coitados dos alunos dessa criatura.

  16. Interessante. O que a senhora L.F. anda fazendo por aqui? Não deveria a senhora L.F. navegar em outros sítios, mais adequados ao seu perfil direitista e adepto da big house? E se infiltra nos comentários tentando impor sua “opinião” sem o menor constrangimento… Interessante.

  17. Esse Fernando Henrique Cardoso é um grande FDP, tartufo e pouco para ele, escreve um monte de merda, pensando ser um dos maiores pensadores do Brasil, ledo engano, não elege nem um poste, muito menos se elege para sindico do condominio onde mora.

  18. Contra dados e fatos não existem argumentos, o governo PT é bem melhor do que foi o governo do PSDB, e quanto mais FHC fala menos convence. porquer não te calas.

  19. Olha, a derrubada é precipitada? É. Deveriam haver esperado um pouco mais, não só para testes mas talvez para a inauguração do novo túnel. Mas aí entram questões políticas. O Paes sofre uma forte oposição da extrema-esquerda, capitaneada pelo PSOL e pessoas que são contra tudo, inclusive o progresso, para fazer um proselitismo político do mais baixo nível. É a mesma vagabundagem Lacerdista que levou ao suicídio de Getúlio e a mesma esquerda negativa que levou ao golpe de 64. Um exemplo disso é o cara que apareceu no Globo falando que o trânsito sem a perimetral ia ser o pior de toda história do Rio, do Brasil e do MUNDO. Totalmente RIDÍCULO. Será que ele esqueceu do trânsito de SP, Caracas, Xangai? Acho que o Paes ficou com medo que esses abutres aprontassem alguma coisa pra embargar a obra e correu para derrubar o negócio o mais rápido possível. Assim não existe volta atrás. O trânsito de Niterói/São Gonçalo só se resolve com a construção da linha 3 do metrô…o resto é papo furado. Fora disso, o trânsito não foi tão ruim como se previa, inclusive com manifestação e tudo mais. Quero ver aonde está o cara que fez aquelas previsões fatalistas. Deve fazer parte da campanha antecipada do Freixo.

  20. Alguém ainda espera coisa melhor da revista Veja? Há anos deixei de assinar esse lixo e já fiz muita gente deixar também. Lixo se descarta e não paga para levar para casa.

  21. Seria uma “trolagem” da (com a) Veja? Trolagem do pânico? Não duvido! Claro que existem Alexanders por aí. Mas ao ver o vídeo, o cara era tão caricato que pode ser sim uma “pegadinha do malandro”.

  22. Seria uma “trolagem” da (com a) Veja? Trolagem do pânico? Não duvido! Claro que existem Alexanders por aí. Mas ao ver o vídeo, o cara era tão caricato que pode ser sim uma “pegadinha do malandro”.

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