A chamada “economia de manual” – a história está cheia de exemplos – não funciona sempre. Mas, no médio e longo prazo acaba, sim, mostrando que fundamentos econômicos influem no desempenho das atividades de produção, serviços e comercialização.
E as esfuziantes predições de um ‘pibão’ para 2021 – como está fazendo o mercado financeiro, estimando em 4,85% o crescimento do PIB – estão, por isso, longe de ser algo seguro, inevitável mesmo.
Um por um, os sinais são contraditórios a isto.
Hoje, haverá uma nova alta de juros: para 4,35% ao ano ou até 4,5%, segundo as expectativas. Em qualquer dos casos, é o dobro do que se praticava no terceiro e quarto semestres de 2020, quando a economia retomou, ainda que parcialmente, do tombo da pandemia, a partir de março. Juro alto, claro, é um contravapor na expansão econômica.
Também a inflação sobe e não há nada que indique que vá frear a queda logo: cessou a queda registrada no dólar desde o início do mês, o petróleo segue em alta, o preço dos alimentos ensaia uma retomada, depois do “refresco” dos últimos meses – e hoje mesmo subiu o gás necessário para prepará-los: 5,9 no GLP, o gás de botijão, e 4,58% no canalizado. A energia elétrica, todos sabem, já tem o impulso da bandeira vermelha fase 2 e pode ter mais aumentos em razão da seca que aponta para problemas de, pelo menos, quedas de energia no país, senão de algum racionamento.
Considere também que energia (elétrica e fóssil) em alta empurram para cima os custos de produção – sobretudo a industrial – e logística, em geral.
Tudo isso fez com que a elevação de preços para as camadas mais pobres da população venha se acelerando – 8,91%, segundo divulga o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea. É valor bem próximo dos 8,896% registrados pelo IBGE no INPC, que mede a inflação para famílias com renda de 1 a 5 salários-mínimos, cerva de 50% das famílias brasileiras.
Só isso praticamente anula os efeitos do novo e parco auxílio emergencial, mínima mitigação de um desemprego que se aproxima dos 15%
Inflação em alta, juros idem e desemprego também, não costumam ser sinais de crescimento da economia.
Agora tempere tudo isso com a possibilidade, cada vez mais presente, de um novo agravamento da pandemia e duvide das previsões de um crescimento “espantoso” da economia que, nem mesmo pelo efeito estatístico da queda da economia em 2020 deverá ser atingido.