Leandro Fortes: “há motivos para temores dos aliados de FHC”

Reproduzimos abaixo um artigo de Leandro Fortes publicado na edição desta semana da Carta Capital sobre o lançamento do novo livro de Palmério Dória, O príncipe da privataria. Fortes faz alguns comentários muito interessantes sobre o que livro traz sobre o escândalo do filho  de Fernando Henrique com uma jornalista da Globo, assunto mantido em segredo pela emissora por muitos anos.

Trecho do artigo:

“Há razão para os temores dos aliados de FHC. Na obra, Dória reconstituiu um assunto que os tucanos prefeririam ver enterrado: a compra de votos no Congresso para a emenda da reeleição que favorecia o ex-presidente. E detalha o “golpe da barriga” que o deixou refém das Organizações Globo, em especial, e do resto da mídia durante seus dois mandatos.”

Carta Capital n˚ 764

As Desventuras do Príncipe

Lançamento: Livro sobre a compra de votos para a emenda da reeleição e o caso extraconjugal de FHC alvoroçam os tucanos

Por Leandro Fortes, na Carta Capital

A obra chega às livrarias no sábado 31, mas antes mesmo de sua publicação tem causado desconforto no ninho tucano. Luiz Fernando Emediato, publisher da Geração Editorial, responsável pela edição, tem recebido recados. O último, poucos dias atrás, foi direto: um cacique do PSDB telefonou ao editor para pedir o cancelamento do livro e avisou que a legenda havia contratado um advogado para impedir a publicação, caso o apelo não fosse atendido.

Tanto alvoroço deve-se ao lançamento de O Príncipe da Privataria – A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição, do jornalista Palmério Dória. O título da obra faz alusão à alcunha de “príncipe dos sociólogos”, sugestão de amigos do ex-presidente, e ao termo privataria, menção ao processo de privatização comandado pelo PSDB nos anos 1990 e eternizado por outra obra da Geração Editorial, A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.

Há razão para os temores dos aliados de FHC. Na obra, Dória reconstituiu um assunto que os tucanos prefeririam ver enterrado: a compra de votos no Congresso para a emenda da reeleição que favorecia o ex-presidente. E detalha o “golpe da barriga” que o deixou refém das Organizações Globo, em especial, e do resto da mídia durante seus dois mandatos.
A maior novidade é a confirmação da identidade do Senhor X, a fonte anônima responsável pela denúncia do esquema de compra de votos para a emenda da reeleição. O ex-deputado federal Narciso Mendes, do PP do Acre, precisou passar por uma experiência pessoal dolorosa (esteve entre a vida e a morte depois de uma cirurgia) para aceitar expor-se e contar novos detalhes do esquema.

A operação, explica Mendes no livro, foi montada para garantir a permanência de FHC na Presidência e fazer valer o projeto de 20 anos de poder dos tucanos. Para tanto, segundo o ex-parlamentar, foram subornados centenas de parlamentares, e não apenas a meia dúzia de gatos-pingados identificados pelo jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, autor das reportagens que apresentaram em 1997 as gravações realizadas pelo Senhor X, apelido criado pelo repórter para preservar a identidade do colaborador, então deputado do antigo PPB.

Os mentores da operação que pagou 200 mil reais a cada deputado comprado para aprovar a reeleição, diz o Senhor X, foram os falecidos Sergio Motta, ex-ministro das Comunicações, e Luís Eduardo Magalhães, filho de Antonio Carlos Magalhães e então presidente da Câmara dos Deputados. Em maio de 1997, a Folha publicou a primeira reportagem com a transcrição da gravação de uma conversa entre os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre. No áudio, a dupla confessava ter recebido dinheiro para votar a favor da emenda. Naquele momento, o projeto tinha sido aprovado na Câmara e encaminhado para votação no Senado.

À época, a oposição liderada pelo PT tentou instalar uma CPI para apurar as denúncias. Mendes resume os acontecimentos a Dória e ao jornalista Mylton Severiano, que participou das entrevistas com o ex-deputado em Rio Branco: “Nem o Sérgio Motta queria CPI, nem o Fernando Henrique queria CPI, nem o Luís Eduardo Magalhães queria CPI, ninguém queria. Sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos”.

