A juventude sem bússola

Embora qualquer leitura dos resultados da pesquisa do Jornal do Brasil  sobre as intenções de voto presidencial no Rio de Janeiro sofra da mesma indefinição que as eleições padecem, depois do atropelamento do processo político pelos bulldozers do Judiciário – até mais forte aqui pela demolição ter atingido o PMDB de Sérgio Cabral com muito mais força que em outros estados – há algumas coisas, nela, que devem ser destacadas.

A primeira delas é que as intenções de voto de Jair Bolsonaro e de Lula, embora situadas em polos opostos, pertencem, em boa parte, ao campo do inconformismo.

O grave é que o inconformismo, infelizmente, ganhou ares de estupidez.

No detalhamento da pesquisa, encontra-se algo que deveria assustar os que acham que a pauta “identitária” traria a juventude para “a esquerda”.

Bolsonaro só consegue este resultado porque lidera com folgada margem entre os jovens: 34,3% contra 18,8% de Lula entre os de 16 a 24 anos e 29,9% a 19,9% nos de 25 a 34 anos.

Por mais que possa haver distorção nos dados, o que explica que, ainda que seja uma adesão superficial e volátil, tantos jovens manifestem simpatia pelo discurso dos saudosos da ditadura, da brutalidade e da solução a bala dos problemas sociais?

Fica a reflexão para os que transformam as questões políticas em arena do passionalismo individual. Defender os direitos dos negros, dos homo ou polissexuais, das mulheres e de qualquer “segmento” da sociedade, quando feito de per si apenas, é sempre perder um pouco da ideia de coletividade, de povo, de destino comum.

Dividir-nos, dividir-nos, dividir-nos, criar separações que sejam vistas como maiores que nossa identidade humana é estratégia da direita, tanto que a mídia, sua principal ferramenta ideológica se apossou disso e não cessa de ofuscar nossas mentes.

A sociedade contemporânea nem é tribal nem megacosmopolita, exceto em guetos sociais, e reage negativamente a isso.

O “purismo”, a intolerância, a incapacidade de aceitar-nos como essencialmente iguais levam a um paradoxo: o de pretender  ou desejar a destruição do diferente.

A direita, desde Hitler, sempre foi capaz de instrumentalizar isso.

E a esquerda não atenta que ainda não se criou nenhuma idéia coletiva mais generosa e democrática que a de povo, que reúne, necessariamente, todas as diferenças em uma igualdade política.

Nos fechamos em nossos umbigos, em nossas “tretas” e o fascismo avança.

 

 

 

Fernando Brito:

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  • Essa tendência de jovens declararem que pretendem votar nessa nulidade apenas demonstra o desmanche geral da EDUCAÇÃO e da baixíssima qualidade da programação das tvs abertas, com seus programas vomitando sangue nas tardes desse país. Como entender que jovens defendam o ataque a minorias e aos "diferentes". Quando eu era jovem, na faculdade em MG, eu queria era mudar o mundo, torna-lo melhor, mais fraterno, eu lutava e apanhava da polícia por que defendia mais verbas para educação para que mais jovens pudessem ter o que eu tinha: acesso a uma universidade. E agora ver essa tendência faz a gente ter vontade de chorar de desgosto.

    • Concordo mas preferia falar em ausência entre nós de uma verdadeira cultura cidadã e democrática do que em educação de um modo mais geral. Mesmo porque é possível constatar a preferência do voto em Bolsonaro não só em pessoas com pouca ou nenhuma educação formal, mas também para espanto geral em muitas outras com sólida formação educacional. É triste e bastante preocupante tudo isso, mas são águas passadas de um rio que vai se precipitar logo ali na frente.

      • A classe MERDIA pensa que é muito RICA e os pobres tambem pensam isto a respeito dela. Aí surge uma luta de classes abobada, de dois grupos pensando o mesmo, e combatendo o grupo oposto. Mas, esta classe media cava seu próprio tumulo, pois quanto maior o numero de pobres, mais assaltos e a esta classe MERDIA, pois os ricos andam de helicóptero e não de carro. Vamos chegar ligeirinho na PROFECIA do Stephan (60% de miseráveis) e o assalto será a única saida. E, logicamente será nos carros e residências da CLASSE MERDIA. Ela cava seu próprio túmulo. E, ao invés de educação, os pobres tem de investir em técnicas de assalto e roubos. E assaltar casas de armas. Nada de livros.

      • Policarpo, vou falar por mim, os eleitores de Bolsonaro que eu vejo, são tudo classe média alta, raríssimas exceções.

  • O desmonte da Educação Pública no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, já começa a produzir os efeitos esperados pelas elites: uma parte considerável de nossa juventude carente de conhecimento histórico ensaia "ficar"! com o fascismo de Bolsonaro.

    Juventude sem Futuro lança-se ao abismo no Presente.

  • O desmonte da Educação Pública no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, já começa a produzir os efeitos esperados pelas elites: uma parte considerável de nossa juventude carente de conhecimento histórico ensaia "ficar"! com o fascismo de Bolsonaro.

    Parabéns Globo, Aécio Neves e Sérgio Moro, na tentativa frustada de desconstruir o Lula, vocês pariram o fascismo de Bolsonaro

    Juventude sem Futuro lança-se ao abismo no Presente.

