Cuidado, generais, porque ‘vale o escrito’

A nota dos ainda chefes das 3 Armas, defendendo que manifestação política (e golpista) diante dos seus quartéis são perfeitamente normais e que os apelos a uma intervenção militar seriam “demandas legais e legítimas da população ” pode, amanhã, ser utilizada em favor de que atos iguais se façam contra a utilização política das Forças Armadas.

O que é, evidente, um despautério. Não passa pela cabeça de ninguém com bom-senso promover comícios diante dos quartéis não seja um convite, por si só, à quebra da ordem democrática, assim como desfilar tanques na Praça dos 3 Poderes não tem outra interpretação senão a de coagir as instituições de governo.

Em nenhum país democrático podem se trancar as portas de quartéis pedindo um golpe e eles deveriam ao menos lembrar de Castello Branco e das vivandeiras que vinham “bulir “com os bivaques.

Manda o juízo que não se ameace com aquilo que não se pode fazer e nada mais impossível neste momento que os militares possam questionar ou reverter o resultado da eleição presidencial

Em 50 dias, terão novos comandos e deveriam estar trabalhando para que esta mudança ocorresse em condições de distensão e naturalidade, no interesse de suas corporações.

Mas, ao sinalizarem ao país como um reduto do bolsonarismo e lenientes com o estado de agitação golpista que este pretende manter, tudo o que conseguirão será uma atitude de afastamento e desconfiança do novo governo.

A nota dos comandantes faz pior ainda, ao apelar para que o Legislativo faça “corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.”

De que liberdade exatamente se trata? A de incitar aos bloqueios de estrada, a de pregar um golpe militar, a de chamar uma ministra da Corte Suprema de “arrombada”, como fez Roberto Jefferson ou a de ameaçar com surra outros ministros? Será que suas generalências considerariam “liberdade de expressão” que a eles isso se dissesse?

Convém lembrar aos atuais comandantes das Forças Armadas a regra do jogo do bicho: “vale o escrito”.

Associando-se politicamente a Jair Bolsonaro, tornaram-se sócios de sua derrota, o que não tinham o direito de fazer, pelas suas responsabilidades com a República e com suas corporações.

E, ao já ir embora, o presidente cessante não deve e não pode fazer com que as Forças Armadas entrem num torvelinho de desprestígio, porque não é honroso ser prestigiado apenas por quem as vê como instrumento de seu banditismo antidemocrático.

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