Não há crise no governo; o que não há é governo

Os números da derrota, praticamente sem resistência, do governo Bolsonaro ontem, na Câmara deveriam, se houvesse algum grau de equilíbrio no ex-capitão, acionar todos os alarmes e sirenes de um iminente desabamento de suas estruturas.

Mas não há.

O que há é a crença, alimentada via Twitter, de que se está se formando uma poderosa onda de repúdio aos políticos que, logo adiante, levará de roldão as resistências parlamentares, por bem ou por mal.

É evidente que, se algo existe, existe apenas no mundo virtual.

Vinícius Torres Freire, hoje, na Folha, pergunta seBolsonaro ” não entende a gravidade do vácuo ou quer um colapso, de propósito”.

Pessoalmente, creio na segunda hipótese.

Não há governo

Vinícius Torres, na Folha

O Congresso está à deriva, no que diz respeito aos interesses do governo.

Alguns ministérios implodem em anarquia vexaminosa.

A Câmara aprovou uma pauta-bomba nuclear, que na prática impede o governo de conter déficits – falta apenas a aprovação do Senado.

Manter o teto de gastos talvez agora dependa da paralisação de parte da máquina pública.

Sem o serviço de bombeiro em tempo integral de Rodrigo Maia, foram detonadas várias bombas.

Nada mais se pode dizer do que será feito da política e, pois, da economia, pois Jair Bolsonaro se omite, quando não agrava a crise.

No Congresso, havia ameaças de derrubar decretos do governo ou de chamar ministros às falas.

Tudo isso, porém, virou picuinha, pois à noite a Câmara aprovou emenda constitucional que impede o Executivo de cortar certas despesas (como investimentos e emendas parlamentares).

Em menos de duas horas, maioria massacrante de deputados votou em dois turnos uma PEC que vai emparedar o governo, caso seja aprovada também no Senado.

De manhã, lideranças de partidos que juntam uns 300 dos 513 deputados até propuseram um novo pacto, mas com uma faca no pescoço do Planalto.

Podaram da reforma previdenciária as mudanças nos benefícios para idosos muito pobres (BPC) e na aposentadoria rural. É um adeus para o trilhão de reais de economia em uma década, plano do ministro Paulo Guedes (Economia). Mas os deputados disseram ao menos que aceitam conversar, nessas novas bases.

O governo, porém, não tinha ordem ou capacidade nem de reagir a esse manifesto que na prática junta a Câmara inteira, afora oposição, o PSL e uns gatos pingados.

Os deputados não querem levar a fama de esfoladores de idosos, ainda mais porque os atingidos pela barragem da reforma da Previdência andam nas calçadas em que ficam os escritórios regionais dos parlamentares. Querem dividir a conta com o Planalto. O governo não está nem aí.

Ainda nesta terça-feira de naufrágio, Guedes ouviu dos governadores que a reforma não anda sem que o governo crie um grupo de negociação, bancado por Bolsonaro.

O ministro prometeu garantias para empréstimos estaduais, antecipação de receitas de privatizações e dinheiro do petróleo (royalties, participações e parte das concessões). Mas governador tem pouco voto no Congresso.

Vendo o tamanho do desarranjo, Guedes reuniu seu pessoal e o que resta de articuladores governistas a fim de nomear ao menos um relator para a reforma previdenciária.

Não vai adiantar muito, pois a Comissão de Constituição e Justiça, onde a reforma tem de começar a tramitar, está em pé de guerra, interna e com o resto da liderança bolsonarista. O governo é omisso.

Deputados governistas faziam troça da desordem.

“O cabaré pegou fogo e o Bolsonaro está lá resolvendo os problemas do Carluxo [Carlos, filho do presidente] na Secom [Secretaria de Comunicação] e recebendo o Flávio [o filho senador], que virou um zumbi”, dizia um deles.

Um parlamentar próximo de Rodrigo Maia se dizia espantado com a ausência presidencial em assuntos críticos.

Falava da anarquia no Ministério da Educação e o “risco” do Ministério do Turismo, “que está para explodir a qualquer momento”.

O ministro Marcelo Antônio é acusado de montar um esquema de candidatos-laranjas do PSL, na eleição de 2018.

Era difícil de entender se o governo espera um milagre, não entende a gravidade do vácuo ou quer um colapso, de propósito.

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18 respostas

  1. O desgoverno Bozo apenas mostra-se, agora, o que muitos já sabiam desde a campanha eleitoral. Não há governo na acepção correta da palavra. Há um balaio de gatos loucos descontrolados, sem rumo algum. O único rumo que se avista é o total colapso da máquina governamental. Até quando o “mercado” e a ala mais burra e atrasada das forças armadas aguentarão carregar essa tremenda “mala sem alça” é que se torna a dúvida mais cruel do momento. O governo não acabou por uma simples razão: JAMAIS iniciou.

  2. Existe uma teoria máxima do caos que afirma que “quanto mais loucura estiver acontecendo, maior será a possibilidade de sustentar o controle no centro, quando a música parar”. Talvez a loucura do desgoverno Bolsonaro seja apenas uma tática introdutória para a implantação da ditadura.

    1. Jânio Quadros tentou isso. Durou sete meses. E olhem que Jânio era desequilibrado mas tinha inteligência, ao contrário do mentecapto que ora ocupa o Planalto. Dilma, embora não haja margem possível de comparação intelectual, ideológica ou de caráter com o Bozo ou com Jânio, também desprezou a importância da articulação política e acabou “presenteada” com Eduardo Cunha e suas pautas-bomba. Nem vamos falar de Collor, que acreditou no poder de seu próprio topete e no discurso do “minha gente”….