E assim aconteceu. A denúncia foi analisada por uma única comissão de sindicância no Congresso, que apresentou um relatório contrário à instalação de uma CPI. O assunto foi enviado ao Ministério Público Federal (MPF), então sob o comando de Geraldo Brindeiro. O procurador fez jus ao apelido de “engavetador-geral”, nascido da sua reconhecida leniência em investigar casos de corrupção do governo FHC. O MP nunca instalou um processo de investigação, a mídia nunca demonstrou o furor investigatório que a notabilizaria nestes anos de administração do PT e o Congresso aprovou a emenda, apesar da fraude.

O Príncipe da Privataria tenta reconstituir os passos da história que levou uma repórter da TV Globo em Brasília, a catarinense Miriam Dutra, a um longo exílio de oito anos na Europa. Repleta de detalhes, a obra reconstituiu o marco zero dessa trama, “nalgum dia do primeiro trimestre de 1991”, quando o jornalista Rubem Azevedo Lima, ao caminhar por um dos corredores do Senado, ouviu gritos do gabinete do então senador Fernando Henrique Cardoso. “Rameira, ponha-se daqui pra fora!”, bradava o então parlamentar, segundo relato de Lima, ex-editorialista da Folha de S.Paulo, enquanto de lá saía a colega da TV Globo, trêmula e às lágrimas. A notícia de um suposto filho bastardo não era apenas um problema familiar, embora não fosse pouco o que o tucano enfrentaria nessa seara. A mulher traída era a socióloga Ruth Cardoso, respeitada no mundo acadêmico e político. O caso extraconjugal poderia atrapalhar os planos futuros do senador. Apesar de se apresentar como um “presidente acidental”, em um tom de desapego, FHC sempre se imaginou fadado ao protagonismo na vida nacional.

Escreve Dória: “Entra em cena um corpo de bombeiros formado por Sérgio Motta, José Serra e Alberico de Souza Cruz – os dois primeiros, cabeças do “projeto presidencial”; o último, diretor de jornalismo da Rede Globo e futuro padrinho da criança”. Motta e Serra bolaram o plano de exílio da jornalista, mas quem tornou possível a operação foi Souza Cruz, de atuação memorável na edição fraudulenta do debate entre Collor e Lula na tevê da família Marinho às vésperas do segundo turno. A edição amiga, comandada diretamente por Roberto Marinho, dono da emissora, e exibida em todos os telejornais do canal, levaria o “caçador de marajás” ao poder. Acusado de corrupção, Collor renunciaria ao mandato para evitar o impeachment.

Miriam Dutra e o bebê foram viver na Europa e o caminho político de FHC foi novamente desinterditado. Poucos anos depois, ele se tornaria ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, surfaria no sucesso do Plano Real, a ponto de renegar a importância do falecido ex-presidente na implementação da estabilidade monetária no País, e venceria a eleição de 1994 no primeiro turno.

Por muito tempo, apesar de o assunto circular nas principais rodas políticas de Norte a Sul, Leste e Oeste, imperou nos principais meios de comunicação um bloqueio a respeito do relacionamento entre o presidente e a repórter. Há um pressuposto não totalmente verdadeiro de que a mídia brasileira evita menções à vida particular dos políticos, ao contrário das práticas jornalísticas nos EUA e Reino Unido. Não totalmente verdadeiro, pois a regra volta e meia é ignorada quando se trata dos adversários dessa mesma mídia.

No fim, o esforço para proteger FHC mostrou-se patético. Só depois da morte de Ruth Cardoso, em 2008, o ex-presidente decidiu assumir a paternidade do filho da jornalista. Mas um teste de DNA, feito por pressão dos herdeiros do tucano, provou que a criança não era dele.

