Uma “palinha”, como se dizia no meu tempo, de mais um bela crônica de um sujeito que uma dia compreenderá que a História só se entrega à sua dura e incerta caminhada se tiver a voz dos poetas a animá-la, os que façam perceber a grandeza das derrotas e lhe retire a soberba nas vitórias. Marceu põe lado a lado a trajetória de um vice que assumiu (e com votos), João Goulart, e morreu só por seus sonhos e outro, que se prepara para usurpar, badalado e assediado por suas ambições.
Reproduzo um trecho e remeto ao seu blog, que precisamos fazer que não se cale, em nome da delicadeza humana, matéria já escassa neste país e que ameaça virar prêmio de loteria, de tão rara, nos tempos estúpidos em que nos desventuramos.
E a delicadeza humana é o nosso coração, o único que, se destruído, é capaz de nos matar. Do resto, a gente escapa, alguma hora.
Sobre sonhos que não se realizam
Marceu Veira, em seu blog
Daqui a pouco mais de sete meses, no dia 6 de dezembro, uma terça-feira de Lua minguante, como informa o calendário, vai fazer 40 anos que Jango morreu. Eu era uma criança num país subjugado pela ditadura militar, e nem sabia da existência dele. Muito menos soube da morte dele na época.
Entretido nas brincadeiras de um quintal vasto e cheio de crianças, entre goiabeiras, mamoeiros, uma amendoeira, dois abacateiros, um pé de abiu, um de romã, um de pitanga, ignorava o país real que prendia, torturava e matava quem ousasse desafiar seus subjugadores.
Hoje, à custa daqueles presos, torturados e mortos, meus filhos têm liberdade e conseguem saber o que vai no Brasil e construir sua própria opinião – pra minha alegria, convergente com a minha.
Naquele Brasil em que eu fui criança, naquele país em que Jango morreu, não era assim. Na escola, não se falava dele, nem de seus sonhos, tampouco se informou de sua morte.
Derrubado da Presidência pelos generais de 1964, herdeiro político de Getúlio Vargas, Jango, como eu saberia mais tarde, estava no exílio da Argentina às 2h45 de uma madrugada de domingo pra segunda-feira quando seu coração parou de bater, fulminado por um enfarte.
Um enfarte que, segundo seus amigos, havia se elaborando aos poucos em seu peito no curso de 12 anos de solidão no exílio.
Tinha 58 anos de idade quando morreu. Havia chegado à Presidência da República aos 43. Com 35, já era ministro do Trabalho de Vargas. Desterrado de seu país, morava em Corrientes, província do município de Mercedes, na Argentina.
Seu corpo atravessou a fronteira brasileira ainda na tarde de 6 de dezembro de 1976. Entrou no país pela Ponte Internacional de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, acompanhado por um cortejo de carros e sonhos. Sonhos que jamais viraram realidade.
O número redondo do aniversário de sua morte, em dezembro, será apenas uma coincidência. Um emblema pra quem, volta e meia, tenta imaginar o país que teria sido o de Jango e, por causa do golpe, não chegou a ser. O Brasil que só existiu no projeto – e, antes de nascer, foi abortado.
No dia seguinte ao do enfarte de Jango, Carlos Castello Branco, o Castellinho, com quem eu dividiria a mesma redação muitos anos depois, escreveu no “Jornal do Brasil”: “Poucos políticos foram tão cruamente julgados por seus contemporâneos, sobretudo depois de deposto.”
E ainda: “João Goulart se imaginou um pioneiro da revolução social do Brasil. E, certamente, deve ter morrido na expectativa de que a História será com ele mais amena do que seus contemporâneos.”
Hoje, a amenidade que a História dedica a Jango é a do esquecimento. Seu modelo de Brasil estatal se amofinou e desmoronou a cada privatização da era tucana. O trabalhismo que representava foi dizimado primeiro na ditadura e, em seguida, na própria democracia, eleição após eleição.
Antigos companheiros de luta, salvo um ou outro, estão mortos ou também esquecidos. Sua vida, sua trajetória, seu sonho, nada disso virou algo além de um túmulo na sua São Borja, no Rio Grande do Sul. Sua memória, como ele próprio tinha sido em vida, foi degredada e desterrada.
Grande proprietário rural, Jango governou o Brasil pensando na reforma agrária. Se daria certo ou não, jamais se saberá. Aquele Brasil não houve. Deposto, teve a intenção devastada.
O que de mais relevante ocorreu no setor agrário brasileiro desde sua morte foi o massacre de 19 trabalhadores sem-terra em Eldorado dos Carajás, no Sul do Pará, em 1996. Fernando Henrique Cardoso governava o país. O massacre, cometido por 150 policiais militares, completou 20 anos no último 17 de abril.
Pois o Brasil do quadragésimo aniversário da morte de Jango conspira por um lugar curioso na História universal – o daquele que agrediu violentamente a democracia com base em recursos constitucionais.
