Não vale a pena ver de novo

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Karl Marx (que é  personagem central da filosofia dos séculos XIX e XX, mas agora entrou na relação do “podemos tirar, se achar melhor”, porque o jeito meio energúmeno de ser que tomou conta do pensamento de boa parte da soi-disant “inteligência brasileira” o coloca mais ou menos na mesma posição que o demônio) escreve nas primeiras linhas de “O 18 brumário de Luís Bonaparte“:

Hegel  (Georg Friedrich, filósofo alemão) observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

O meu caro amigo Fernando Molica, hoje, no jornal O Dia, produz uma maravilha de seleção de frases que, para não estragar, deixo que ele explique.

E que mesmo a quem não viu, mostra o estranho déjà-vu da política neste país.

Corrupção, crise, vaias e quartéis

Fernando Molica, em O Dia

.“Ninguém ganha eleição com palmas, comícios e declarações de amor. É preciso organização, trabalho e dinheiro.”

. “Política é negócio — toma lá, dá cá — e até hoje não levei nada nesse negócio.”

 “Apesar da vitória tão incontestável, (…) ameaçaram entrar na Justiça Eleitoral com um pedido de embargo da posse (…).”

. “(…) surpreendeu o país ao anunciar um ministério de perfil (…) conservador.”

. “(…) prometendo dar combate sem trégua à corrente inflacionária (…) ao lado do combate sistemático à corrupção.”

. “À maré de contratempos se somava o pífio desempenho da economia brasileira.”

. “Ante à soma de escândalos, a oposição se dizia estarrecida.”

. “(…) o governo caminhava para o isolamento político. Mostrava-se incapaz de estabelecer um controle efetivo sobre o voto dos aliados, ao mesmo tempo que testemunhava o acirramento progressivo da oposição. Como agravante, via os adversários se aproximarem a passos largos dos quartéis.”

. “Caso ficasse comprovado (…) crime de responsabilidade, (…) daria início a um processo automático de impeachment.”

. “ Ser apupado por uma plateia de senhores encasacados e madames com roupa de festa poderia significar até um elogio, pelo menos para um chefe de governo que fazia da classe trabalhadora o seu principal esteio político. (…). Contudo, (…) já devia saber que o episódio seria um deleite para os adversários.”

As frases estão na imperdível biografia de Getúlio Vargas escrita por Lira Neto. A trilogia chega a ser engraçada — comentários atuais sobre uma suposta “bolivarização” do Brasil são muito parecidos com editorais que acusavam Vargas de preparar um “golpe peronista”, numa referência ao presidente argentino Juan Domingo Perón. A crise terminou numa tragédia que serviria de preliminar para o Golpe de 1964.

A história nunca se repete, mas deve servir de alerta. A oposição tem o direito e o dever de gritar, mas é fundamental manter o juízo e repudiar quaisquer tentações golpistas. Que fiquem no passado bobagens como a pronunciada por Carlos Lacerda: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”

Em tempo. A primeira citação deste texto é de autoria de Alzira Vargas, filha de Getúlio; a segunda, de Ademar de Barros, aquele do “rouba mas faz”.

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22 respostas

  1. “Suposta bolivarização”? Apoio político e financeiro às ditaduras bolivarianas, domínio do Supremo com advogados do próprio Partido, tentativa de subverter o sistema representativo com sovietes não eleitos, tentativa de censurar a imprensa (e censura efetiva através do uso de verbas públicas para punir quem não reza pela cartilha do Partido e financiar blogs de aluguel), o que mais falta para caracterizar a tendência ao “socialismo do século XXI”, como se autointitula o bolivarianismo? Quanto ao Ademar não custa lembrar que no final ele teve o dinheiro levado por assaltantes que sempre roubaram e nunca fizeram.

    1. Enlouqueceste, guri? Tentarás acabar com o estado de direito e com a Constituição do Brasil com esta coleção de argumentos idiotas e insanos? Vai em frente, rapaz pervertido pela direita inescrupulosa, destruidor da liberdade, destruidor de democracias, destruidor de povos, de nações, de países, pago para tal ou doente mental.

    2. “ERNESTO” deixe de assistir à Globo e de ler a Veja. Ainda há tempo de você se recuperar, pois está cientificamente provado que a burrice crônica ou aguda se cura com a leituras de bons livros de História.

    3. Tu tá brincando né cara? Ou tu é apenas um artifício do articulista pra apimentar o debate. Pois na vida real ninguém é tão idiota assim.

  2. De tanto ler sobre a frase “rouba, mas faz” eu comprei livro e li textos sobre Adhemar de Barros e Paulo Maluf. A comparação deve ser feita contra os Tucanos que infelicitam o povo paulista há 20 anos. Como Palmédio Dória: “SÃO PAULO, antes locomotiva do Brasil, com os Tucanos virou ‘Trem Fantasma”. OS TUCANOS se enquadram no “roubam, e nada fazem”.
    Os Governos Lula e Dilma fizeram grandes obras em todos os setores e estão em andamento grandes ferrovias, rodovias, pontes, maior parque eólico das Américas, energia solar. Diminuição da miséria e desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste.
    E as muitas investigações envolvendo os poderosos empresários, políticos, Funcionários e celebridades, como Lava a Jato e principalmente a Operação Zelote só estão acontecendo e só mesmo, por causa dos Governos Lula e Dilma. Como os Tucanos no poder seria “engavetamento a jato”.