Dória entrevistou inúmera personalidades, entre elas o ex-presidente da República Itamar Franco, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes e o senador Pedro Simon, do PMDB. Os três, por variadas razões, fizeram revelações polêmicas sobre FHC e o quadro político brasileiro. Há outras declarações pouco abonadoras da conduta do ex-presidente. A obra trata ainda do processo de privatização, da tentativa de venda da Petrobras e do plano de entrega da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil ao setor privado. “O livro mostra que FHC é um caso de crime continuado”, resume o autor.

miriam-fhc

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51 respostas

  1. Tem gente ingenua ou mal-intencionada que acredita que o PT seguiu a cartilha do PSDB na compra de parlamentares… Pergunto: Cadê as provas ?!? E não me venham com ilações !! O que o PT fez foi CAIXA 2, como todo o partido brasileiro faz, infelizmente. Nunca existiu mensalão, a não ser nas mentes distorcidas da oposição sem votos, que precisa demonizar o PT de qualquer maneira para ter alguma chance de voltar ao poder. O resto é luar de Paquetá, BABALUUUUUUUUU e mimimimimimimi de TUCANALHAS quadrilheiros, propineiros, privateiros e mensaleiros…..

    ANOS tuKKKânus LEWINSKYânus NUNCA MAIS !!! NO PASSARÁN !! VIVA GENOÍNO !! VIVA ZÈ DIRCEU !! VIVA A LIBERDADE, A DEMOCRACIA E A LEGALIDADE !! VIVA LULA !! VIVA DILMA !! VIVA O PT !! VIVA O BRASIL SOBERANO !! LIBERDADE PARA JULIAN ASSANGE, BRADLEY MANNING e EDWARD SNOWDEN JÀ !! FORA YOANI !! ABAIXO A DITADURA DO STF gloBoBBBalizado e sua JU$TI$$A BURGUESA !! ABAIXO A GRANDE MÍDIA EMPRESARIAL & SEUS LACAIOS e ASSECLAS !! CPI DA PRIVATARIA TUCANA, JÁ !! LEI DE MÍDIAS, JÁ !! “O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO – O que passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

    1. YACOV, ESTAMOS VIVENDO EM UMA DEMOCRACIA. ACEITO A SUA OPINIÃO, MAS NÃO CONCORDO COM ELA. NÃO APOIO CORRUPTO NENHUM, DE QUALQUER PARTIDO. QUANDO CHEGAREM AS PROVAS CONTRA POLÍTICOS DO PSDB OU QUALQUER OUTRO PARTIDO, AÍ SIM, VOU ELIMINAR AQUELE POLÍTICO DAS MINHAS INTENÇÕES DE VOTO. O PROBLEMA NO BRASIL NÃO SÃO OS PARTIDOS E SIM, OS POLÍTICOS QUE NÓS VOTAMOS NELES. O DIA QUE O POVO COMEÇAR A ELIMINÁ-LOS DA POLÍTICA, O PAÍS PODERÁ MELHORAR.

      1. “QUANDO CHEGAREM AS PROVAS CONTRA POLÍTICOS DO PSDB OU QUALQUER OUTRO PARTIDO, AÍ SIM, VOU ELIMINAR AQUELE POLÍTICO DAS MINHAS INTENÇÕES DE VOTO.”

        Na revista Veja vc não vai achar nada sobre a corrupção do psdb, fique certo disso, hehe

  2. Caixa 2 é da essência do processo politico eleitoral brasileiro. Elege-se aquele que receber milhões oriundos do financiamento privado. E quem tem o dinheiro apoia aquele que se compromete quando no poder em defender seus interesses. Marina, Eduardo Campos, Aécio precisarão de muito dinheiro para terem chance no processo eleitoral. Somente assim conseguirão atrair aliados poderosos. Que por sua vez exigirão parte do quinhão arrecadado. Depois de eleito, as sobras serão distribuídas entre aliados presos em uma aliança espúria. Cada um sabe o podre do outro e pode se tornar inimigo com poder de destruição. Portanto, exemplo crasso de mensalão é o da aprovação da emenda da reeleição, que ficara impune, porque quem tem padrinho não morre pagão. Que o diga Dantas que recebeu 2 Hcs do Gilmar do STF. No Brasil continua sendo uns mais iguais que outros. Tudo como antes no quartel do Abrantes. Os coxinhas não passam de inocentes uteis na guerra pelo poder.