      1. Certo… Mas note que, nestes casos, as forças armadas interagiram ocupando o vácuo resultante (à exceção do Collor). Meu receio é que, em caso de radicalização e tomada definitiva do poder por outros militares, estes fechem o Congresso e implantem as “reformas” à forceps, por AI’s e etc…

      2. O fato é que Jânio era apenas Jânio, já nem mais UDN era, enquanto que Bolsonaro não está sozinho. Atrás dele estão as pessoas que bolaram todas as manobras que o levaram ao poder. E boa parte desses estão nos Estados Unidos, ao lado e acima de Olavos e Steve Bannons. São eles que fazem os cálculos com as teorias do caos. E serão eles que monitorarão a implantação da loucura e depois desta a implantação do terror pelo qual Bolsonaro está esperando ansiosamente para então assumir de fato o poder. Ou não. Esta é apenas uma hipótese que pode estar furada em diversos aspectos, mas que não pode deixar de ser considerada.

  3. “ou quer um colapso, de propósito”. A segunda parte é a verdadeira, pois só assim para poder posar de vítima contra a “velha política”.

  4. Me lembrei do filme estrelado por Cláudia Arraia . ” Matou a família e foi ao cinema ” . Milhões e milhões de famílias e também foi ao cinema .

  5. Tchê, esse Bolsonaro lunático acha que vai dar um golpe mesmo. Vai dar é com os burros n’água.
    MAS O que eu queria saber mesmo era o quanto os empresários do tal grupo “Brasil 200” devem para o estado. Eu tenho certeza que essas empresas como Riachuelo, Havan,… devem até as cuecas de INSS e outras coisitas. Só que não vejo a imprensa mostrando isso. Cara, eu realmente acho que temos que mostrar para a poulação o quanto caloteiros, desonestos e corruptos são nossos empresários, especialmente no ramo do varejo. Além é claro do boicote a estas lojas (vocês estão boicotando, por favor né? ridículo ser “Lula Livre” e usar boné da riachuelo!)

  6. Haddad já foi chefe de executivo, tinha um plano de governo bem elaborado para tirar o Brasil do atoleiro, é honesto, sabe das coisas .Preferiram votar no Bozosauro por ódio.Agora quenta.

  7. O resultafo das eleições pegou o clã Bolsonaro desprevinido, o objetivo era eleger os filhos para atraves de peculatos, já usado por eles, para se enriquecerem, foi eleito e está nais perdido que cego em tiroteio, nunca trabalharam e fazem o que sabem, confusão e lambança.

  8. Concordo que Bolsonaro vai prá segunda opção, a zorra total. Mas, não por plano algum, vai porque não conhece outro caminho. Um governo desfuncional e natimorto não seria motivo de maior preocupação ou, ao menos, de preocupação abissal com o futuro se o Brasil fosse uma democracia de fato e se, de fato, as instituições fossem sólidas. Tratar-se-ia (saudades do tempo das mesóclises) apenas de uma substituição, à Jânio, possivelmente. Bozo & Filhos fechavam a bodega e iam com suas tralhas e trastes para outra freguesia, convocava- se noval eleição e vida que segue. O problema é que o causo não resume-se ao ex-Capitão. O buraco é mais embaixo. Como fica o day-after? O Judiciário virado em farrapos, auto-imolado no altar do fora Dilma, fora Lula, fora PT, o Legislativo na mão de Alcolumbre e Pimpão, cercado de representantes da nova política que vai de capitãezinhos-de-mato a ator pornô brocha, passando por doidivanas, siderados e celerados. O maior líder da esquerda preso incomunicável, o candidato derrotado apagado, fazendo uma oposição protocolar e o terceiro mais votado incontrolável em sua ambição pela cadeira do presidente. Logo, do lado da oposição não há plano, também. Sequer o Lula Livre recebe a prioridade que deveria e sequer o caminho mais fácil e óbvio é percorrido com um Fora Bolsonaro. Isso, sem contar que não há qualquer ação consistente e continuada de mobilização da população para lutar por seus interesses e direitos os mais elementares que são postos no lixo, mais e mais, desde o governo de Nosferatu, o Golpista, ora, Nosferatu, o Investigado. Como resultado emergem oportunistas e vendilhões de tudo e de todos, arvorados em pilares da cidadania, próceres da moralidade, guardiões da virtude e até uns que se intitulam anjos do Senhor e outros que não resistem a uma simples consulta psiquiátrica.
    O que há é um vácuo de liderança e um vazio de projetos para a Nação e isso com Capitão ou Sem Capitão, não se resolve fácil.

  9. PITACO DO BORÔ: RODRIGO MAIA APRENDEU MUITO BEM COM O CUNHÃO E COM O PAI. ESTÁ OBRIGANDO O PLANALTO A LIBERAR RECURSOS PARA OS POLITICOS, EM SEGUIDA COMPENSARÁ OS ESTADOS COM AS PERDAS REFERIDAS NA LEI KANDIR E ESTÁ PREPARADO O TERRENO PARA O IMPECHMENT DE BOLSONARO COM MAIS DE QUTROCENTOS E CINQUENTA VOTOS. BRASILIA NÃO É PARA AMADORES.

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