Longe demais para um recuo rápido

Dizem os jornais que “parte” das lideranças do movimento dos caminhoneiros estaria disposta a acatar o pedido de trégua feito pelo Governo Federal.

Até agora, porém, esta “parte” não tem nome ou sobrenome, o que não é nada estranho, pois ao lado do que há de justiça nas dificuldades dos autônomos, há o interesse de empresários que controlam a maior parte da frota de caminhões pertence a empresas – sejam as que usam no transporte de produtos próprios, seja as que usam veículos próprios para o transporte de produtos alheios. Para estes empresários, diesel mais barato é lucro.

Há, ainda, o componente ideológico do segmento, muito bem investigado pela BBC em reportagem publicada hoje (veja a imagem do post):

A BBC Brasil entrou em cinco grupos fechados criados em redes sociais por caminhoneiros para difundir informações sobre a greve. Em todos eles, frases de apoio a militares começaram a ganhar força nos últimos dias.
“As reações à greve dos caminhoneiros, amplamente apoiada pela população, demonstram que o brasileiro está sem paciência alguma com as ‘autoridades’. As condições são ideais para uma verdadeira revolução que refunde o Brasil. Mas onde está a liderança desse processo? Escrevam no para-brisa dos caminhões e carros. Intervenção militar!”, diz uma das mais replicada.

Diante disso, não creio que, existindo, estas lideranças não se arriscariam a pedir que se dissolvessem manifestações que transcorrem sem qualquer repressão e que, do ponto de vista político e midiática, está vencendo a luta.

Obter uma redução de 10% no preço do diesel, convenhamos, pode não resolver os problemas, mas é uma vitória.

O mais provável é que trabalhem para esvaziar progressivamente as manifestações.

Mandar desfazer os bloqueios seria falar a surdos.

O problema é que, com a histeria causada pela mídia, os ânimos se acirraram, os estoques se acabaram e a anormalidade continuará mesmo com um desfecho relativamente rápido da crise.

E, na atual situação, rápido é na semana que vem, apenas.

Fernando Brito:

View Comments (59)

  • Os caminhoneiros precisam defender é que o pré-sal e a Petrobras sejam do povo brasileiro e não de especuladores nacionais e internacionais. Os preços abusivos sao frutos de interesses gananciosos do tal de mercado

    • Eles pensam que existe uma entidade chamada "Os Militares". Esta entidade como um corpo único não existe.

      • Hahahahaha... tipo o Chapolim Verde Oliva. E agora? Quem poderá nos defender???

        • Por falar nisso, será que o Parente é da cota inglesa do golpe? A BBC tinha mais era que fazer uma ressonância magnética jornalística na cabeça do Parente e uma investigação profunda e detalhada do Conselho Administrativo Interventor da Petrobras. Isso interessa ao povo brasileiro e muito.

  • O caos se alastra. Em breve poderemos ver hordas de imigrantes brasileiros invadindo a Venezuela.

    • Foi no que deu a opção de trocar a matriz ferroviária pelos caminhões.

        • Viviane, é só pesquisar a guinada da matriz dos transportes no período inicial da ditadura dos milicos e o avanço da Ford, GM, Chrysler e Mercedes na produção de caminhões (aliás todos umas tranqueiras de pouca capacidade de tração para o volume de carga autorizado, mas assim feito para colocar um grande número deles nas estradas, para viabilizar a implosão do sistema ferroviário). Fica também patente a ação das montadoras americanas (GM, Ford E Chrysler) e da Volkswagen, que estabeleceram um oligopólio, para impulsionando o transporte rodoviário de cargas, criar a infra-estrutura de rodovias que favoreceria a expansão do mercado de automóveis.
          Antes da crise do petróleo de 1972, o transporte ferroviário de cargas era 6 vezes mais barato do que o rodoviário. Isto é foi intencional e não efeito inesperado a escolha do sistema rodoviário mais caro como a matriz de movimentação de cargas no Brasil. Com o detalhe entre patético e sórdido de que a bitola das vias férreas brasileiras foi mantida estreita (a mesma bitola dos tempos das maria-fumaças, que torna os trens instáveis e inviabiliza velocidades maiores) com a justificativa de impedir uma invasão militar argentina por via férrea.

  • Com esse desabastecimento, até os veganos vão ter que repensar a dieta...ou comer Ervilha Jurema em lata (é o que ainda deve ter nos supermercados).

