Embora já prevista pelo mercado financeiro, em razão das recentes declarações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, a elevação da taxa Selic, que baliza os “juros oficiais” em “apenas” 1% – passando a 6,25% ao ano – revela um sinal preocupante: o de recessão ou, ao menos, estagnação da economia.
Com o ritmo atual, a Selic findará o ano em 8,25% ao ano, caso se repita a mesma elevação no fim de outubro e em dezembro, as duas últimas reuniões do ano, ainda abaixo dos mais de 9% ou até 10% que o índice da inflação de 2020 e, portanto, num cenário que, em tese, não colabora com a redução da desvalorização da moeda, o que os economistas chamam de “contracionismo econômico”.
É isso que evitou uma alta ainda maior nos juros, que chegou a ser prevista em 1,25 e até 1,5%, quando se acreditava que o BC aplicaria um choque antiinflacionário, em busca de voltar à política de atendimento às metas para 2022.
O Banco Central ponderou que isso levaria a uma desaceleração da economia, algo já no radar do mercado, que reduz violentamente as perspectivas do PIB de 2022, já tendendo a apenas 1% de expansão ou menos, um terço do que se esperava meses atrás.
Escolheu o que acha ser “mais do mesmo”: inflação alta, real depreciado e consumo quase estagnado.
Os riscos, internos e externos, seguem altos: dança da chuva contra a crise hídrica, improviso fiscal e o “rompe-teto” eleitoral de Bolsonaro em busca da reeleição, com a “conta de chegar” da pedalada fiscal dos precatórios saindo via Câmara e Senado em troca da manutenção das emendas eleitoreiras das emenda parlamentares.
Externamente, torcem os dedos para que problemas na economia chinesa não reduzam o mercado de commodities e que a inflação norte-americana, como já sinaliza o Federal Reserve, não leve a uma elevação dos juros daquele país, hoje em zero diante de um inflação que caminha para 5% anuais, um escândalos para o padrão dos EUA.
Internamente, para que a crise hídrica arrefeça e que o desequilíbrio cambial não leve a novos aumentos dos combustíveis com os preços do petróleo em alta e o câmbio que não cede.
O plano de voo do BC é não chacoalhar a situação difícil da economia, até agora. Veremos o quanto haverá de “autonomia” quando a porca eleitoral começar a torcer o rabo.