Leva ele para casa, Trump

Jair Bolsonaro deve estar eufórico.

Num só dia, conseguiu ser capa da revista The Economist e ser elogiado por seu herói, Donald Trump.

Que o chamou, inclusive, de “Trump Tropical”.

Pouco importa que a revista o tenha colocado como alguém que se projeta à sombra de um governante caricato, que virou chacota no mundo e que esteja às voltas, agora, com o FBI por ter surrupiado documentos ultrassecretos.

Muito menos que ele esteja respondendo por subversão da ordem democrática por ter insuflado a invasão do Capitólio.

Ou que o ex-guru trumpista (e de seu filho, Eduardo) Steve Bannon tenha se entregado hoje à polícia de Nova York, envolvido no que a Justiça diz ser um esquema de fraude de financiamento coletivo.

E também não liga que Trump tenha, afinal, perdido as reeleição, algo difícil nos Estados Unidos, sobretudo concorrendo com um candidato fraco como Joe Biden.

Convenhamos que ele tem motivos para este júbilo.

Bolsonaro superou Trump na escala dos chefes de estados mais impensáveis no século 21.

Nunca alguém tão tosco conseguiu ajoelhar as instituições brasileiras no grito, pondo a seus pés generais, deputados e juízes, que, por servidão, interesse ou medo, se prostram diante de um atropelo à lei que fica impune.

Nunca um sujeito tão medíocre e sem qualquer ideia que não seja a repetição de ameaças velhas como as da Guerra Fria e a citação oportunistas de Deus conseguiu arrastar tanta gente para a rua.

Nunca um idiota tão rematado tornou-se símbolo mundial e caricato de um país que, até uma década atrás surgia como objeto de admiração mundial.

Vai ser vencido, tomara que já daqui a 23 dias, mas pode ser considerado vitorioso por ter tornado piores milhões de brasileiros.

“O homem que queria ser rei”, que inspira a capa da The Economist, deveria ser visto por quem não o viu ou não se recorda do filme de John Huston sobre a obra de Rudyard Kipling.

Daniel Dravot, o personagem de Sean Connery, é tomado como um deus, um “mito” no reino do Kafiristão, porque recebeu uma flechada e não sangrou. E isso era um sinal divino. Assim, lá, tudo pode. Mas, no auge deste poder, o desmascaram e ele tem de fugir às carreiras, pelas encostas, pela própria vida.

Não se pede tanto. Quem sabe o ex-presidente norte-americano o leve para Mar-a-Lago, seu clube exótico na Flórida, para exibi-lo como o Tropical Trump?

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