O Brasil do quadragésimo aniversário da morte de Jango vive, enfim, a expectativa da derrubada de Dilma e da ascensão de Michel Temer.
Produtor de maus políticos em larga escala, este Brasil assiste ao julgamento da presidente como quem vê um filme já sabendo seu final. Um julgamento que, para o espanto da imprensa lá de fora, mas não a daqui, é conduzido justamente pelos mesmos maus políticos que esta terra não se cansa de produzir, não se cansa de produzir, não se cansa de produzir.
Dilma é julgada por transgressões fiscais, mas será condenada por crimes que não cometeu. Envergonha o silêncio da grande imprensa brasileira sobre isso. A grande imprensa brasileira estava amordaçada na morte de Jango. Agora não está. Diz o que quer. Ou deixa de dizer o que não quer dizer.
Quem queria o Brasil de Jango, quando havia Jango no Brasil, sabia o país que poderia vir a ser com ele. Quem quer o Brasil de Temer não parece se importar com o Brasil que será. Basta que não seja o de Dilma.
É previsível o país que será o de Temer. Ainda será injusto na distribuição de sua riqueza. Ou, provavelmente, será ainda mais injusto. Continuará repartindo mal as oportunidades. Os pretos não deixarão de ser maioria nas prisões ou onde mais a indigência se faz presente.
Sem Dilma, e com Temer, a saúde pública não vai melhorar. Permanecerá indecente. O trem que sacode todo dia lotado de gente pobre ainda será assim. O país seguirá refém dos infortúnios que o assombram.
O fim da corrupção, desejo alegado por quem quer Temer na cadeira de Dilma, não vai acontecer. A corrupção, possivelmente, só terá menos visibilidade – porque já haverá um cristo na cruz pra salvar a classe política de todos os pecados.
Siga lendo no Blog do Marceu Vieira.
22 respostas
Viva Jango que vive no coração daqueles que são verdadeiros democratas. À luta amanhã com Dilma e Lula em Sampa e em várias cidades do Brasil todo. Ver programa e horários no Viomundo do Azenha. #NaoVaiTerTemer
#Dilma Fica!
Michel Temer/ Francis Underwood em “House of Cards” depois de ter traído o presidente e assumindo a presidência da república:
“Me tornei presidente sem ter um recebido um voto… Viva a democracia”.
Temer recebeu os mesmos 54 milhões de votos que Dilma recebeu!
[Lutar pela Legalidade, antes de o caminho ser uma guerra civil!
As contas do governo da presidenta Dilma Rousseff – exercício 2015 – sequer foram julgadas pelo TCU ]
GRAZZIOTIN PEDE SUSPENSÃO DE IMPEACHMENT ATÉ JULGAMENTO DAS CONTAS
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentou nesta sexta (29) questão de ordem à Comissão Especial do Impeachment no Senado na qual pede a suspensão do processo na comissão até que as contas presidenciais de 2015 sejam julgadas pelo Congresso Nacional; “Os fatos constantes da denúncia sobre a qual esta comissão deverá se debruçar refere-se a condutas de 2015. Pasmem, o exercício de 2105 sequer havia se encerrado, mas o senhor presidente da Câmara, fazendo pouco caso da carta política, resolveu receber tal peça acusatória no início de dezembro de 2015”, disse
29 DE ABRIL DE 2016 ÀS 20:34
(…)
FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/229204/Grazziotin-pede-suspens%C3%A3o-de-impeachment-at%C3%A9-julgamento-das-contas.htm
Agora estão vindo com conversa mole de que se Dilma tivesse chamado o Meirelles o golpe não teria acontecido. É ingenuidade demais. Se tivesse acontecido, Meirelles estaria demonizado e o golpe viria de qualquer maneira. É preciso entender que o golpe viria de qualquer jeito, nem que fosse da quarta frota de um país estrangeiro estacionada diante da costa brasileira. Resta saber quais as outras exigências internacionais do golpe, além da derrubada da Dilma e da posse do Présal . Desconfio que sejam o enterramento dos projetos de defesa das Forças Armadas e a destruição completa do Partido dos Trabalhadores.
Prezado e consciente Tomás!
Permita-me assinar embaixo!
Parabéns!
É verdade, vejam só, criar uma lamúria em função da não nomeação do plutocrata Henrique Meirelles!
***
A falta que fez Meirelles
Por jornalista Leonardo Attuch
30 de Abril de 2016
(…)
FONTE: http://www.brasil247.com/pt/blog/leonardoattuch/229228/A-falta-que-fez-Meirelles.htm
Até que enfim alguém que não repete mantras inúteis.
Viva Django Livre! Um dos melhores filmes de Tarantino!
Você realmente pensa isso? Por que torce pela bancada ruralista, apoiadores do seu golpe de estado, então?
E vc ainda se diz democrata.
Fico tentando entender onde é que a esquerda errou depois da queda da ditadura, se errou. Abandonamos o sonho coletivo para alcançarmos o sucesso pessoal? Os que chegaram ao poder se fecharam em bolhas burocráticas? Em nome da liberdade individual abandonamos a política? Aceitamos as meias verdades, logo as meias mentiras? Ou, em função das mazelas sociais crônicas, aceitamos um passo de cada vez?
