Médico para medicina pública?Um atentado à liberdade, não?

Prepare-se a Presidenta Dilma Rousseff: será violenta a reação ao anúncio feito hoje de que os médicos precisarão fazer os dois anos de residência médica – porque é isso a extensão do curso de Medicina anunciada – em hospitais e serviços públicos de saúde, sem poderem, antes disso, trabalhar em clínicas ou possuírem consultórios próprios ou em sociedade.

É, aliás, essa a realidade dos formandos em medicina que, por vocação ou falta de esquemas familiares de colocação “por cima”, iniciam suas carreiras no atendimento duro e difícil das periferias ou regiões carentes.

Para eles, nenhuma diferença senão a de terem garantida a residência com uma remuneração bem maior que as eventuais bolsas que possam conseguir – quando conseguem – e haver um acopanhamento acadêmico superior ao que existe hoje – quando existe. Ninguém vai poder se dizer prejudicado, porque a medida só vale para quem iniciar o curso de Medicina em 2015.

Nem mesmo os que prestam vestibular este ano podem reclamar, portanto. Mas haverá, infelizmente, uma grita, provinda de dois lados.

O primeiro, dos que encaram a medicina como um “investimento privado”, no qual aplicam muito tempo e dinheiro e do qual esperam retorno rápido e farto e a garantia de um negócio familiar que prosperou – sem demérito algum para a capacidade dos profissionais que o fizeram prosperar – e no qual se tornarão sucessores e herdeiros.

O segundo, de bons profissionais, pessoas corretas, mas que não conseguem alcançar o universo extra-corporação e perceber que o processo de elitização e privatização da saúde brasileira, de alguma forma, produziu efeitos sobre as mentes de muitos profissionais.

A crescente partição da medicina em especialidades, a mercantilização dos exames laboratoriais e de imagem, as disputas comerciais entre os planos de saúde, todas elas fizeram se perder, em parte, que a finalidade precípua da Medicina é cuidar da saúde da população em geral e que o médico, mais do que qualquer estrutura sanitária, é a peça chave sem a qual nada disso funciona.

Segui essa ordem de raciocínio porque, afinal, não quero que pessoas de bem digam que estou de “carneirice” com o Governo Federal porque coloco em primeiro plano que se tenha médicos em quantidade suficiente para dar atendimento à população das periferias e dos grotões brasileiros. Porque tudo isso que se falou acima é algo que só em 2021 passa a ter efeitos práticos.

Pra já, agora, como precisam as pessoas, o que vale é o processo de contratação de médicos, com pagamento de R$ 10 mil, para atuar carentes de profissionais. O número de vagas ainda é incerto, mas deve passar de oito mil. Todas as prefeituras podem apresentar suas necessidades de pessoal médico, mas a prioridade 1.582 áreas. sendo 1.290 delas em municípios de alta vulnerabilidade social, 201 cidades de regiões metropolitanas, 66 cidades com mais de 80 mil habitantes de baixa receita pública per capita e 25 distritos de saúde indígena.

Tudo por editais públicos. No primeiro, as cidades pedem os médicos. No segundo, as vagas se abrem para profissionais brasileiros formados aqui ou no exterior mas aprovados no Revalida, como agora. Depois, para médicos brasileiros formados no estrangeiros sem o Revalida e, por últimos, profissionais estrangeiros. Os dois últimos grupos serão avaliados e treinados para as missões que lhes serão atribuídas. Podem vir de qualquer país com proporção de médicos por habitante maior que a brasileira, inclusive os cubanos que tanto horror provocam.

Na infraestrutura médica, Dilma Rousseff anunciou que, além de cobrar rapidez no uso dos  R$ 7,4 bilhões já  contratados para construção, reforma e ampliação de 818 hospitais, 601 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e de 15.977 unidades básicas de sáude, o Governo aplicará outros  R$ 5,5 bilhões na construção, reforma e ampliação de unidades básicas e UPAs, além de R$ 2 bilhões na construção de 14 novos hospitais universitários.

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