  3. Os governos petistas foram tão eficientes em aparelhar o poder judiciário que seus principais lideres acabaram na cadeia, né, sr. ernesto? Enquanto isso seus ídolos “democratas”, que perderam a eleição, surfam na impunidade, graças á lavagem cerebral feito pela mídia amiga e cúmplice sobre a população desavisada. Ainda bem que temos os “blogs de aluguel”, como o sr. diz, que sobrevive de contribuições dos leitores, onde o sr. acaba de escrever suas bobagens provocativas, e sem nada pagar, né, mesmo!

    1. Não, felizmente para a democracia eles também foram incompetentes nessas áreas. Não emplacaram os “conselhos populares”, não conseguiram controlar totalmente a imprensa, etc. Mas no Supremo tiveram mais sucesso, ou tem coisa melhor do que o ex-advogado do Partido julgar seus membros? Sem contar que, no final, os dois novatos livraram o Dirceu e o Genoíno da condenação por quadrilha, num absurdo que permitiu que ambos pegassem penas muito mais leves. Quanto aos blogs de aluguel, não estou me referindo especificamente a este nem estou duvidando que ele seja mantido pelos leitores ou pelo seu proprietário. Mas quanto a PHA, Carta Maior e outros, não recordo os números exatos, mas são milhões de reais doados pelo governo nos últimos anos. Milhões de dinheiro público, não dinheiro particular do PT.

      1. Erneto.Corre,por que AS GENITÁLIAS de rico,são muito escorregadias e tu da sinais de estar com as mãos ensaboadas.E pré-côncavas!

  4. PREZADO BRITO
    Este post e o anterior me fizeram lembrar do que relatei em monografia, há alguns anos, sobre a importante atuação do IBAD na queda de Jango. Qualquer semelhança com os tempos atuais e alguns de seus personagens não parece mera coincidência. Vale lembrar que mais tarde se comprovou a origem dos recursos: a CIA, claro.

    “O Instituto Brasileiro de Ação Democrática foi fundado no Rio de Janeiro, em maio de 1959, por Ivan Hasslocher. Embora neto de um antigo deputado federal e filho de um ex-deputado estadual e ex-embaixador, ele era pouco conhecido nos meios políticos e empresariais do País, pois passara a maior parte de sua vida no exterior, tendo feito bacharelado em Humanidades nos Estados Unidos da América e trabalhado lá e na Europa. De volta ao Brasil, criara, em 1951, a S.A. Incrementadora de Vendas Promotion, uma agência de publicidade de pequeno porte, que, entretanto, como se verá, viria a ter papel importante nos acontecimentos aqui relatados.
    O Ibad era, conforme seu estatuto, uma associação civil, formada com a finalidade principal de fomentar o desenvolvimento da livre empresa.
    … Tudo tinha aparência de normalidade, mas, no dizer do relator da CPI (da Câmara dos Deputados), deputado Pedro Aleixo (UDN-MG), estava cheio de “vícios, irregularidades, defeitos e incorreções que fazem que se duvide da sinceridade dos propósitos de seu criador”.

    João Carlos Ferreira da Silva

  5. Apesar de ouvirmos chavões como “os conservadores”, “a elite conservadora”; esse tipo de apelo é dirigido à população das classes sociais que se encontram abaixo desse grupo. É nelas que esperam encontrar repercussão para esses comentários que foram feitos na época de Getúlio Vargas, mas que parecem com o que está sendo feito atualmente. Denegrir a política e questionar a necessidade dela e dos políticos, no fundo tudo é igual. A ideia de que partidos ou governos progressistas vão introduzir algum tipo de regime autoritário, limitando a liberdade e impedindo direitos, mostra para a população uma visão da política como um fardo. Tudo isso associado à ineficiência dos serviços públicos e a corrupção generalizada, faz da política não a solução, mas a causa dos problemas. Não existe opinião, reflexão sobre nenhum assunto relativo à política, passa-se a aceitar qualquer tipo de crítica sem qualquer contestação. Tudo passa a ser aceito, qualquer pensamento passa a ser defensável, porque as pessoas só olham para o que é mostrado de ruim da política. A palavra conservador passa o entendimento de que vai preservar alguma coisa que está sendo destruída. O pior tipo de política é aquela da qual as pessoas não participam, aquela da qual elas não tomam conhecimento sobre como as coisas são decididas.

    1. Sr.Lando Carlos.O mais grave que existe em relação À POLÍTICA,é o entendimento que muitos tem dela.Política senhor Lando,é o que se faz diuturnamente,em ralação as pessoas com as quais convivemos.Toda a relação social,de qualquer caráter,e FAZER POLÍTICA.Somente não se faz POLÍTICA é no vaso sanitário.Desde que sós!O resto,tudo é política.O dia que as pessoas souberem disso,e se flagrarem que aqueles que negam a Política,querem se utilizar dela,de forma privilegiada,não se falará tão mal de POLÍTICA E DA POLÍTICA.Vem do termo grego,Pólis.Que originou também,o termo metrópolis.Em suma,aglomerado de gente,que em sua inter-relação,fazem POLÍTICA!