  3. Gente, pelo visto o golpe da barridão do Ricardão em cima de fhc foi armação para tona-lo refem da Globo. Miriam jornalista da Globo serviu como arapuca. Na realidade, a ram… armou para fhc. Capaz do filho ser do amarinho, o bob. E quem se lascou literalmente foi o povo brasileiro,que pagou a conta da barriga. Dá um filme em “Roliúde”.

    1. Os presidente latino-americanos da época dele estão presos ou exilados, FHHC anda livre, leve e solto, além de ser bajulado pelo PiG.

  4. Para o Arceu..
    Vamos privatizar tudo, a começar pela água.
    Eles vão cercar toda água que você usa para beber.
    Impedindo por lei, que você abra um poço no fundo de sua casa.
    A água do sub solo é deles.
    A água para energia elétrica é deles, assim a energia vai ser mais cara.
    Eles vão desviar rios para abastecer as grandes reservas.
    Vão vender água por litro.
    Vão cortar a hora que quiserem para suas manutenções.
    Mais eles não querem o esgoto.
    Esgoto vai ser outra fábrica, que se você não pagar, vão bloquear a saída.
    Esta Estória que tudo de ruim é politico, é desculpa de aleijado..Muleta.
    Se liga, antes de dar opinião…senão os caras te engolem…
    Qualquer dia é o ar…

  5. Se o título fosse, O Príncipe dos Pilantras, dos meliantes, dos corruptos, dos plagiadores, também, estaria de bom tamanho.

  6. Até pode privatizar, mas a preço de banana? Muito político ficou rico com a privataria, que foi uma verdadeira palhaçada! Nem empresa da iniciativa privada é sinônimo de lisura, haja visto o escândalo com altos executivos da Siemens e Alston, além de outras empresas envolvidas.

    1. Verdade o que disse sobre empresas privadas terem o manto invisível da lisura, basta ver os campeões de reclamação do consumidor: bancos, telefonia, planos de saúde, etc… todos privados.

  7. Agora o livro está confirmando que esse tucanato, e a imprensa que os protegem, não valem absolutamente nada. Gostaria que a jornalista viesse a público explicar o caso. Acusaram o PT e agora como fica?, esses tucanos são o lixo da politica.

  8. Miriam Dutra é espertissima: a mulher que enganou o presidente, enganou a poderosa rede globo, enganou todo mundo e assegurou um futuro garantido pra si e pro seu filho.
    FHC é o cúmulo do idiota. Por causa dessa imbecilidade galopante ficou refém da Globo durante todo seu mandato, causou enorme sofrimento e tristeza à sua digna esposa Ruth pelo suposto filho “por fora”, assumiu legalmente um filho que não era seu e ainda prejudicou seus legítimos herdeiros.
    O pai verdadeiro do guri deve dar muitas gargalhadas até hoje sabendo que seu filho ficou rico por causa de um bobo ex presidente que aceitou ser “pai” do filho terceirizado.

    1. Eu não acredito na esperteza apenas da Miriam Dutra. Acredito que o Alberico Souza Cruz tramou tudo desde o sexo com sua jornalista.

  9. Tinha é que se levantar se ele é culpado de tais atos expostos nesses processos, se sim mandá-lo de volta, pois já chega os corruptos daqui, ainda vamos importar mais um.

  10. E não é que justamente um personagem cujo nome é Narciso é o responsável pela nova imagem que o ex-presidente, pai de aluguel do Plano Real e do Tomás, verá ao consultar o seu espelho platinado de águas profundas e rasas ideias?

    É Fantástico!

  11. Tinha é que se levantar se ele é culpado de tais atos expostos nesses processos, se sim mandá-lo de volta, pois já chega os corruptos daqui, ainda vamos importar mais um.

  12. Realmente até quando estes jornalecos darão a notícia da maneira que querem, sem ouvir o outro lado, sem investigação, só mentiras com uma única finalidade: impedir a reeleição do governo que aí está, eleito pelo povo? Estes jornalecos tem que acabar….

  13. A verdade vos libertara…”69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango como ótimo (15%), bom (30%) e regular (24%). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo, fazendo eco dos jornais.”

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