  • Vejo com preocupação igual a formação de grupos homogêneos, que se opõem em bloco aos diferentes. Vejo neojudeus brasileiros (que nada têm a ver com o judaísmo) mas que se identificam com as ideias de "povo escolhido", "fé escolhida", e que coexistem em comunidades exclusivas de fé, trabalho, educação, lazer (tvs, rádios, música próprios), casamento, e todos os outros campos. Vejo uma (há mais certamente) república judiciária formada há 2 ou 3 gerações em estados dos sul, todos enredados nos mesmos princípios, objetivos, escolas, funções públicas e privadas, métodos de ação, casamentos e sociedades privadas. O antídoto é a praça pública; a escola pública; a saúde pública; o lazer público: a coexistência na polis.

  • Os eleitores do Rio de Janeiro não diferem em nada dos eleitores de São Paulo.
    Ninguém sabe qual o eleitor mais TAPADO.
    PQP !

  • Fernando, não é culpa dos militantes dos movimentos sociais, que agem conforme a consciência que formaram das inúmeras formas das injustiças brasileiras, a falta de consciência, cultura e solidariedade de tantos jovens que não leem, não conhecem a História do Brasil, não saem de suas bolhas e de seus espaços de privilégios. São eles os que mais precisam se educar para a democracia. Não mande sentar quem levou 500 anos tentando se levantar.

    • Nossa, sim.
      E mais, a esquerda simplesmente não existe sem as minorias - mulheres, negras e negros, gays e lésbicas.
      Mulheres negras são a maioria da população nacional, e também a parte mais explorada dessa população. Como a pessoa pode se dizer de esquerda e não perceber que é um problema que uma grande maioria de homens brancos comandem o campo político da esquerda?
      O problema não são as mulheres e homens negros, lésbicas e gays tendo voz - talvez o problema seja a parte da esquerda que os tenta calar a todo custo.

      • Rosilda, desde quando eu deixei de apoiar os movimentos de "minorias" ( porque mulheres sequer são minoria, mas até maioria)? Opririmidas cultural e o politicamente, sim, mas não minoroa, né? Muito menos que tivessem e tenham voz, como voz deve ter qualquer pessoa. Os movimentos de libertação jamais podem excluí-los, do contrário estaria reproduzindo mecanismos de opressão. Agora, dizer que "parte da esquerda que os tenta calar a todo custo" é de uma miopia (a propósito, sou míope) imensa. Se eu aceitasse este raciocínio, estaria louvando a Rede Globo porque protege - da boca para fora - minorias. Mas sempre, como disse no post, no sentido de segmentar as nossas lutas de libertação. Dividir para reinar é regra muito antiga, mas ainda eficiente.

        • O termo minoria não tem somente essa conotação, literal, numérica (até estranhei essa afirmação rasa vinda de vc). Estou falando obviamente de minoria no sentido político. No mais, não disse que vc deixa de apoiar minorias. Só que várias vezes já vi essa menção negativa a movimentos "identitários", o que quer que isso signifique para vc (eu realmente não sei, esse termo não me parece ser unívoco também, portanto não há ironia nessa afirmação). Mas o vejo associando esse termo ao movimento negro ou ao feminismo. Quem está estabelecendo essa divisão? Como eu disse no primeiro comentário, que mulheres negras não sejam a maioria das líderes da esquerda deveria causar incômodo.

  • JUÍZES E PROCURADORES NÃO SÃO SANTOS (Eu já sabia)

    Um grupo formado por 800 agentes públicos do Legislativo, Executivo e Judiciário começou a ser investigado pela Receita Federal. Os auditores fiscais suspeitam do aumento patrimonial deles e pretendem fazer um grande pente-fino. A ideia é descobrir e evitar crimes como ocultação de bens, corrupção e lavagem de dinheiro. A lista tem pelo menos 50 parlamentares, chefes de governo, juízes, procuradores e os próprios auditores fiscais. As informações são do jornal O Estado de São Paulo

    O órgão vai iniciar suas apurações e, caso encontre indícios de crime fora do campo tributário, a orientação será encaminhar o caso para o Ministério Público e a Polícia Federal. Somente na Lava Jato, Ararath e Zelotes, a Receita instaurou 3.416 procedimentos fiscais que geraram R$ 14,7 bilhões em autuações em impostos, multas e juros não pagos.

    MAIS SOBRE O ASSUNTO
    MPF investiga fraude em empresas de limpeza e vigilância do DF
    Documentos sobre investigações são encontrados em caçamba de lixo
    A análise de investigações anteriores por parte da Receita mostrou que, normalmente, as fraudes tributárias estão associadas a esquemas com a utilização de laranjas com a finalidade de ocultar o patrimônio e lavar dinheiro público desviado.

    Ao alcance da Receita estão informações sobre movimentações bancárias, vendas de imóveis, contratações de autônomos, movimentação com cartão de crédito, contratos de câmbios e todo tipo de dado sobre pessoas físicas e jurídicas.

    https://www.metropoles.com/brasil/pente-fino-receita-cria-grupo-para-investigar-800-agentes-publicos

  • Essa pequisas são engraçadas não vejo ninguém falar do Bozomico, nas ruas ou nos Botecos, é salões de madames.

  • Fui um dos que saudou a volta do JB, mas essa pesquisa não me parece confiável. Outras virão nas próximas semanas e duvido que os resultados sejam aderente ao dessa que foi divulgada.

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