  • A última informação é que rápido é em quinze dias. Trabalho em Volta Redonda e moro no Rio, vou e volto semanalmente. Na volta, hoje, a Dutra parecia um autorama. Poucos carros e NENHUM caminhão. No km 204, point da manifestação anunciado até pelos banners eletrônicos da concessionária CCR, muitos caminhões de poucas empresas, e faixas toscas dizendo "Nós não roubamos a Petrobrás", Como diriam coxinhas, patos e subpatos. É lockout ou não é? Nossa esperança é que o Brasil não tem a limitação geográfica espremida entre o oceano e uma cordilheira, como tinha o Chile em 1973, e ainda tem. E temos hoje a comunicação digital, que o Chile não tinha em 1973. A greve atual está dividida entre a associação dos autônomos e a patronal. Segundo um dirigente da CTB, há uma "aliança" entre os caminhoneiros autônomos e as patronais, que estariam "sendo levadas a aderir". 80% são levados por 20% de "estradeiros", muitos destes individualistas bolsonaristas, estendendo faixas pedindo a intervenção militar? É lockout ou não é?

    • Há diversos oportunistas tentando tomar a bandeira dos caminhoneiros. Os fascistas entram com faixas pedindo intervenção. Certos conservadores tipo Globo se preocupam em dizer que a culpa de tudo é a corrupção. Falar que a culpada de tudo é da Dilma também tem seus defensores, mas é uma tese que está sem muitos adeptos. O importante é que o miolo do movimento continua incólume. A greve vem do fato de que para encher o tanque de um caminhão um caminhoneiro está gastando mil reais. Como é que ele vai sustentar sua família, se os gastos com seu caminhão custam mais do que ele ganha? Ou se os gastos do caminhão e mais o lucro do patrão o deixa quase sem alimentação? Esta, e não outra, é a razão da greve.

      • Há 80% da frota nas mãos de empresas, os outros 20% são autônomos desorganizados, entre os quais bolsonaristas abundam, Ninguém é idiota de dizer que a reclamação não é justa, mas é lockout. Esta é exatamente a lógica:do lockout de transportes: motorista insatisfeito + patrão do motorista insatisfeito = blackout de combustíveis, alimentação, transportes, remédios, etc. = insatisfação popular desorganizada = rebelião + quebra-quebra = intervenção militar. Como se não bastassem Castello Branco, Costa e Silva, Médici, e o "mago" Golbery. Me poupe.

        • Concordo com os comentários. É uma GREVE LOCAUTE (os patrões com a queda da demanda estão sentindo a diminuição dos lucros com o preço do diesel, e os empregados além de abastecer com o diesel caro não tem como cobrar frete alto para compensar os custos). Quando a demanda estava aquecida e dólar baixo tudo estava tranquitlo, agora que os custos começaram a pesar no bolso de ambos os lados, querem repassar o custo do prejuízo para o governo (tirando impostos). Resumindo: quando as coisas vão bem, acionistas e empreendores privados embolsam os lucros, quando as coisas vão mal querem que o Estado banque o prejuizo. Só existe um problema nessa solução a longo prazo (que já está ocorrendo mundo afora): a medida que o Estado vai sendo descapitalizado (perdendo receita), cada vez mais não pode bancar as falhas da tal "livre concorrencia". O que vai acontecer quando não houver mais "imposto" a ser retirado ( alguém acredita que o dólar vai continuar calminho??) e o combustivel continuar subindo?? E o governo (federal e estadual) como vai poder bancar as contas, com as receitas em processo de evaporação??Bem vindos ao capitalismo selvagem.

    • Muito bem, Armando Flávio Rodrigues, pela sua lúcida e bem colocada visão desse movimento oportunista, que deseja, na verdade, é criar condições objetivas e subjetivas para a intervenção militar. Não bastou a de 1964, cujos desacertos na área da edução, da saúde, do transporte e também na área da segurança, para citar apenas as mais importantes, trouxeram consequências muito danosas e muito graves para todo o povo deste pobre e agora desprotegido país. Tiraram do ensino médio, durante mais de vinte anos, as matérias que contribuíam para levar as pessoas à reflexão; destruíram a nossa rede ferroviária, em lugar de ampliá-la e modernizá-la, eis que este país é de extensão continental, e colocaram o Brasil dependendo dos caminhões e do alto consumo de combustível para o transporte de todos os produtos necessários à vida e ao conforto mínimo da população, além de com isso infernizar o trânsito domésticos de todos; e, na saúde, abriram as porteiras para as empresas estrangeiras com os seus indecentes planos de saúde; quanto à segurança, é essa tragédia que os militares deixaram para todos. E ainda querem agora, esses alienados, manipulados e os comprometidos com a roubalheira, que os militares voltem. São todos desonestos ou loucos de pedra na mão. Parabéns, repito, lúcido e inteligente Armando Flávio Rodrigues.

    • ... o que é bug?
      Só sei que na página do DCM "'tá' tudo 'zampeta'"!...

    • Tem sido recorrente, normalmente falha no dns ou banco de dados, sempre do lado do servidor. Bem "estranho".

  • quando faltar papel higiênico a papelada do governo terá utilidade inédita

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