  6. Dizem, ironicamente, que nada se cria, tudo se copia. Até nisso, os caras da direita ou neoconservadores são incompetentes, não produzem nada de novo. É o modo brechó da velha politicagem.

      1. Quem, eu não sei.Aí seria criar uma nova liderança, que ainda não foram capazes de criar. Até gostaria de saber. Em linguagem precisamos de um mínimo repertório comum, As referências são necessárias, mas isso não significa copiar e colar como nas novas tecnologias: ferramenta nova, velha e pura imitação. No brechó vendem o rastro da riqueza, muitas vezes uns trastes velhos e fora de moda, mas de marca. No entanto, artistas e pessoas estilosas criam novas histórias com objetos velhos. Na história e na literatura temos recursos fantásticos e usamos o velho como parábola, como crítica, até como repetição desde que num contexto diferente próximo ao nosso tempo ou ao nosso cotidiano. Para isso existe a paráfrase, a paródia e outros recursos capazes de dar um novo sentido com material velho à história atual.Só que para isso é preciso talento, é coisa de artista. A política também já foi considerada uma arte.

        1. Pura verdade, que infelizmente, caminha em paralelo, mas sem entrada, ao que queremos.
          A mim, não vejo saídas próximas, então vou divagando no estilo “Limeirense”.

          Para nosso momento político:
          “Priquito de freira”

          “Montado na sua idéia//
          Tava o velho Zé Limeira//
          Passando a p…na freira//
          Num convento da Judéia//
          Nisso passando uma véia//
          Passou-lhes descompostura//
          Limeira com a p… dura//
          Falou só foi um pouquinho//
          Disse a freira põe tudinho//
          Que eu gosto é da ditadura.

          Zé Lineira avexado//
          Já tava de foigo curto//
          E disse, agora eu suito//
          Mas esfolo esse danado//
          Virou a freira de lado//
          E bateu c’oa vara atrás//
          Disse a freira bote mais!//
          Entre suspiros e ais//
          Disse a freira pro Zé//
          Adoro bicho de pé//
          E os tempos não voltm mais.

          Herodes no outro dia//
          Baixou decreto dizendo//
          O povo fique sabendo//
          Que na minha monarquia//
          Ninguém faça pontaria//
          No priquito d’uma freira//
          Começa segund-feira//
          Ô decreto miserento//
          Fez o nosso presidento//
          Declarava Zé Limeira”//
          (Zé Roberto)

        2. Mulher, sa menina!!! Que aula! Concordo contigo, colega. É preciso mudar o referencial, o instrumental e tudo que nos conduz a uma mesma resposta fácil a problemas semelhantes. Errar de novo, do mesmo jeito que antes, sem aprender nada é pior que deixar as coisas como estão. É ser refém da própria ignorância ou falta de criatividade. Se há um aprendizado realmente válido na História, é que esta só deixa de se repetir – na condição de farsa – quando se muda o ângulo de visão sobre os fatos e sobre as teorias, sobretudo. História não é cartilha, nem receita de bolo. Muito menos massinha de modelar, em que moldamos o passado como nos convém, como pensam nossos intelectuais. Principalmente, lógico, nossos historiadores. Por baixo da cortina da História, há sempre uma alternativa aos relatos. E nem tudo se encaixa ao que parece tão bem concatenado. Sempre há alguém ou algo, ou uma coletividade no período me questão a nos mostrar que pode haver respostas diferentes a um mesmo contexto. Normalmente, tais referências saem de outros sistemas de pensamento: da arte, da fé, da cultura popular… Teria que se apostar nestas leituras, da mesma forma que se apostam nas fórmulas acadêmicas, tão reféns de seu próprio comprometimento ideológico.

  7. Não é de hoje que a esquerda incomoda, e muito! Os golpistas estão sempre prontos para, usando a mídia a seu favor, usar o “tapetão”.

  8. Acho que se Zé Limeira ainda vivesse, diria assim:

    “Viva o sol e viva a lua//
    Viva o povo varoní//
    Nóis instamu é no Brasí//
    A beleza continua//
    A currupição é sua//
    Vô vende minha cerola//
    Com rodela de cebola//
    Só pra isfregá na venta//
    Indo imbora a presidenta//
    Eu elogiála vô-la.”//
    (Zé Roberto)

    “O vento que vem do su//
    Dizem lá, é Minuano//
    É o sopro do tucano//
    Açoite de guatambú//
    E o povo andando nu//
    Já num u que qui faiz//
    Ferreirinha e Farrabraz//
    Se ferraram no repente//
    O PT corre na frente//
    E eu cutucano atráis”
    (Zé Roberto)

  9. “Jesus quando veio ao mundo
    Foi só pra fazê justiça
    Com treze anos de idade
    Discutiu c’oa dotoriça
    Já trinta anos depois
    Sentou praça na puliça”
    (Zé Limeira”

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