Há pouca repercussão na mídia do resultado da pesquisa Ipec (o ex-Ibope) divulgada na noite de ontem e que, registrou-se aqui, indica que Lula segue no limiar de uma vitória em primeiro turno, pois os 44% que se lhe atribuem, no cômputo dos votos válidos, equivalem a 51,8%.
Isso, é claro, não quer dizer que Lula vá ganhar no 1° turno mas que pode vir a obter este resultado importantíssimo para que o país exorcize os riscos de um golpe de força para “melar” o processo eleitoral.
O dado político da pesquisa é que, na prática, ela foi um banho de água fria para a campanha de Bolsonaro, que esperava um resultado abaixo de 10 pontos de diferença para sustentar a ideia de que o seu “pacote de bondades”, a queda no preço da gasolina e a repercussão de sua “guerra religiosa” teriam gerado uma iminente situação de “virada eleitoral” sobre o favoritismo de Lula.
E isso, pelo menos nesta pesquisa Ipec, não ocorreu, ainda que o discurso da maioria dos comentaristas políticos de viés conservador insista na tese – desamparada pelos números gerais – de que Bolsonaro cresce entre os pobres e evangélicos. Se isso é verdade – e sim, pode ser numa escala menor – deverá ser verdade, também, que Lula cresce em outros grupos e que, pequenas perdas são recuperáveis em um eleitorado que não lhe é hostil, à medida em que a campanha desmistificar as explorações religiosas e fixar que a eleição do ex-presidente é a melhor garantia da continuidade de programas de transferência de renda, marca de seus governos.
A estratégia política do conservadorismo – e a grande mídia o expressa – é, neste momento (e já há tempos, quando estimulava a tal 3ª Via), evitar uma vitória de Lula no 1° turno, o que, na sua visão, daria um capital político indesejável ao ex-presidente, por significar uma aprovação majoritária a quem, para eles, sempre foi uma figura a ser destruída.
Por isso, mesmo estando em desalinho com o atual presidente, sua estratégia confunde-se com a da extrema direita, que precisa não apenas não perder em 1° turno, como estreitar muito esta diferença, para sustentar o discurso do “nós, o povo” e o de alegar uma fraude eleitoral que “justifique” o golpismo.
É por isso que, na grande mídia o resultado da pesquisa é tratado com muita discrição e como situação provisória – as bondades presidenciais “ainda” não surtiram efeito – mesmo que não haja fato novo a justificar tamanha expectativa de reversão do quadro eleitoral que há mais de um ano se apresenta estável.
Não se descarte, portanto, que se joguem pedras no lago para produzirem-se “ondas”. E contam, para isso, com a eterna presença dos fracos, que não hesitam nunca em produzir sussurros de intriga em campanhas vitoriosas, como forma de ganharem espaço na mídia e se apresentarem como “gênios” aos quais se devesse o sucesso.
A imagem de Lula é sua trajetória, é o que seus governos significaram em progresso, em avanços civilizatórios. Quem precisa de factoides é Bolsonaro.