Se alguém tiver alguma dica, sou todo ouvidos.
… A meu modesto ver, a partir da aceitação bovina por parte da maioria absoluta dos petistas – incluindo os que estavam/estão diretamente no poder – foi uma das grandes “deixas” para o avanço das ações criminosas dos direitistas safados e inescrupulosos…
O PT deixou à míngua da execração absoluta os grandes líderes José Genoino Neto [do Brasil], José Dirceu, Henrique Pizzolato, João Paulo Cunha…
Depois do julgamento de exceção do Mentirão sob a batuta IMUNDA do rábula psicopata ‘joaquim apê em Miami via Mossack Fonseca barbosa’, os petistas continuaram a se preocupar com as próximas eleições e com a governança…
… A meu modesto ver, a partir da aceitação bovina por parte da maioria absoluta dos petistas – incluindo os que estavam/estão diretamente entronados no poder – acerca da patifaria que foi o julgamento de exceção do Mentirão…
Ainda acho que há algo anterior à chegada do PT ao poder…
Denúncia: Comunicação do Senado some com declaração de Janaina Paschoal contra Temer
Por conspícuo e impávido jornalista Miguel do Rosário
30/04/2016
Esse golpe se torna cada vez mais patético…
De um internauta atento:
Sabemos que muita gente ainda não acredita que existe uma intervenção na Comunicação do Senado.
Então perguntamos por que será que o Jornal do Senado e o Portal do Senado simplesmente ‘esqueceram’ da pergunta em que o senador Randolfe levou a advogada Janaina Paschoal a admitir que Temer deveria sofrer processo de impeachment???
Enquanto até a ‘imprensa golpista’ noticiou o fato com algum destaque, procurem QUALQUER menção à admissão da DRA Janaina nos veículos do Senado.
(…)
FONTE [LÍMPIDA!]: blog ‘O Cafezinho’
… Um pouco da infância atordoada da “jurista do golpe” Janaína
https://www.youtube.com/watch?v=Cv8yaMTewYA
Cunha fez “chantagem explícita”, diz Miguel Reale Júnior
Um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, jurista afirma que o presidente da Câmara “escreveu certo por linhas tortas”
Publicado Quinta-Feira, 03 de Dezembro de 2015
O jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Roussef que foi aceito nesta quarta-feira (2) pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que o deputado “escreveu certo por linhas tortas”. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
“Não foi coincidência que Cunha tenha decidido acolher o impeachment no momento em que deputados do PT decidiram votar favoravelmente à sua cassação no Conselho de Ética. Foi uma chantagem explícita, mas Cunha escreveu certo por linhas tortas”, afirmou o jurista, segundo o jornal.
(…)
FONTE: http://www.cenariomt.com.br/noticia/489128/cunha-fez-chantagem-explicita-diz-reale-junior.html
“A jurista do golpe fascista” indigitando o ‘CU(nha) do Reale!”
http://images.jovempan.uol.com.br/tAV8sIpiTm2wbT8ilWYAiMV3AYY=/media.jovempan.uol.com.br/archives/2015/10/12/1152512859-janina-paschoal-advogada-jurista-doutora-em-direito-penal-2012.jpeg
A última frase desta reportagem foi sensacional, toca fundo na alma dos que lutam, como eu, por mais justiça, mais igualdade, mais representatividade da nossa raça, a raça brasileira. Ainda mais, seguida de menções a Jango, que foi um dos líderes preferidos do meu pai, fundador do PTB de Vargas em uma cidadezinha pequena aqui de Santa Catarina, lá pelos idos de 1959. Cresci, escutando aquela poesia que ele recitava todos os dias de enaltecimento ao verdadeiro PTB,
esperando pelo seu maior ídolo que foi Brizola.Morreu sem o prazer de reve-lo em 1975. Mas deixou em mim os ensinamentos dos grandes líderes da sua época. E hoje ver a direita retomar o poder da forma como estão tomando, e dolorido, mas suportável. Estamos perdendo uma batalha, mas jamais a guerra. Vamos continuar na linha de frente, combatendo o inimigo, até restabelecermos a ordem democrática em nosso país. Golpes passam, mas o sonho dos iluminados e decentes jamais se extinguirá. Coragem Dilma, Força Lula e toda a esquerda nacional. Em breve retornaremos.
Rui, muito bom ver alguém com sua experiência que não se deixa levar pelos mantras de muitos aqui nesse espaço que como urubus/papagaios passam seus dias a trucidar o PT, a Dilma e o Lula. Tédio.
Cada um de nós pode fazer renascer o sonho e a verdade. Como esta estudante aqui https://www.youtube.com/watch?v=mUlWkWP4BaU. O Brasil de hoje sonha e realiza.
Sugiro a biografia do JANGO, escrita pelo prof. JORGE FERREIRA, da UFF